domingo, 27 de setembro de 2009

Sutra do Lotus 1o parte

Este trabalho foi realizado a partir da traducao inglesa de Burton Watson.
Traducao para portugues - Joao Rodrigues




Capítulo I: Introdução
Assim eu ouvi:
Certa época estava Buddha em Rajagriha, no monte Gridhrakuta. A acompanhá-lo estava uma multidão de monges em número de doze mil. Todos eram Arhats cujas falhas tinham chegado ao fim, sem mais desejos mundanos, que haviam alcançado o que era de sua vantagem, pondo fim às cadeias da existência, e cujas mentes haviam obtido um estado de liberdade.
Os seus nomes eram Ajanota Kaudinya, Mahakashiapa, Uruvilvakashiapa, Gaiakashiapa, Nadikashiapa, Shariputra, Grande Maudgalyayana, Mahakatyayana, Anirudda, Kapphina, Gavampati, Revata, Pilindavatsa, Bakkula, Mahakaushtila, Nanda, Sundarananda, Purna Maitrayaniputra, Subhuti, Ananda e Rahula. Todos eram como estes, grandes Arhats bem conhecidos .
Ali estavam também duas mil pessoas, algumas das quais ainda estavam a aprender e outras tinham completado o seu aprendizado.
Ali estava a monja Mahaprajapati com seis mil seguidoras. Aí estava também a mãe de Rahula, a monja Yashodhara, com suas seguidoras.
Ali estavam bodhisattvas e mahasattvas, dezoito mil, todos sem regressão na sua busca por anuttara-samyak-sambodhi. Todos tinham ganhado dharanis e eram eloquentes, tendo-se deleitado na pregação, fazendo girar a irreversível Roda da Lei. Tinham feito ofertas a centenas de milhares de Buddhas, na presença de vários Buddhas tinham plantado numerosas raízes de virtude, tendo sido constantemente louvados pelos Buddhas, treinaram-se na compaixão, sendo valorosos a entrar na sabedoria Búddhica, penetraram completamente a grande sabedoria atingindo assim a outra margem. A sua fama espalhou-se através de mundos incomensuráveis e foram capazes de salvar incontáveis centenas de milhares de seres viventes.
Os seus nomes eram Bodhisattva Manjushri, Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo [Avalokitesvara], Bodhisattva Investido da Grande Autoridade, Bodhisattva Esforço Constante, Bodhisattva Sem Descanso, Bodhisattva Palmeira de Jóias, Bodhisattva Rei da Medicina, Bodhisattva Dador Intrépido, Bodhisattva Lua de Jóias, Bodhisattva Luar, Bodhisattva Plenilúnio, Bodhisattva Grande Força, Bodhisattva Força Imensurável, Bodhisattva Transcendência do Triplo Mundo, Bodhisattva Bhradrapala, Bodhisattva Maitreya, Bodhisattva Tesouro de Jóias e Bodhisattva Grande Líder. Bodhisattvas e mahasattvas como estes em número de dezoito mil tinham acorrido.
Nessa altura, o Indra Shakra Devanam com os seus seguidores, vinte mil filhos de deuses, também acorreram. Aí estavam também os filhos dos deuses Lua Rara, Fragrância Penetrante, Brilho de Jóias, e os quatro Grandes Reis Celestiais, com os seus seguidores, dez mil filhos de deuses.
Estavam presentes os filhos dos deuses Liberdade e Grande Liberdade com seus seguidores, trinta mil filhos de deuses. Estavam presentes o Rei Brahma, Senhor do mundo Saha, o grande Brahma Shikhin e o grande Brahma Brilho Luminoso, todos com os seus seguidores, doze mil filhos de deuses.
Aí estavam oito Reis dragões, o Rei dragão Nanda, o Rei dragão Upananda, o Rei dragão Sagara, o Rei dragão Vasuki, o Rei dragão Takshaka, o Rei dragão Anavatapta, o Rei dragão Manasvin, o Rei dragão Uptalaka, cada um com várias centenas de milhares de seguidores.
Aí estavam quatro reis kimnara, o Rei kimnara Grande Lei e o Rei kimnara Sustentando a Lei, cada um com várias centenas de milhares de seguidores.
Aí estavam quatro reis asura, o Rei asura Balin, o Rei asura Kharaskandha, o Rei asura Vemachitrin e o Rei asura Rahu, cada um com várias centenas de milhares de seguidores.
Aí estavam também quatro reis garuda, o Rei garuda Grande Magestade, o Rei garuda Grande Corpo, o Rei garuda Grande Plenitude e o Rei garuda Satisfação dos Desejos, cada um com várias centenas de milhares de seguidores.
Cada um destes, depois de se prostrar em reverência aos pés de Buddha, recuou e tomou assento a um lado.
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, rodeado pelos quatro tipos de crentes, recebeu oferendas e sinais de respeito e foi honrado e louvado. Em prol dos bodhisattvas, pregou o sutra do Grande Veículo intitulado Incomensuráveis Significados, uma Lei para instruir os bodhisattvas, uma Lei que é guardada e mantida em mente pelos Buddhas.
Quando Buddha acabou de pregar este sutra, sentou-se em posição de lótus e entrou no samadhi do Lugar de Incomensuráveis Significados, seu corpo e mente imóveis. Nesse momento, caiu do céu uma chuva de flores de mandarava, de grandes flores de mandarava, de flores de manjushaka e de grandes flores de manjushaka, espalhando-se sobre Buddha e sobre a grande assembleia e todo o mundo Búddhico estremeceu em seis direcções diferentes.
Nessa altura os monges, monjas, irmãos e irmãs leigos, seres celestiais, dragões, yakshas, gandarvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos bem como os reis piedosos e os reis sábios, todos na grande assembleia, tendo ganhado o que nunca antes possuiram, encheram-se de alegria e juntando as palmas das mãos, fitaram Buddha com uma só mente.
Nessa altura, Buddha emitiu um raio de luz do tufo de pêlo branco entre as suas sobrancelhas, um dos seus sinais distintivos, iluminando dezoito mil mundos na direcção de Oeste. Não houve lugar algum onde a luz não penetrasse, alcançando desde baixo o inferno de Avishi até ao alto, o céu de Akanishtha.
Ficaram então visíveis os seres vivos nos seis reinos de existência em todos esses outros mundos. Da mesma forma, podiam ser vistos os Buddhas presentes nesse momento nessas outras terras e eram audíveis os sutras que esses Buddhas estavam a expor. Ao mesmo tempo, podiam ser vistos os monges, monjas, irmãos e irmãs leigos que desenvolviam práticas religiosas tendo encontrado o caminho. Podiam ser vistos os bodhisattvas e mahasattvas que, mediante várias causas e condições, vários tipos de fé e compreensão e diferentes formas e aspectos, estavam cultivando a via do bodhisattva. Podiam também ser vistos os Buddhas que tinham entrado no parinirvana e torres adornadas com os sete tesouros sendo erigidas para as suas relíquias.
Nesse momento, o Bodhisattva Maitreya teve este pensamento: O Honrado Pelo Mundo manifestou estes miraculosos sinais. Qual a causa destes auspiciosos indícios? Agora o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, entrou em samadhi. Um evento tão incompreensível como este é muito raro de presenciar. A quem poderei questionar acerca disto? Quem poderá responder-me?
E então, teve ainda este pensamento: Este Manjushri, filho de um Rei do Dharma, já pessoalmente assistiu e deu oferendas a um incomensurável número de Buddhas no passado. Decerto presenciou já estes raros sinais. Irei questioná-lo.
Nessa ocasião, monges, monjas, irmãos e irmãs leigos, bem como os seres celestiais, dragões, espíritos e outros todos tiveram este pensamento: “Este raio de luz vindo de Buddha, estes sinais de poderes transcendentais - a quem poderemos questionar acerca deles?”
Nessa altura o Bodhisattva Maitreya quis esclarecer as suas dúvidas quanto a essa questão. Além disso, podia ver o que ia na mente dos quatro tipos de crentes, os monges, monjas, irmãos e irmãs leigos, bem como os seres celestiais, dragões, espíritos e os outros que constituíam a assembleia. Então questionou Manjushri, dizendo, “Qual é a causa destes auspiciosos sinais, estes indícios de poderes transcendentais, esta emissão de um raio brilhante que ilumina os dezoito mil mundos na região Oeste de tal forma que podemos ver todos os adornos das Terras Búddhicas aí existentes?”
Então, o Bodhisattva Maitreya, desejando explicar-se novamente, fez a pergunta em verso:
Manjushri,Porque é que a partir do tufo branco entre as sobrancelhasdo nosso líder e instrutor,brilha esta grande luz?Porque do céuchovem flores de mandarava e manjushacae brisas perfumadas de sândalo deliciam os corações da assembleia?Devido a isto,em toda a parte a terra está adornada e purificadae este mundo estremece em seis diferentes direcções.Com isto, os quatro tipos de praticantesencheram-se de alegria e deleite,rejubilando no corpo e na mente,tendo ganho o que nunca antes haviam conseguido.O raio luminoso de entre as sobrancelhasilumina a direcção Oestee dezoito mil terrassão da cor do ouro.Desde o inferno de Avichiaté ao Cume do Ser,através dos vários mundosos seres vivos nos seis caminhos,o plano para onde tendem os seus nascimentos e mortes,as suas boas e más acções,as agradáveis ou adversas recompensas que recebem - tudo isto pode ser visto daqui.Podemos também ver os Buddhas,esses senhores da sabedoria, leões,expondo e pregando sutras subtis, maravilhosos e supremos.As suas vozes são claras e puras,Emitindo sons suaves e calmos,enquanto ensinam inumeráveis milhões de bodhisattvas.Os seus sons Brahma são profundos e maravilhosos,provocando deleite em quem os ouve.Cada um no seu mundoprega a Lei correcta,segundo várias causas e condiçõese empregando inumeráveis metáforas,iluminando a Lei do Buddha,guiando seres vivos até à iluminação.Se alguém tiver de encontrar problemas,amargando a velhice, a doença e a morte,os Buddhas pregam para ele acerca do Nirvana,explicando-lhe como pôr fim a todas as dificuldades.Se alguém for afortunado,tendo no passado feito ofertas aos Buddhas,determinado em procurar uma Lei superior,os Buddhas pregam a via dos pratiekabuddha.Se houver filhos de Buddhaque empreendam várias práticas religiosas,procurando obter a sabedoria insuperável,os Buddhas pregam a via da pureza.Manjushri,eu tenho estado aqui,vendo e ouvindo desta formacentenas de milhões de coisas.Numerosas como são,eu falarei delas abreviadamente.Vejo nestas terrasbodhisattvas numerosos como as areias do Ganges,de acordo com várias causas e condiçõese procurando o caminho do Buddha.Alguns deles dão esmolas,ouro prata, coral,pérolas, lápiz-lazuli,madrepérola, ágata,diamantes e outras raridades,servas e servos, carruagens,liteiras cravejadas de jóias, palanquins,apresentando alegremente estes donativos.Eles davam tais ofertas à via do Buddhado,desejando atingir o veículoque detém a primazia nos três mundose é louvado pelos Buddhas.Existem alguns bodhisatvas que oferecem carruagens cravejadas de jóias, puxadas por quadrigascom armações e pálios floridosadornando os lados e o topo.Vejo ainda bodhisattvasque alegremente oferecema sua pele, mãos e pés,ou as mulheres e os seus filhos,buscando a via inexcedível.Vejo também bodhisattvasque alegremente dãosuas cabeças, olhos, corpos e membrosna sua busca pela sabedoria de Buddha.Manjushri,vejo reisvisitando o Buddhapara o questionar acerca da via inexcedível.Eles põem de lado as suas boas terras,os seus palácios, os seus servos e servas,rapam o seu cabelo e barbae envergam as roupas do Dharma.Vejo também bodhisattvasconvertidos em monges,vivendo sozinhos em quietude,deleitando-se com a recitação de sutras.Vejo ainda bodhisattvasesforçando-se com vigor e bravura,internando-se nas montanhas ,com os seus pensamentos no caminho do Buddhado.E vejo-os renunciando ao desejo,constantemente imersos na vacuidade e na quietude,aprofundando a prática da meditaçãoaté conquistarem os cinco poderes transcendentais.E vejo bodhisattvas,repousando em meditação, as palmas das mãos juntas,com mil, dez mil versoslouvando o rei das doutrinas.
Vejo ainda bodhisattvas, de profunda sabedoria e firme propósito,que sabem como questionar os Buddhas e aceitar e cumprir tudo o que assim ouvem. Vejo filhos de Buddhas proficientes quer na meditação quer na sabedoria, que usam imensuráveis números de metáforas para expor a Lei à assembleia, deleitando-se na pregação da Lei, convertendo os bodhisattvas, derrotando as legiões do demónio e fazendo soar os tambores do Dharma. Vejo bodhisattvas profundamente imóveis e silenciosos, honrados por seres celestiais e dragões, sem que isso os inebrie.E vejo bodhisattvas vivendo em florestas, emitindo luz, salvando os que sofrem no inferno, fazendo-os entrar no caminho do Buddhado.Vejo filhos de Buddha que nunca dormem e que circulam pela floresta diligentemente à procura do caminho do Buddhado.E vejo aqueles que observam os preceitosnuma conduta sem mácula, pura como jóias ou pedras preciosas, dessa forma buscando o caminho do Buddhado.E vejo filhos de Buddha tolerando com força inquebrantávelos insultos e agressões de pessoas prepotentes e arrogantes,e dessa forma procurando o caminho do Buddhado. Vejo bodhisattvas furtando-se à frivolidade, ao riso e às companhias tolas, amigando-se dos sábios, unificando as suas mentes, dissipando a confusão, ordenando os seus pensamentos na montanha e na floresta por, mil, dez mil, um milhão de anos, dessa forma procurando o caminho do Buddhado. Vejo bodhisattvas com bebidas e iguarias deliciosas e centenas de diferentes poções medicinais, oferecendo tudo isso ao Buddha e aos seus monges;mantos finos, vestuário luxuoso e de preço elevado,ou mantos de valor incalculável,oferecendo-os a Buddha e aos seus monges; mil, dez mil, um milhão de variadas moradias feitas de sândalo e inúmeros e maravilhosos artigos de enxoval, oferecendo-os a Buddha e aos seus monges;imaculados bosques e jardinsonde abundam frutos e flores,nascentes generosas e lagoas,oferecendo-os a Buddha e aos seus monges;ofertas deste tipo, em inúmeras e maravilhosas variedadesoferecidas de bom grado e sem hesitaçõesenquanto procuram a via inexcedível.Ou ainda, bodhisattvas que expõem a Lei da extinção tranqüilaa inumeráveis seres viventes.Ou ainda Bodhisattvasvendo a natureza dos fenômenoscomo isenta de dualidade,sendo como espaço vazio.E vejo filhos de Buddhacujas mentes não têm apegos,que usam esta sabedoria maravilhosapara procurarem a via inexcedível.
Manjushri,existem também bodhisattvasque após o passamento do Buddhafazem oferendas às suas relíquias.Vejo filhos de Buddha construindo torres votivasnumerosas como as areias do Ganges,ornamentando com elas cada terra,torres de jóias, altaneiras e maravilhosas,quinhentas yojanas de altura,comprimento e largura exactamente duzentos yojanas,cada uma destas torres votivas com os seus mil estandartes e fitas,com cortinas bordadas com jóias como orvalhoe sinos de jóias tinindo harmoniosamente.Aí seres celestiais, dragões, espíritos,seres humanos e não humanos,com incenso, flores e música constantemente fazendo oferendas.Manjushri,estes filhos de Buddhapor forma a fazerem oferendas às relíquiasadornam as torres votivasde modo que cada terra, tal como é,é tão excepcionalmente maravilhosa e encantadoracomo o celestial rei das árvoresquando as suas flores abrem e desabrocham.Quando Buddha emite um raio de luzeu e outros membros da assembleia podemos ver essas terrasem todas as suas variadas e excepcionais maravilhas.Os poderes sobrenaturais dos Buddhase a sua sabedoria são deveras raras;emitindo um puro raio de luz,os Buddhas iluminam terras sem conta.Eu e os outros vimos isto,e ganhamos algo antes desconhecido.Filho de Buddha, Manjushri,peço-te que esclareças as dúvidas da assembleia.Os quatro tipos de crentes olham em alegre antecipação,fitando-nos ambos.Porquê o Honrado Pelo Mundoemitiu este raio de luz?Filho de Buddha, dá-me prontamente uma resposta,esclarece estas dúvidas dando lugar à alegria!Que ricos benefícios virãoda projecção deste raio de luz?Deve ser o caso de o Buddha querer expor a maravilhosa Lei por ele obtidaquando se sentou no lugar da iluminação.Ele deve ter profecias para outorgar.Ele mostrou-nos terras Búddhicas - com o adorno e pureza de múltiplos tesouros,e nós vimos os seus Buddhas -isto não pode ter sido feito sem razões válidas.Manjushri, vós deveis saber.os quatro tipos de crentes, os dragões e espíritosfitam-te expectantes,imaginando que explicação irás dar.
Nessa altura Manjushri disse ao bodhisattva e mahasattva Maitreya e aos outros grandes homens: “Bons homens, suponho que o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, deseja expor agora a grande Lei, soprar a concha da grande Lei, bater o tambor da grande Lei, elucidar o significado da grande Lei. Bons homens, vi no passado estes auspiciosos fenômenos entre os Buddhas. Eles emitem um raio de luz como este, e a seguir expõem a grande Lei. Por conseguinte devemos entender que agora, quando o presente Buddha manifesta esta luz, ele fará da mesma forma. Ele deseja fazer com que todos os seres vivos ouçam e compreendam a Lei, a qual é difícil para o mundo entender. Assim manifestou ele estes auspiciosos fenômenos.“Bons homens, uma vez, num tempo passado há incontáveis, ilimitados, inconcebíveis asamkhia kalpas, existiu um Buddha chamado Brilho do Sol e da Lua (Candrasûryapradîpa), Tathagata, merecedor de ofertas, de conhecimento recto e universal, clarividência e conduta perfeitas, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo, que expôs a correcta Lei. A sua exposição era boa no início, boa no meio e boa no fim. O significado era profundo e vasto, as palavras eram hábeis e maravilhosas, Era pura e sem misturas, completa, limpa e sem mácula, ostentando as marcas das práticas Brahma.”
Em prol daqueles que procuravam tornar-se ouvintes ele expôs a Lei das quatro nobres verdades, de modo a transcenderem o nascimento, a velhice, a doença e a morte e assim alcançarem o nirvana. Em prol dos que procuravam tornar-se pratyekabuddhas ele expôs a Lei dos doze Nidanas (doze elos interligados de causalidade). Em prol dos aspirantes a bodhisattvas ele expôs os seis paramitas, fazendo-os atingir anuttara-samyak-sambodhi e adquirir a sabedoria que abarca todas as espécies.”
“Nessa altura, havia outro Buddha também chamado Brilho do Sol e da Lua, e ainda um outro Buddha também chamado Brilho do Sol e da Lua. Aí existiam vinte mil Buddhas como este, todos com o mesmo título, todos chamados Brilho do Sol e da Lua. E todos tinham o mesmo apelido, o apelido Bharadvaja. Maitreya, deves compreender que do primeiro ao último Buddha, todos tinham o mesmo título, todos eram nomeados Brilho do Sol e da Lua. Eram merecedores de todos os dez epítetos e a Lei que expunham era boa no início, boa no meio e boa no fim.”
O último desses Buddhas, quando não tinha ainda deixado a vida familiar, tinha oito filhos príncipes. O primeiro chamava-se Dotado de Intenção, o segundo Boa Intenção, o terceiro Intenção Desmedida, o quarto Intenção de Jóias, o quinto Intenção Reforçada, o sexto Intenção Limpa de Dúvidas, o sétimo Intenção Reverberante e o oitavo Intenção da Lei. A dignidade e a virtude eram-lhes fáceis e cada um presidia a um reino de quatro continentes.”
“Quando estes príncipes ouviram dizer que seu pai tinha abandonado a vida familiar e ganho anuttara-samyak-sambodhi, renunciaram todos às suas posições principescas e seguiram-no deixando também as suas famílias. Concebendo um desejo pelo Grande Veículo, levaram constantemente a cabo práticas Brahma, e todos se tornaram mestres da Lei. Eles tinham plantado já raízes de virtude na companhia de mil, dez mil Buddhas.”
Nessa ocasião o Buddha Brilho do Sol e da Lua pregou o sutra do Grande Veículo intitulado Imensuráveis Significados, uma Lei para instruir os Bodhisattvas, uma Lei que é guardada e mantida em mente pelos Buddhas. Quando ele acabou de pregar o sutra, sentou-se em posição de lótus e entrou no samadhi do Lugar de Incomensuráveis Significados, seu corpo e mente imóveis. Nesse momento, caiu do céu uma chuva de flores de mandarava, grandes flores de mandarava, flores de manjushaka e grandes flores de manjushaka, espalhando-as sobre o Buddha e sobre a grande assembleia e todo o mundo Búddhico estremeceu em seis direcções diferentes”.
“Nessa altura os monges, monjas, irmãos e irmãs leigos, seres celestiais, dragões, yakshas, gandarvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos na assembleia, bem como os reis piedosos e os reis sábios - todos na grande assembleia, tendo ganho o que nunca obtiveram antes, encheram-se de alegria e juntando as palmas das mãos, fitaram o Buddha com uma só mente.”
“Nessa altura, Buddha emitiu um raio de luz do tufo de pêlo branco entre as suas sobrancelhas, um dos seus sinais distintivos, iluminando dezoito mil mundos na direcção Oeste. Não houve lugar onde a luz não penetrasse, tal como o viste iluminar agora estas terras Búddhicas”.
Maitreya, deves entender isto; nessa ocasião estavam presentes na assembleia vinte milhões de bodhisattvas, alegres e ansiosos por receberem a Lei. Quando estes bodhisattvas viram esse raio de luz que iluminou em toda a parte as terras Búddhicas, ganharam o que nunca tinham obtido. Eles desejaram conhecer as causas e condições que ocasionaram essa luz.
“Nessa altura existia um bodhisattva chamado Maravilhosamente Brilhante(Varaprabha) que tinha oitocentos discípulos. Então o Buddha Brilho do Sol e da Lua despertou do seu samadhi e devido ao bodhisattva Maravilhosamente Brilhante, pregou o Sutra do Grande Veículo chamado Lótus da Lei Maravilhosa (Saddharma-Pundarika), uma lei para instruir os bodhisattvas, uma Lei que é guardada e mantida em mente pelos Buddhas. Por dezasseis pequenos kalpas o Buddha permaneceu no seu assento, sem se levantar, e os ouvintes na assembleia também permaneceram sentados por dezasseis pequenos kalpas, seus corpos e mentes imóveis. No entanto, parecia-lhes terem estado a escutar o Buddha pregar por não mais do que o tempo de uma refeição. Nessa ocasião não havia na assembleia uma única pessoa que no corpo ou na mente tivesse o menor sentimento de cansaço.”
Quando o Buddha Brilho do Sol e da Lua acabou de pregar este sutra após um período de dezasseis pequenos kalpas, falou estas palavras para os Brahmas, demónios, shramanas e Brahmans, bem como para os seres celestiais e humanos e os asuras na assembleia, dizendo, ”Esta noite, à meia noite o Tathagata extinguir-se-á entrando no nirvana absoluto.”
“Nessa altura existia um bodhisattva chamado Repositório de Virtudes. O Buddha Brilho do Sol e da Lua outorgou-lhe uma profecia, anunciando aos monges, “Este bodhisattva Repositório de Virtudes será o próximo a tornar-se um Buddha.. Ele será chamado Puro Corpo, Tathagata, arhat, samiak-sambuddha.”
Depois do Buddha ter acabado de fazer esta profecia, à meia noite entrou no nirvana absoluto.”
Após a extinção do Buddha, o bodhisattva Maravilhosamente Brilhante promoveu o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa por um período de oito completos pequenos kalpas expondo-o para outros. Os oito filhos do Buddha Brilho do Sol e da Lua reconheceram Maravilhosamente Brilhante como seu mestre. Maravilhosamente Brilhante pregou-lhes e converteu-os criando neles a firme determinação de alcançarem anuttara-samyak-samboddhi. Estes príncipes deram ofertas a imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de Buddhas, e depois disso todos eles atingiram o Buddhado. O último a tornar-se um Buddha foi chamado Tocha Ardente.”
Entre os oitocentos discípulos de Maravilhosamente Brilhante havia um chamado Ávido de Fama. Ele ansiava por feitos e aplausos, e apesar de ler e recitar numerosos sutras, não os entendia, mas antes esquecia-os na sua maior parte . Daí ele ser chamado Ávido de Fama. Apesar disso, porque este homem tinha plantado várias raízes de virtude, foi capaz de encontrar imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de Buddhas e de fazer-lhes oferendas, de honrá-los, venerá-los e louvá-los.”
“Maitreya, deves entender isto. O Bodhisattva Maravilhosamente Brilhante que então viveu, pode ser ele por ti conhecido? Ele não era senão eu. E o Bodhisattva Ávido de Fama eras tu.”
Quando eu agora vejo estes auspiciosos fenômenos, eles não diferem do que eu vi antes. Daí que eu suponha que o Honrado-Pelo-Mundo está em vias de pregar o sutra do Grande Veículo chamado Lótus da Lei Maravilhosa, uma Lei para instruir os Bodhisattvas, uma Lei que é guardada e mantida em mente pelos Buddhas.”
Então Manjushri, desejando explicar-se novamente, falou em verso, dizendo:
Lembro que numa era passadahá imensuráveis, inumeráveis kalpashouve um Buddha, o mais honrado dos homens,chamado Brilho do Sol e da Lua.Este Honrado Pelo Mundo expôs a Lei,salvando imensuráveis seres viventese um sem número de milhões de bodhisattvas,fazendo-os entrar na sabedoria Búddhica.Os oitos filhos príncipes que este Buddha gerouantes de deixar a vida de família,quando viram que este grande sábio deixara a sua famíliafizeram o mesmo, levando a cabo práticas brahma.Nessa altura o Buddha pregou o grande Veículo,um sutra chamado Imensuráveis Significados,e no meio da grande assembleiapelo bem das pessoas estabeleceu distinções.Quando o Buddha acabou de pregar este sutratomou o assento da Lei,sentando-se de pernas cruzadas no samadhichamado “lugar de imensuráveis significados”.Dos céus choveram flores de mandarava,tambores celestiais soaram por si,e os seres celestiais, dragões e espíritosfizeram ofertas ao mais honrado dos homens.Todas as terras Búddhicasde imediato tremeram grandemente.O Buddha emitiu uma luz de entre as suas sobrancelhas,manifestando sinais raramente vistos.Esta luz iluminou a direcção Oeste,dezoito mil terras Búddhicas,mostrando como todos os seres viventes aí eram recompensados em vida e morte pelas suas acções passadas.Podíamos ver essas terras Búddhicas,adornadas com numerosas jóias,brilhando com reflexos de lápiz-lazuli e cristaldevido à iluminação da luz de Buddha.Podíamos ver também Tathagatasacedendo naturalmente ao Buddhado,seus corpos da cor de montanhas douradas,rectos, imponentes, subtis e maravilhosos.Era como se do meio de puro lápis lazulisurgissem colunas de ouro verdadeiro.No meio da grande assembleia os Honrados pelo Mundoexpunham os princípios da profunda Lei.Numa após a outra das terras Búddhicasos ouvintes em incontáveis multidõesmercê da iluminação da luz de Buddhaficaram visíveis com suas grandes assembleias.Aí também existiam mongesresidindo no meio de florestas,esforçando-se por manter puros os preceitoscomo se estivessem guardando uma jóia rara.
Podíamos ver também bodhisattvasdando esmolas, sendo pacientes,numerosos como areias do Ganges, devido à iluminação da luz de Buddha.Podíamos também ver bodhisattvasabsorvidos na pratica da meditação,seus corpos e mentes tranquilos e imóveis,dessa forma procurando a via insuperável.Podíamos ver também bodhisattvassabedores de que os fenômenos são marcados pela tranquilidade e pela extinção,cada um na sua respectiva terrapregando a lei e buscando a suprema iluminação.Nessa ocasião, os quatro tipos de crentes vendo o Buddha Brilho do Sol e da Luamanifestar os seus enormes poderes transcendentais,rejubilaram em seus corações,perguntando-se mutuamentea causa destes eventos.O honrado por seres celestiais e humanosdespertou do seu samadhie louvou o Bodhisattva Maravilhosamente Brilhante, dizendo,“Tu és o olho do mundo,refúgio para todos, em quem podemos ter fé,capaz de honrar e promover o repositório do Dharma.A lei que eu prego-só tu lhe podes fazer jus.”O Honrado Pelo Mundo, tendo outorgado este louvor,que fez rejubilar Maravilhosamente Brilhante,pregou o Sutra do Lótuspor dezasseis completos pequenos kalpas.Ele nunca saiu do seu lugar,e a suprema e maravilhosa Lei por ele pregadafoi aceite e promovida na integrapor Maravilhosamente Brilhante, mestre do Dharma.Após o Buddha ter pregado o Lótus,fazendo rejubilar toda a assembleia,nesse mesmo diaele anunciou à assembleia de seres celestiais e humanos,“expus para vocês o significado da verdadeira entidade de todos os fenômenos.Agora, quando a meia noite chegarentrarei no Nirvana.Sejam zelosos de todo o coraçãoe evitem a indolência e a lassidão,é muito difícil encontrar um Buddha-entre eles há lapsos de milhões de kalpas.”Quando os filhos do Buddha ouviram dizer que o Honrado Pelo Mundo ia entrar no nirvana,ficaram cheios de pesar perguntando-se o porquê da sua eminente partida.O senhor da sabedoria, Rei do Dharma,confortou e apaziguou a incontável multidão,dizendo, ”Quando eu entrar no nirvananão deveis inquietar-vos ou temer! Este bodhisattva Repositório de Virtudesapós completar o seu percurso sem falhasserá o próximo Buddha, chamado Puro Corpo,e também ele salvará multidões imensuráveis.”Nessa noite o Buddha extinguiu-se,tal como um fogo se apaga quando se esgota o seu combustível.Eles dividiram e acondicionaram as suas relíquiase construíram um número incontável de torres,e os monges e monjasnumerosos como as areias do Gangesredobraram os seus esforços,procurando alcançar a via insuperável.E o mestre do Dharma, Maravilhosamente Brilhantehonrado e sustentado pelo repositório do Dharma dos Buddhasdurante oitenta pequenos kalpas,propagou largamente o Sutra do Lótus.Esses oito príncipesque Maravilhosamente Brilhante converteuativeram-se firmemente à via insuperávelsendo assim capazes de encontrar inumeráveis Buddhas.Após terem feito oferendas a esses Buddhasseguiram a prática do Grande Caminhoe um após outro sucederam-se como Buddhas,cada um profetizando o destino do seu sucessor no Buddhado.O último a tornar-se Buddha foi chamado Tocha Ardente [Dipankara].Como líder e mestresalvou imensuráveis multidões.Este mestre do Dharma, Maravilhosamente Brilhantetinha nessa altura um discípulocuja mente estava sempre ocupada pelo torpor e pela indolência,ávido de fama e vantagem;sempre insaciável por glórianegligenciando e esquecendo o que tinha estudado.Devido a isto foi ele chamado Ávido de FamaMas ele tinha também levado a cabo muitas acções meritóriastendo assim sido capaz de conhecer inumeráveis Buddhas.Ele fez ofertas a esses Buddhase seguiu-os praticando o grande caminho,esmerando-se nos seis paramitas,e agora ele encontrou o leão dos Sakias.No futuro ele tornar-se-á o próximo Buddhae o seu nome será Maitreya,salvando seres viventes em números para lá de qualquer cálculo.Esse que então era o discípulo indolente do extinto Buddhaeras tu, e o mestre do Dharma,Maravilhosamente Brilhante - era eu.Os sinais são agora como os anteriores fenômenos auspiciosos,este é um meio expedito usado pelos Buddhas.Agora que o Buddha emite este raio de luzestá em vias de revelar o sentido da verdadeira natureza dos fenômenos.Os seres humanos ficarão agora a conhecê-lo. Juntemos as mãos e aguardemos a uma só mente.O Buddha fará cair a chuva da Leique refresca e satisfaz os que buscam o caminho.Tu que procuras os três veículos,se tens dúvidas ou inquietações,o Buddha resolvê-las-á para ti.
Capítulo Segundo: Meios Expeditos
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo despertou calmamente do seu samadhi e dirigiu-se a Shariputra, dizendo: “A sabedoria do Buddha é infinitamente profunda e imensurável. O acesso a esta sabedoria é difícil de compreender e difícil de transpor”.
Nem um dos ouvintes ou dos pratyekabuddhas foi capaz de compreender o que havia sido dito. “Porque razão isto é assim? O Buddha atendeu e venerou uma centena, um milhar, dez milhares, um milhão, um incontável número de Buddhas, tendo completado um imensurável número de práticas religiosas. Ele esforçou-se com bravura e vigor, e o seu nome é universalmente conhecido. Ele realizou a Lei que é profunda e antes desconhecida, e prega de acordo com o que é apropriado. A sua intenção, porém, é difícil de compreender. “Shariputra, desde que atingi o Estado Búddhico tenho ensinado várias causas e várias metáforas expondo largamente os meus ensinamentos e utilizei incontáveis meios expeditos para guiar os seres viventes e fazê-los renunciar aos apegos. Porque isto é assim? Porque o Tathagata aperfeiçoou os meios expeditos e o paramita da sabedoria. “ Shariputra, a sabedoria do Tathagata é profunda e de grande alcance. Ele possui misericórdia imensurável, eloquência ilimitada, poder, coragem, concentração, emancipação e samadhis, ele penetrou profundamente o ilimitado e despertou para a Lei nunca antes obtida. “Shariputra, o Tathagata sabe como fazer vários tipos de distinções e como expor habilmente os ensinamentos. As suas palavras, suaves e agradáveis, deliciam os corações da Assembléia”. “Shariputra, direi em resumo: o Buddha realizou inteiramente a Lei ilimitada, nunca antes alcançada”. “Mas pára, Shariputra, eu não direi mais. Porquê? Porque o que o Buddha conseguiu é a Lei mais rara e mais difícil de entender. A verdadeira natureza dos fenómenos só pode ser compreendida e partilhada entre Buddhas. Esta realidade consiste na aparência, natureza, ser, poder, influência, causa inerente, relação, efeito latente, efeito manifesto e a sua consistência do princípio ao fim.” Então, o Honrado Pelo Mundo, querendo expor uma vez o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
O herói do mundo é incompreensível.Entre seres celestiais ou entre as pessoas do mundo,entre todos os seres viventes,nenhum pode compreender o Buddha.O seu poder, coragem,emancipação e samadhise todos os outros atributos de um Buddha,ninguém consegue calcular ou abarcar.Previamente, sob a orientação de incontáveis Buddhas, praticou e adquiriu inteiramente várias vias,doutrinas profundas, subtis e maravilhosas,difíceis de encontrar e difíceis de entender.Durante imensuráveis milhões de kalpasele praticou deste modoaté que no lugar da iluminação atingiu o objectivo.Eu já testemunhei e conheço inteiramenteesta grande meta e recompensa,o sentido destas várias naturezas e características.Eu e os outros Buddhas das dez direcçõespodemos agora entender estas coisas.Esta Lei não pode ser descritae as palavras esgotam-se perante ela.Entre os outros tipos de seres viventesnenhum existe que a possa compreender,excepto aqueles muitos bodhisattvasque são firmes no poder da fé.Os muitos discípulos dos Buddhasderam no passado oferendas aos Buddhas,cessaram já as suas falhase encontram-se agora na sua última encarnação.Mesmo o poder destas pessoasestá aquém do necessário.Mesmo que todo o mundofosse repleto de homens como Shariputra,ainda que eles esgotassem todos os seus pensamentose unissem as suas capacidades,não poderiam conceber a sabedoria de Buddha.Mesmo que as dez direcções estivessem cheias de homens como Shariputraou como outros discípulos,apesar de esgotarem os seus pensamentos e unirem as suas capacidades,ainda assim não poderiam compreender.Se pratiekabuddhas, de apuradas faculdades,sem falhas, na sua última encarnação,enchessem os mundos nas dez direcçõesnumerosos como bambus no Ganges,mesmo que se juntassem com uma só mentepor um milhão ou por incontáveis kalpas,esperando conceber a verdadeira sabedoria dos Buddhas,eles não poderiam conceber a mais pequena parte dela.Se bodhisattvas recentemente embarcados no seu cursodessem oferendas a inumeráveis Buddhas,dominassem completamente o intento de várias doutrinassendo também capazes de pregar a Lei efectivamente,numerosos como plantas de arroz ou cânhamo, bambus ou juncos,enchendo as terras nas dez direcções,se com uma única mente, com todo o seu maravilhoso conhecimento,por kalpas numerosos como as areias do Gangesjuntassem os seus pensamentos e capacidades,não poderiam entender a sabedoria do Buddha.Se bodhisattvas que não mais retornarão,em número igual ao das areias do Ganges,com uma única mente ponderarem e buscarem em conjunto,também eles não poderão compreender.Também te anuncio, Shariputra,que esta Lei, profunda, subtil e maravilhosasem falhas, inescrutável,eu a abarquei na sua totalidade.Apenas eu entendo as suas características,tal como a entendem também os Buddhas das dez direcções.Shariputra, deves saber que os mundos dos vários Buddhas nunca diferem.Para com a Lei pregada pelos Buddhasdeves cultivar uma grande e poderosa fé.O Honrado Pelo Mundo expôs longamente a sua doutrinae agora deve revelar a verdade.Anuncio a esta Assembléia de ouvintese a todos os que seguem o veículo de pratiekabuddha:Eu tornei possível às pessoas escaparem às cadeias do sofrimentoe atingirem o nirvana.O Buddha, através do poder dos meios expeditos,mostrou-lhes os ensinamentos dos três veículos,conduzindo os seres viventes que estejam perdidos em quaisquer apegos epermitindo-lhes obter alívio.
Nessa ocasião estavam na grande Assembléia muitos ouvintes, Arhats cujas falhas tinham chegado ao fim, Ajnata Kuandinya seguido por duzentas pessoas. E havia monges e monjas, irmãos e irmãs leigos, que conceberam o desejo de se tornarem ouvintes ou pratyekabuddhas. Cada um destes tinha este pensamento: Porque razão o Honrado Pelo Mundo louva tão veementemente os meios expeditos e afirma que a Lei alcançada pelo Buddha é profunda e difícil de compreender, que nem um dos ouvintes ou dos pratyekabuddhas consegue entendê-la?Se o Buddha prega apenas uma doutrina de emancipação, então também nós deveríamos abarcar esta Lei e alcançar o estado de nirvana. Não conseguimos seguir o fio do seu discurso. Então Shariputra entendeu as dúvidas que perpassavam pelas mentes dos quatro tipos de crentes e ele próprio não conseguiu compreender. Daí que se dirigiu ao Buddha, dizendo, “Honrado Pelo Mundo, que causas e condições te levam a louvar tão veementemente os meios expeditos, os superiores instrumentos dos Buddhas, a profunda, subtil e maravilhosa Lei que é difícil de compreender? Nunca no passado eu ouvi este tipo de discurso pregado pelo Buddha. Agora os quatro tipos de crentes têm dúvidas”.“Rogamos que o Honrado Pelo Mundo explique o sentido destes louvores à Lei que é profunda, subtil, maravilhosa e tão difícil de compreender.” Então Shariputra, querendo expor uma vez o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Filho da sabedoria, grande e venerável sábio,Extensamente pregaste esta Lei.Tu próprio declaraste ter alcançadopoder, coragem, samadhis,concentração, emancipação e outros atributos,e a Lei que está além da compreensão -essa Lei, alcançada no lugar da iluminação,sobre a qual ninguém te pode questionar.‘A minha intenção é difícil de conceber,e ninguém pode questionar-me.’Ninguém pergunta, ainda assim tu mesmo pregas,louvando o teu caminho.A tua sabedoria é subtil e maravilhosa,é a sabedoria obtida pelos Buddhas.Os arhats, livres de falhase todos os que buscam o nirvanacaíram nas malhas da dúvida,perguntando-se qual a razão desta pregação de Buddha.Os que aspiram a pratyekabuddhas,monges e monjas,seres celestiais, dragões e espíritos,bem como os gandarvas e outros,olham uns para os outros, cheios de perplexidade,fitando o mais honrado dos bípedes.Qual é o sentido de tudo isto?rogo ao Buddha que nos explique.Entre a Assembléia de ouvinteso Buddha disse ser eu o mais dotado,ainda assim sou falho de sabedoriapara resolver estas dúvidas e perplexidades.Terei eu de facto atingido a suprema Lei,ou estarei ainda no caminho da prática?Os filhos nascidos da palavra de Buddhajuntam as mãos, de palmas unidas e esperam fitando-te.Rogamo-te que soltes subtis e maravilhosos sonse que agora nos explique as coisas tais como são.Os seres celestiais, dragões, espíritos e os outros,em número igual ao das areias do Ganges,os bodhisattvas aspirando a tornar-se Buddhasnuma grande mole de dezoito mil,bem como os reis sábiosvindos de milhares de milhões de terras,todos reverentemente juntam as palmas das mãosdesejando ouvir o ensinamento de perfeitos atributos.
Nessa altura o Buddha dirigiu-se a Shariputra, dizendo, “Parem, parem! Não há utilidade em expor esta matéria. Se eu falar mais, os seres celestiais e humanos através dos mundos ficarão estupefactos e incrédulos.” Shariputra falou a Buddha uma vez mais dizendo, “Honrado Entre os Homens, rogamo-te que pregues! Porquê? Porque esta Assembléia de incontáveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de asamkias de seres viventes viram os Buddhas no passado; as suas faculdades são vigorosas e apuradas e a sua sabedoria é brilhante. Se eles ouvirem o Buddha pregar, serão capazes de acreditar reverentemente.” Então Shariputra, querendo expor uma vez o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Rei do Dharma, honrado como ninguém,falai, nós te rogamos, sem reservas.Nesta Assembléia de inumeráveis seresalguns há capazes de reverente fé.
O Buddha repetiu, “Pára, Shariputra! Se eu falar deste assunto, os seres celestiais, humanos e asuras através dos mundos ficarão atónitos e incrédulos. Os monges de arrogância intolerante cairão num grande fosso.”
Então o Honrado Pelo Mundo repetiu em verso o antes tinha dito:
Pára, pára, não é preciso falar!a minha Lei é maravilhosa e difícil de ponderar.Aqueles que são de suprema arrogânciaquando a ouvirem nunca mostrarão reverente fé.

Nessa altura, Shariputra falou uma vez mais a Buddha, dizendo, “Honrado Pelo Mundo, rogamo-te que pregues! Nesta Assembléia as pessoas como eu contam-se às centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões. Era após era atendemos os Buddhas e recebemos instrução. Pessoas deste tipo são certamente capazes de fé reverente. Através da longa noite eles ganharão paz e tranquilidade e usufruirão de muitos benefícios.” Então Shariputra, desejando explicar-se uma vez mais, falou em verso, dizendo:
Supremamente honrado entre os seres de duas pernas,rogamo-te que pregues esta suprema Lei.Eu que sou visto como o mais velho dos filhos de Buddhapeço-te que nos favoreças pregando distinções.Os incontáveis membros desta Assembléiasão capazes de prestar fé reverente a esta Lei.Os Buddhas já em eras sucessivasensinaram e converteram desta forma.Todos com uma só mente e com as palmas das mãos unidasdesejamos ouvir e receber as palavras de Buddha.Eu e os outros doze mil do nosso grupo,bem como os outros que aspiram a tornar-se Buddhas,rogamo-te que em prol desta Assembléianos favoreças pregando distinções.Quando ouvirmos esta Leificaremos plenos de alegria.

Então o Honrado Pelo Mundo disse a Shariputra, “três vezes declaraste o teu veemente pedido. Que posso eu fazer senão pregar? Agora deves ouvir com atenção e ponderar cautelosamente. Por ti eu irei agora analisar e explicar o assunto.” Quando ele acabou de dizer estas palavras, houve uns quinhentos monges, monjas, irmãos e irmãs leigos que de imediato se levantaram dos seus lugares, fizeram uma vénia para o Buddha e se retiraram. Qual a razão disto? Estas pessoas tinham raízes de culpa numerosas e profundas, e eram ainda soberbas e arrogantes. O que não atingiram, presumiam ter atingido e supunham compreender o que não tinham compreendido. E por terem esta falha, eles não ficaram nos seus lugares. O Honrado Pelo Mundo ficou silencioso e não tentou demovê-los. Nessa altura o Buddha disse a Shariputra, “Agora esta minha Assembléia está livre de ramos e folhas, constituída apenas pelo que é firme e seguro. Shariputra, é bom que estas pessoas de arrogância intolerante tenham saído. Agora ouve com cuidado que eu vou pregar para ti.” Shariputra disse, “Assim seja. Estamos desejosos de ouvir!” O Buddha disse a Shariputra, “Uma Lei maravilhosa como esta é pregada pelos Buddhas, os Tathagatas, em certas ocasiões. Mas tal como o florir da udunbara, esses momentos são muito raros. Shariputra, tu e os outros deveis acreditar em mim. As palavras que o Buddha prega não são ocas ou falsas.” “Shariputra, os Buddhas pregam a Lei de acordo com o que é apropriado, mas o seu significado é difícil de compreender. Porque é assim? Porque nós empregamos incontáveis meios expeditos, discutindo causas e condições e usando metáforas e parábolas para expor os ensinamentos. Esta Lei não é susceptível de ser entendida pela ponderação e análise. Apenas Buddhas podem entendê-la. Porquê? Porque os Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, aparecem no mundo por uma só grande razão. Shariputra, o que significa dizer que os Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, aparecem no mundo por uma só grande razão?”. “Os Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, desejam abrir a porta da sabedoria Búddhica a todos os seres viventes, para lhes permitir que alcancem a pureza. É por isso que eles aparecem no mundo. Eles desejam acordar os seres viventes para a sabedoria Búddhica, e daí eles aparecerem no mundo. Eles desejam induzir os seres viventes a entrar no caminho da sabedoria Búddhica, daí eles aparecerem no mundo. Shariputra, esta é a grande e única razão pela qual os Buddhas aparecem no mundo.” O Buddha disse a Shariputra, “Os Buddhas, os Tathagatas, simplesmente ensinam e convertem os Bodhisattvas. Tudo o que fazem é em todas as ocasiões motivado por este propósito. Eles querem simplesmente mostrar a sabedoria Búddhica aos seres viventes e despertá-los para ela. “Shariputra, os Tathagatas têm apenas um veículo Búddhico que empregam de modo a pregar a Lei aos seres viventes. Eles não têm qualquer outro veículo, nenhum segundo ou terceiro. Shariputra, a Lei pregada pelos Buddhas das dez direcções é igual a esta. “Shariputra, os Buddhas do passado usaram incontáveis números de meios expeditos, várias causas e condições, metáforas e parábolas, de modo a exporem as doutrinas para bem dos seres viventes. Estas doutrinas são todas pregadas por meio do único veículo Búddhico. Estes seres viventes, ouvindo as doutrinas dos Buddhas, estão todos eventualmente aptos a alcançar a sabedoria que abarca todas as espécies. “Shariputra, quando os Buddhas do futuro fizerem a sua aparição no mundo, também eles usarão incontáveis números de meios expeditos, várias causas e condições, metáforas e parábolas de modo a exporem as doutrinas em prol dos seres viventes. Estas doutrinas serão todas pregadas por meio do único veículo Búddhico. Estes seres viventes, ouvindo as doutrinas dos Buddhas, estarão todos eventualmente aptos a alcançar a sabedoria que abarca todas as espécies. “Shariputra, os Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, que existem no presente nas incontáveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de terras Búddhicas, nas dez direcções, beneficiam e trazem paz e felicidade aos seres viventes em larga medida. Também estes Buddhas usam incontáveis números de meios expeditos, várias causas e condições, metáforas e parábolas, de modo a exporem as doutrinas em prol dos seres viventes. Estas doutrinas são todas pregadas por meio do único veículo Búddhico. Estes seres viventes, ouvindo as doutrinas dos Buddhas, estão todos eventualmente aptos a alcançar a sabedoria que abarca todas as espécies. “Shariputra, estes Buddhas simplesmente ensinam e convertem os Bodhisattvas. Eles fazem-no pois querem mostrar a sabedoria Búddhica aos seres viventes. Eles fazem-no pois desejam usar a sabedoria Búddhica para iluminar os seres viventes. Eles fazem-no porque desejam levar os seres viventes a entrar no caminho da sabedoria Búddhica. “Shariputra, também eu irei agora fazer o mesmo. Eu sei que os seres viventes têm variados desejos e apegos que estão profundamente implantados nas suas mentes. Tendo noção desta sua natureza básica, eu irei portanto usar várias causas e condições, metáforas e parábolas e o poder dos meios expeditos e expor a Lei para eles. Shariputra, eu faço isto de modo a que todos eles possam alcançar o único veículo Búddhico e a sabedoria que abarca todas as espécies. “Shariputra, quando a era é impura, os tempos são caóticos e as impurezas dos seres viventes são graves, eles são gananciosos e invejosos lançando raízes malsãs. Devido a isto, os Buddhas, utilizam o poder dos meios expeditos, aplicam distinções ao único veículo Búddhico e pregam como se existissem três. “Shariputra, se algum dos meus discípulos presumir que é um arhat ou um pratyekabuddha e ainda assim não tiver noção nem compreender que os Buddhas, os Tathagatas, simplesmente ensinam e convertem os Bodhisattvas, então ele não é meu discípulo, nem arhat nem pratyekabuddha. “E ainda, Shariputra, se houver monges ou monjas que presumam terem já alcançado o estado de arhat, estarem na sua última encarnação, terem atingido o nirvana final e que portanto não tenham intenção de procurar anuttara-samyak-sambodhi, então deves saber que pessoas como essas são de suprema arrogância. Porque digo isto? Porque se eles forem monges que verdadeiramente tenham alcançado o estado de arhat, então é impensável que eles não acreditem nesta Lei. A única excepção seria num tempo em que o Buddha se tivesse já extinguido, quando não houvesse qualquer Buddha presente no mundo. Porquê? Porque depois de o Buddha se ter extinguido será muito difícil de encontrar alguém capaz de abraçar, recitar e compreender o sentido de sutras como este. Mas se nessa altura as pessoas encontrarem outro Buddha, então obterão um entendimento decisivo no que respeita a esta Lei. “Shariputra, tu e os outros devem com uma única mente acreditar e aceitar as palavras dos Buddhas. As palavras dos Buddhas, os Tathagatas, não são ocas nem falsas. Não existe outro veículo, há um só veículo Búddhico.
“Então, o Honrado Pelo Mundo, desejando declarar uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Existem monges e monjasque se comportam com suprema arrogância,leigos cheios de auto-estima,leigas falhas de fé.Entre os quatro tipos de crentes, os iguais a estessão cinco mil.Eles não vêm os seus erros,são descuidados e negligentes no que respeita aos preceitos,apegados aos seus defeitos e sem vontade de mudar.Mas estas pessoas de diminuta sabedoria já se foram embora;a paródia, nesta Assembléiaretirou-se perante a autoridade do Buddha.Estas pessoas eram pobres de mérito e virtude,incapazes de receber esta Lei.Esta Assembléia está agora livre de ramos e folhas,composta apenas pelo que é firme e seguro.Shariputra, ouve cuidadosamentecomo esta Lei foi obtida pelos Buddhase como eles a pregam em prol dos seres viventescom o poder de incontáveis meios expeditos.Os pensamentos que estão na mente dos seres viventes,os diferentes caminhos por eles seguidos,seus variados desejos e naturezas,as boas e más acções por eles praticadas nas suas prévias existências -de tudo isto o Buddha toma conhecimentoe então emprega causalidades, metáforas e parábolas,palavras que incorporam o poder dos meios expeditos,por forma a agradar e alegrar a todos.Por vezes ele prega sutras,versos, histórias de vidas pretéritas de discípulos,histórias de vidas pretéritas do Buddha, de coisas sem precedentes.Noutras alturas ele prega atendendo a causas e condições,usa metáforas e parábolas, passagens de poesiaou discursos.Para aqueles de escassas capacidades que se deleitam na pequena Lei,que avidamente se apegam ao nascimento e à morte,e apesar dos inumeráveis Buddhas,não praticam a profunda e maravilhosa Leimas estão perplexos e confusos por uma miriade de problemas -para esses eu prego o nirvana.Eu diviso estes meios expeditose assim faço-os entrar na sabedoria Búddhica.Até agora eu nunca vos disseque vós certamente atingireis a via do Estado Búddhico.A razão de eu nunca ter pregado dessa formafoi não ter ainda chegado o momento para isso.Mas agora é o tempo precisoem que eu devo pregar decisivamente o Grande Veículo,e por isso é que eu prego este sutra.Estes são filhos de Buddha cuja mentes são puras,que são serenas e de apuradas capacidades,que sob os auspícios de inumeráveis Buddhaspraticaram a profunda e maravilhosa via.Para estes filhos de Buddha eu prego este sutra do Grande Veículo.E eu predigo que estas pessoasnuma futura existência atingirão a via do Estado Búddhico.Porque no íntimo de suas mentes eles pensam no Buddhae praticam e mantêm os preceitos,eles estão certos de alcançar o Estado Búddhicoe ouvindo isto, os seus corpos são inundados de grande alegria.O Buddha conhece as suas mentes e práticase por isso lhes prega o Grande Veículo.Quando os ouvintes e os bodhisattvasouvem esta Lei que eu prego,assim que ouvem um só versotodos sem qualquer dúvida serão certos de atingir o Estado Búddhico.Nas terras Búddhicas das dez direcçõessó há uma Lei e um só veículo,não há dois, não há três,excepto quando o Buddha assim prega como meios expeditos,meramente empregando nomes e termos provisóriospor forma a conduzir e guiar os seres viventese pregar-lhes a sabedoria Búddhica.Os Buddhas aparecem no mundoapenas por esta razão, que é verdadeira;as outras duas não o são.Nunca ele usa um veículo inferiorpara salvar os seres viventes levando-os na travessia.O próprio Buddha reside neste Grande Veículoe adornado com o poder da meditação e da sabedoriaque acompanha a Lei por ele obtida,ele usa-o para salvar os seres viventes.Ele próprio testifica a via insuperável,o Grande Veículo, a Lei na qual todas as coisas são iguais.Se eu usasse um veículo inferiorpara converter ainda que fosse uma só pessoa,eu seria culpado de agressão e ganância,mas tal coisa seria impossível.Se uma pessoa acreditar e tomar refúgio no Buddha,o Tathagata nunca a engana,nem alguma vez ele mostrará ganância ou ciúme.Porque ele desenraizou o mal de entre os fenómenos.Por isso através das dez direcçõesapenas o Buddha é desprovido de medo.Eu adorno o meu corpo com características especiaise faço brilhar a minha luz sobre o mundo.Eu sou honrado por inumeráveis multidõese para elas eu prego a insígnia da realidade das coisas.Shariputra, deves saberque no início eu fiz um voto,esperando tornar todas as pessoasiguais a mim, sem qualquer distinção entre nós,e o que eu há muito esperavafoi agora consumado.Eu converti todos os seres viventese fi-los entrar na via do Estado Búddhico,esses sem sabedoria ficaram baralhadose na sua confusão serão incapazes de aceitar os meus ensinamentos.Eu sei que esses seres viventes nunca no passado cultivaram boas raízesmas antes se apegaram obstinadamente aos cinco desejos,e a sua loucura e ânsia deram origem à aflição.Os seus desejos são a causa pela qual eles caem nos três maus caminhos, atormentados no ciclo dos seis reinos de existênciae padecendo toda a sorte de sofrimentos e dores.Existência após existência eles crescemdo ventre ao cemitério.Pessoas de escassa virtude e pequeno mérito,eles são perturbados e assolados por inúmeros sofrimentos.Eles extraviam-se pela densa floresta das visões erróneas,abraçando todas essas sessenta e duas visões.Estão constantemente comprometidos com falsas e vãs doutrinas,agarrados firmemente a elas, incapazes de as pôr de lado.Arrogantes e ufanos de auto-estima,aduladores e invejosos, de mente insincera,durante mil, dez mil, um milhão de kalpaseles não ouvirão o nome de Buddha,nem ouvirão a correcta Lei -essas pessoas são difíceis de salvar.Por estas razões, Shariputra,eu estabeleci, pelo seu bem, meios expeditos,ensinando a via que põe um fim a todo o sofrimentoe mostrando-lhes o nirvana.Mas, embora eu lhes pregue o nirvana,essa não é a verdadeira extinção.Todos os fenómenos, desde o mais remoto começo,trazem sempre consigo as marcasda extinção tranquila.Uma vez consumadas as práticas dos filhos de Buddha,numa futura existência eles estarão aptos a tornar-se Buddhas.Eu empreguei o poder dos meios expeditospara expor e demonstrar os três veículos,mas os Honrados Pelo Mundosempre pregam a via do único veículo.Agora, perante esta grande Assembléia,eu devo esclarecer todas as dúvidas e perplexidade.Não existe discrepância nas palavras dos Buddhas,há apenas um veículo, não dois.Por inumeráveis kalpas no passado,incontáveis Buddhas que agora estão extintos,cem, mil, dez mil, milhões em número incalculável -esses Honrados Pelo Mundo,usando diferentes tipos de causas, metáforas e parábolase o poder de incontáveis meios expeditos,expuseram as características dos ensinamentos.Todos estes Honrados Pelo Mundopregaram a doutrina do único veículo,Convertendo incontáveis seres viventese fazendo-os entrar na via do Estado Búddhico.Todos estes grandes Senhores da Sabedoria,sabendo o que é desejado no íntimo das mentesdos seres celestiais e humanos e dos outros seres viventesatravés de todos os mundos,empregaram ainda outros meios expeditospara ajudar a iluminar a suprema verdade.Se existem seres viventesque encontraram estes Buddhas do passado,e se eles escutaram a sua Lei, ofereceram esmolas,mantiveram os preceitos, mostrando tolerância,sendo assíduos, praticando meditação e sabedoria, e nesse sentido,cultivaram vários tipos de mérito e virtude,pessoas como estasatingiram todas a via do Estado Búddhico.Após estes Buddhas se terem extinto,se existirem pessoas de mente boa e serena,então esse tipo de seres viventesatingiram todos a via do Estado Búddhico.Depois dos Buddhas se terem extinguido,se fizerem oferendas às relíquias,erigindo dez mil ou um milhão de variedades de torres votivas,usando ouro, prata, cristal,madrepérola e ágata,coral, lápis-lazuli, pérolas,para as purificar e adornar extensamente,ou se construírem templos mortuários de pedra,ou de sândalo ou aloés,hovénia ou outros tipos de madeira,ou de tijolo, terracota ou argila,se no meio dos vastos camposamontoarem terra para fazer um templo mortuário para os Buddhas,ou mesmo se crianças a brincarjuntarem areia para fazer uma torre votiva,então, pessoas como estasatingiram todas a via do Estado Búddhico.Se existirem pessoas que em prol dos Buddhascriem e construam imagens,esculpindo-as com os trinta e dois sinais distintivos,então todos terão atingido a via do Estado Búddhico.Ou se fizerem as imagens com os sete tesouros,ou com cobre, estanho, chumbo, bronze,madeira, barro ou resina,para representar e adornar imagens de Buddha,pessoas como essas alcançaram todas a via do Estado Búddhico.Se eles empregarem pigmentos para pintar imagens de Buddha,Conferindo-lhes os cem sinais sagrados,feitas por si ou encomendadas a outros,então terão todos alcançado a via do Estado Búddhico.Mesmo se crianças brincandousarem folhagem ou galhos,ou mesmo com a unhariscarem imagens de Buddha,pessoas como essaspouco a pouco irão acumulando méritoe tornar-se-ão completamente dotadas de uma mente compassiva;todos eles alcançaram a via do Estado Búddhico.Simplesmente pela conversão dos bodhisattvaselas trazem a salvação e o alívio a inumeráveis multidões.E se alguém, na presença dessas torres votivas,essas imagens de jóias ou figuras pintadas,com uma mente reverente fizer ofertasde flores, incenso, faixas ou dosséis,ou se contratarem músicos para tocar,batendo tambores, soprando trompas ou conchas,tocando flautas, alaúdes ou harpas,tangendo guitarras, címbalos e gongos,e se essas variadas e maravilhosas notasforem entendidas como oferendas;ou se alguém com uma mente radiantecantar uma canção em louvor à virtude Búddhica,mesmo que apenas uma curta nota,todos os que assim procedem alcançaram a via do Estado Búddhico.Se alguém com uma mente confusa e distraída,pegar ainda que apenas numa flore a oferecer a uma imagem,um dia acabará por ver inumeráveis Buddhas.Ou se uma pessoa fizer uma véniaou se prestar obediência,ou simplesmente juntar as palmas das mãos,ou apenas levantar uma só mão,ou conceder não mais do que um ligeiro aceno de cabeça,e se isto for oferecido a uma imagem,então a seu tempo ele chegará a ver incontáveis Buddhas.E se ele mesmo alcançar a via insuperávele espalhar a salvação por incontáveis multidões,ele entrará no nirvana não residualtal como um fogo se extingue quando se esgota o combustível.Se pessoas com mentes confusas e distraídasentrarem em torres votivase uma vez exclamarem, “Homenagem aos Buddhas!”então terão alcançado a via do Estado Búddhico.Se dos Buddhas passados,quando ainda estavam no mundo ou uma vez extintos,eles ouvirem ainda que apenas o nome da Lei,então todos terão alcançado a via do Estado Búddhico.Os Honrados Pelo Mundo do futuro,cujo número será incalculável,esses Tathagatastambém empregarão meios expeditos para pregar a Lei,e todos estes Tathagatas,através de incontáveis meios expeditossalvarão e trarão alívio aos seres viventes,de modo a que estes entrem na sabedoria Búddhicaque é livre de imperfeições.Se existirem esses que ouçam a Lei,então nem um deixará de atingir o Estado Búddhico.O voto original dos Buddhasfoi de que a via do Estado Búddhico, por eles mesmos praticada,seja partilhada universalmente entre os seres viventesde modo a que também eles possam alcançá-la da mesma forma.Os Buddhas de eras futuras,ainda que preguem centenas, milhares, milhões,incontáveis doutrinas,na verdade fazem-no em prol do veículo único.Os Buddhas, mais honrados de entre os humanos,sabem que os fenómenos não têm natureza constante e permanente,que a semente do Estado Búddhico brota da causalidade,e por essa razão eles pregam o veículo único.Mas que estes fenómenos são parte de uma Lei perpétuae as características do mundo são sempre manifestas -isto eles ficaram a conhecer no lugar da iluminaçãoe como líderes e mestres eles pregam meios expeditos.Os Buddhas actualmente existentes nas dez direcções,a quem os seres celestiais e humanos fazem oferendas,que em número são como as areias do Ganges,apareceram no mundode modo a trazer a paz e o conforto aos seres viventes,e também eles pregam a Lei desta forma.Eles entendem as acções dos seres viventes,os pensamentos que jazem no fundo das suas mentes,as acções cometidas no passado,os seus desejos, natureza, o poder dos seus esforços,se as suas capacidades são apuradas ou fracas,e assim eles empregam várias causas e condições,metáforas, parábolas e outras palavras e frases,adoptando quaisquer meios expeditos que sejam adequados à sua pregação.Agora também eu sou assim;por forma a trazer paz e conforto aos seres viventesemprego várias doutrinas diferentespara disseminar a via do Estado Búddhico.Através do poder da minha sabedoriaeu sei a natureza e os desejos dos seres viventese com meios expeditos prego estas doutrinas,fazendo com que todos os seres viventes alcancem contentamento e alegria.Shariputra, deves compreenderque eu vejo as coisas através do olho Búddhico,eu vejo os seres viventes nos seis reinos,quão pobres e angustiados eles são, sem mérito ou sabedoria,como eles entram na perigosa estrada do nascimento e da morte,os seus sofrimentos continuando sem cessar,quão profundamente eles estão apegados aos cinco desejos,como um yake enamorado da sua cauda,cegando-se com a ganância e a presunção,a sua visão deteriorada até nada conseguirem ver.Eles não procuram o Buddha, com o seu grande poder,ou a Lei que pode pôr fim aos seus sofrimentos,mas embrenham-se nas suas noções erróneas,esperando libertar-se do sofrimento com mais sofrimento.Pelo bem destes seres viventes eu gero uma mente de grande compaixão.Quando no início ocupei o lugar da iluminação,pelo espaço de três vezes sete dias eu ponderei este assunto,fitando a árvore ai existente e andando à sua volta.A sabedoria que eu obtive, pensei,é subtil, maravilhosa e suprema,mas os seres viventes estão embotados pela ignorância,dependentes do prazer e cegos pela estupidez.Com pessoas como estas,que posso dizer, como posso eu salvá-las?Nessa ocasião os reis Brahma,em conjunto com o rei celestial Shakra,os Quatro Reis Celestiais que guardam o mundoe o rei celestial Grande Liberdade,na companhia de outros seres celestiaise das suas centenas de seguidores,reverentemente juntaram as palmas das suas mãos e fizeram uma vénia,rogando-me que fizesse girar a roda da Lei.De imediato pensei para comigoque se eu meramente louvasse o veículo Búddhico,os seres viventes, atolados no seu sofrimento,seriam incapazes de acreditar nesta Lei.Assim, por rejeitarem a Lei e não crerem nela,eles cairiam nos três maus caminhosSeria melhor que eu não pregasse a Leimas antes entrasse rapidamente no nirvana.Então os meus pensamentos viraram-se para os Buddhas do passadoe para o poder dos meios expeditos por eles empregues,e pensei que a via que eu tinha então alcançadodevia igualmente ser pregada como três veículos.Quando assim pensei,todos os Buddhas das dez direcções me aparecerame com sons Brahma confortaram-me e instruíram-me.“Muito bem, Shakyamuni!” disseram eles.“Supremo líder e mestre,tu alcançaste a Lei insuperável.Mas seguindo o exemplo de todos os outros Buddhas,empregarás o poder dos meios expeditos.Nós também obtivemos a mais maravilhosa, a suprema Lei,mas em prol dos seres viventesfazemos distinções e pregamos os três veículos.Pessoas de pequena sabedoria deleitam-se numa pequena Lei,incapazes de acreditar que eles mesmos se podem tornar Buddhas.Por isso nós pregamos meios expeditos,fazendo distinções e pregando vários objectivos,Mas ainda que preguemos os três veículos,fazemo-lo por forma a instruir os bodhisattvas.”Shariputra, deves entender isto,quando eu ouvi estes santos leõese a sua profunda, pura, subtil, maravilhosa voz,eu rejubilei e chorando disse “ Homenagem aos Buddhas!”Então pensei para comigo,eu vim a este impuro e malévolo mundoe de acordo com o que estes Buddhas pregaram,eu devo agir segundo o seu exemplo.Após ter tido estes pensamentossegui de imediato para Varanasi (Benares).As marcas da extinção tranquila de todos os fenómenosnão podem ser expressas por palavras,por isso eu usei o poder dos meios expeditospara pregar aos cinco ascetas.A isto eu chamei “girar a roda da Lei”,também utilizei os sons “nirvana”,“arhat”, “Dharma” e “Sanga” -vários termos para indicar distinções.“Desde há infinitos kalpas no passadoeu tenho elogiado e ensinado a Lei do nirvana,pondo fim ao longo sofrimento do nascimento e da morte.”Assim eu costumo pregar.Shariputra, deves saber isto,quando olhei para os filhos de Buddha,vi incalculáveis milhares, dezenas de milhar, milhõesque decidiram seguir a via do Estado Búddhico,todos com uma mente respeitosa e reverente,todos vindo ao encontro do lugar do Buddha,pessoas que no passado ouviram outros Buddhase ouviram a Lei pregada segundo meios expeditos.De imediato eu penseique a razão do aparecimento do Tathagataé ele poder pregar a sabedoria Búddhica.Agora é precisamente o momento para isso.Shariputra, deves compreenderque pessoas de fracas capacidades e pequena sabedoria,apegadas às aparências, orgulhosas e arrogantes,são incapazes de acreditar nesta Lei.Agora eu, alegre e destemido,ponho de lado francamente os meios expeditos,e prego unicamente a Via insuperável.Quando os bodhisattvas ouvirem esta Lei,serão libertados de todas os emaranhados da dúvida.As doze centenas de Arhats,também eles atingirão o Estado Búddhico.Seguindo o modelo que os Buddhasdos três períodos de tempoempregam para pregar a Lei,eu farei agora da mesma forma,pregando a Lei que é isenta de distinções.Os tempos em que os Buddhas aparecem no mundo são muito espaçados entre sie difíceis de encontrar.Mesmo quando aparecem no mundoé-lhes difícil pregar a Lei.Através de incalculáveis, inumeráveis kalpasé raro esta Lei ser ouvidae alguém capaz de a ouvir é igualmente raro.É como a flor da udumbaraque deleita o mundo, adorada por todos,olhada como rara por seres celestiais e humanos,e que aparece apenas uma vez em muitas eras.Se uma pessoa ouve esta Lei,se deleita com ela e a louva,mesmo que profira apenas uma palavra,faz com isso oferendas a todos os Buddhas dos três períodos de tempo.Mas uma pessoa assim é rara de encontrar,mais do que a flor da udumbara.Não deves ter dúvidas,sendo eu o rei das doutrinas,faço esta proclamação a toda a grande Assembléia.Eu emprego apenas a via do veículo únicopara converter e instruir os bodhisattvas,não tenho discípulos ouvintes.Tu, Shariputra,e todos os ouvintes e bodhisattvas,devem compreender que esta maravilhosa Leié o segredo essencial dos Buddhas.Neste mundo maligno das cinco impurezasesses que apenas se apegam aos desejosdeleitando-se com eles,seres viventes como esses,no final nunca procurarão a via do Estado Búddhico.Quando pessoas malévolas de eras futurasouvirem o Buddha pregar o veículo único,ficarão confusas, sem o acreditar ou aceitar,rejeitarão a Lei e cairão nos maus caminhos.Mas quando existirem pessoas modestas e puras,determinadas a procurar a via do Estado Búddhico,então, pelo seu bem,eu devo louvar a via do veículo único.Shariputra, deves entender isto,assim é a Lei dos Buddhas.Empregando dez mil, um milhão de meios expeditos,eles pregam a Lei de acordo com o que é apropriado.Os que não são versados neste assuntonão podem compreender inteiramente.Mas tu e os outros já sabemcomo os Buddhas, os mestres do mundo, empregam meios expeditosde acordo com o que é apropriado.Não tereis mais dúvidas ou perplexidadesmas, com as vossas mentes plenas de alegria,sabereis que voz mesmos haveis de atingir o Estado Búddhico.
Capítulo Três: Metáforas e Parábolas
Nessa altura a mente de Shariputra dançou de alegria. Levantou-se então de imediato, juntou as palmas das mãos, fitou reverentemente o rosto do Mais Honrado e disse a Buddha, “Agora mesmo, quando ouvi o Honrado Pelo Mundo, esta voz da Lei, a minha mente pareceu dançar e eu ganhei o que nunca antes possuí. Porque digo isto? Porque no passado, quando ouvia do Buddha uma Lei deste tipo e via como os boddhisattvas recebiam as profecias de que a seu tempo atingiriam o Buddhado, eu e os outros sentíamos que éramos alheios a esse assunto. Ficávamos profundamente magoados por pensar que nunca ganharíamos a imensurável perspicácia do Tathagata.“Honrado Pelo Mundo, eu vivi constantemente na floresta montanhosa ou sozinho dentro de árvores, umas vezes sentado, outras caminhando, e sempre pensei para comigo que se eu e os outros entramos igualmente na natureza da Lei, porque razão o Tathagata utiliza o Veículo Menor para nos trazer a salvação?“Mas a falha é nossa, não do Honrado Pelo Mundo. Porque digo isto? Se ele tivesse podido esperar que o verdadeiro sentido de anuttara-samyak-sambodhi fosse pregado, teríamos seguramente obtido alívio mediante o Grande Veículo. Mas nós não entendemos que o Buddha empregava meios expeditos e pregava o que estava de acordo com as circunstâncias. Portanto, quando primeiro ouvimos a Lei do Buddha, imediatamente acreditamos nela e a aceitamos, supondo ter ganho o esclarecimento.Honrado Pelo Mundo, por um longo tempo, de dia e de noite, eu me penalizei repetidamente com este pensamento, mas agora ouvi do Buddha o que nunca tinha ouvido, uma Lei nunca antes conhecida, que pôs fim a todas as minhas dúvidas e lamentações. O meu corpo e a minha mente estão descontraídas e eu obtive uma maravilhosa sensação de paz e segurança. Hoje compreendi finalmente que sou um filho de Buddha, nascido da sua boca, nascido através da conversão à Lei, ganhando a minha parcela da Lei de Buddha!”Então Shariputra, desejando expor o seu sentido das suas palavras uma vez mais, falou em verso, dizendo:Quando ouvi o som desta Lei, ganhei o que nunca antes possuí.A minha mente ficou cheia de alegria, fui aliviado dos laços da rede da dúvida.Desde o passado recebi os ensinamentos do Buddha e nunca foi renegado o Grande Veículo.O som de Buddha é muito raro de escutar, mas consegue libertar os seres viventes da aflição.Já tinha posto um fim a todas as falhas, e ouvindo isto, estou livre de aflições e cuidados.Vivi nos vales das montanhas ou sob as árvores da floresta, por vezes sentado, por vezes andando, e constantemente pensei neste assunto-quão severamente me penalizei!“Porque fui iludido?” eu dizia.“Eu e os outros somos também filhos de Buddha, entramos da mesma forma na Lei que é sem falhas, porém nos tempos vindouros nunca seremos capazes de expor a via insuperável.O corpo dourado, as trinta e duas características, os dez poderes, as várias emancipações-ainda que partilhemos uma mesma Lei, isso nunca haveremos de obter!Os dezoito tipos de maravilhosas características,as dezoito propriedades exclusivas-méritos como esses estão todos perdidos para nós!”Quando deambulava sozinho, via o Buddha entre a grande assembleia, a sua fama enchendo as dez direcções, levando bem longe os benefícios aos seres viventes, e eu pensava para mim mesmo, estou privado desses benefícios!Quão grandemente eu fui iludido!Constantemente, de dia ou de noite, quando ponderava sobre isto, eu queria perguntar ao Honrado Pelo Mundo se eu de facto tinha sido ou não privado.Constantemente eu via o Honrado Pelo Mundo louvando os boddhisattvas, então, de dia e de noiteeu matutava neste assunto.Mas agora eu ouvi a voz de Buddha e vi-o pregar a Lei de acordo com o que é apropriado, utilizando esta doutrina sem falhas, difícil de conceber, para levar as pessoas ao lugar da iluminação.Anteriormente eu estava apegado a noções erróneas, agindo como mestre para os Brahmans.Mas o Honrado Pelo Mundo, sabendo o que ia em minha mente, desenraizou todos os meus errose pregou-me o nirvana.Eu fui liberto dos meus erros e ganhei a compreensão da Lei da vacuidade.Nessa altura a minha mente disse-me que atingira o estado de extinção, mas agora eu reconheço que essa não era a verdadeira extinção.Se o tempo vier em que eu me tornarei um Buddha, então possuirei as trinta e duas características e os seres celestiais e humanos, os muitos yakshas, dragões, espíritos e outros prestar-me-ão reverência.Quando esse tempo chegar, então poderei dizer que por fim tudo foi removido sem deixar resíduo.No meio da grande assembleia, o Buddha declarou que eu me tornaria um Buddha.Quando ouvi o som desta Lei,as minhas dúvidas e remorsos foram removidos.A princípio, quando ouvi a pregação do Buddha,fiquei atónito e em dúvida.“Não será este um demónio fazendo-se passar pelo Buddha, tentando perturbar e confundir a minha mente?”- pensei.Mas o Buddha empregou várias causas,metáforas e parábolas, expondo eloquentemente.A sua mente era pacífica como o mar, e conforme ia ouvindo, ia sendo libertado das redes da dúvida.O Buddha disse que em eras passadas os incontáveis Buddhas que se extinguiram, recorreram aos meios expeditos e fixaram-se neles, e todos da mesma forma pregaram a Lei.Os Buddhas do presente e do futuro, cujos números estão para lá de qualquer cálculo, irão também utilizar meios expeditos, e pregar igualmente esta Lei.Assim o presente Honrado Pelo Mundo, tendo nascido e mais tarde deixado a sua família, alcançado a iluminação e feito girar a roda da Lei, igualmente emprega meios expeditos na sua pregação.O Honrado Pelo Mundo prega a verdadeira via.Papiyas não procederiam da mesma forma.Daí que eu sei com certeza que este não é um demónio a fingir ser o Buddha.Mas por eu ter caído nas redes da dúvidaeu pensei ser isto um trabalho do demónio.Agora eu ouço o suave e gentil som do Buddha, profundo e de longo alcance, extremamente subtil e maravilhoso, discursando e expondo a pura Lei, e a minha mente está plena de alegria.As minhas dúvidas e remorsos estão para sempre acabados, eu repousarei e permanecerei na verdadeira sabedoria.Estou certo de que me tornarei um Buddha, a ser reverenciado por seres celestiais e humanos, girando a roda da Lei insuperável e ensinando e convertendo os boddhisattvas.Nessa ocasião o Buddha disse para Shariputra, ”Agora, no meio desta grande assembleia de seres celestiais e humanos, shramanas, Brahmans e outros, eu digo: no passado, sob os auspícios de vinte mil milhões de Buddhas, pelo bem da Lei insuperável, eu constantemente te converti e ensinei; e tu, através da longa noite seguiste-me e aceitas-te a minha instrução. Agora, porque eu quero que lembres a via que inicialmente fizeste o voto de seguir, pelo bem dos ouvintes estou a pregar este sutra do Grande Veículo chamado Lótus da Lei Maravilhosa, uma Lei para instruir os Boddhisattvas, uma Lei que é guardada em mente pelos Buddhas.“Shariputra, em épocas vindouras, após incontáveis, inconcebíveis números de kalpas terem passado, tu terás feito oferendas a alguns milhares, dezenas de milhares de milhões de Buddhas, e honrado e sustentado a correcta Lei. Tu cumprirás cada aspecto da via dos boddhisattvas e estarás apto a tornar-te um Buddha com o nome de Brilho da Flor [Padmaprabha], Tathagata, merecedor de oferendas, de recta e universal sabedoria, clareza e conduta perfeitas, bem aventurado, compreendendo o mundo, de inexcedível mérito, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo.“O teu mundo será chamado Livre de Impureza [Viraga], a terra será plana e suave, pura e adornada com beleza, pacífica, generosa e feliz. Seres celestiais e humanos irão ai desenvolver-se. O chão será de lapiz-lazuli, as estradas cruzá-la-ão em oito direcções e cordões de ouro marcarão as suas bermas. Junto a cada estrada crescerão renques de árvores formadas pelos sete tesouros, que constantemente darão flores e frutos. Este Tathagata Brilho da Flor empregará os três veículos para ensinar e converter os seres viventes.“Shariputra, quando este Buddha aparecer, ainda que não se trate de uma era malévola, devido ao seu voto original ele pregará segundo os três veículos. O seu kalpa será chamado Adornado Com o Grande Tesouro [Mahâratnapratimandita].Porque será assim chamado, Adornado Com o Grande Tesouro? Porque nessa terra os boddhisattvas serão olhados como um grande tesouro. Esses boddhisattvas serão incontáveis, ilimitados, em número inconcebível, para lá do alcance de qualquer cálculo ou de qualquer metáfora ou parábola. Onde quer que estes boddhisattvas desejem ir, flores de jóias sustentarão os seus pés.“Estes boddhisattvas não terão apenas concebido o desejo de atingir a iluminação, mas todos terão despendido um longo tempo a plantar as raízes da virtude. Sob os auspícios de incontáveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de Buddhas eles terão levado a cabo sem qualquer falha práticas Brahma, e serão perpetuamente louvados pelos Buddhas. Terão constantemente cultivado a sabedoria Búddhica, adquirindo grandes poderes transcendentais e entendendo cabalmente os acessos a todas as doutrinas. Eles serão rectos de carácter, sem duplicidade, firmes de mente e intenção. Boddhisattvas como estes abundarão nessa terra.“Shariputra, a duração da vida do Buddha Brilho da Flor será de doze pequenos kalpas, sem contar os tempos em que ele será ainda príncipe e antes de se tornar um Buddha. As pessoas dessa terra viverão por oito pequenos kalpas. Quando o Tathagata Brilho da Flor tiver vívido por doze pequenos kalpas, ele profetizará que o boddhisattva Pleno de Firmeza [Dhritiparipûrnan] alcançará annutara-samyak-sambodhi. Ele anunciará aos monges, “Este boddhisattva Pleno de Firmeza será o próximo a tornar-se um Buddha. Ele será chamado Pé de Flor de Andar Seguro [Padmavrishabhavikrâmin], Tathagata, arhat, samiak-sambuddha. A sua terra Búddhica será como a minha”.“Shariputra, após o Buddha Brilho da Flor se ter extinguido, a era da sua Correcta Lei terá a duração de trinta e dois pequenos kalpas e a era da sua Lei Adulterada durará por outros trinta e dois pequenos kalpas.”Então o Honrado pelo Mundo, desejando afirmar uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:“Shariputra, numa época vindoura tu tornar-te-ás um Buddha, de sabedoria universal, venerável, portador do nome Brilho da Flor, e salvarás incontáveis multidões.Farás ofertas a inumeráveis Buddhas, e serás dotado com as práticas do boddhisattva, os dez poderes e outras bênçãos, e realizarás a via insuperável.Após incontáveis kalpas terem passado, o teu kalpa será chamado Adornado Com o Grande Tesouro.O teu mundo chamar-se-á Livre de Impureza, puro, sem falha ou mácula.A terra desse mundo será feita de lápiz-lázuli,as suas estradas demarcadas com cordões de ouro, e árvores feitas dos sete tesouros numa mistura de cores darão constantemente flores e frutos.Os boddhisattvas desse reino serão sempre firmes de pensamento e intenção.Poderes transcendentais e paramitas-cada um será dotado com todos eles, e sob os auspícios de inumeráveis Buddhas eles diligentemente estudarão a via do boddhisattva.Então esses grandes homens serão convertidos pelo Buddha Brilho da Flor.Quando o Buddha era ainda um príncipe, ele abandonou o seu país, abandonou a glória mundana,e na sua encarnação final deixou a sua família e alcançou a via do Buddhado.O Buddha Brilho da Flor continuará no mundo por um tempo de vida de doze pequenos kalpas.As numerosas pessoas desta terra terão uma esperança de vida de oito pequenos kalpas.Após esse Buddha se ter extinguido, a Correcta Lei perdurará no mundo durante trinta e dois pequenos kalpas, salvando seres viventes em toda a parte.Quando a Correcta Lei tiver passado, a Lei Adulterada perdurará por trinta e dois pequenos kalpas.As relíquias do Buddha circularão largamente; seres celestiais e humanos em toda a parte lhes farão oferendas.As acções do Buddha Brilho da Flor serão todas como eu disse.O mais santo e venerável dos seres humanos será excelente e sem igual.Deves rejubilar e sentires-te afortunado pois tu serás esse Buddha!Nessa altura, quando os quatro tipos de crentes, nomeadamente, monges, monjas, irmãos e irmãs leigos, bem como os seres celestiais, dragões, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas e outros na grande assembleia viram Shariputra receber esta profecia do Buddha de que ele alcançaria anuttara-samyak-sambodhi, os seus corações encheram-se de alegria e não pararam de dançar. Cada um despiu o manto exterior que estavam a usar e apresentou-o como oferenda ao Buddha. O indra Shakra Devanam, o Rei Brahma e os incontáveis filhos de deuses, fazendo cair flores celestiais de mandarava e de grande mandarava, despiram da mesma forma os seus maravilhosos mantos celestiais e ofereceram-nos ao Buddha. Os mantos celestiais por eles espalhados ficaram suspensos, girando no ar. Os seres celestiais compuseram música, com uma centena, um milhar, dezenas de milhares de variedades de instrumentos musicais celestes, tocando no ar ao mesmo tempo, e fazendo chover uma profusão de flores celestiais proferiram estas palavras: “no passado, em Varanasi, o Buddha fez pela primeira vez girar a roda da Lei. Agora ele novamente faz girar a roda da Lei insuperável, da mais suprema Lei!”Então os filhos de deuses, desejando afirmar uma vez mais o sentido das suas palavras, falaram em verso dizendo:No passado em VaranasiTu fizeste girar a roda da Lei das quatro nobres verdades, fazendo distinções, pregando que todas as coisas nascem e extinguem-se,sendo compostas pelos cinco agregados.Agora tu fazes girar a roda da mais maravilhosa, da insuperável grande Lei.Esta Lei é muito profunda e obscura;poucos são os que nela podem acreditar.Desde tempos passados nós ouvimos o Honrado Pelo Mundo pregar, mas nunca ouvimos esta profunda, maravilhosa e suprema Lei.Desde que o Honrado Pelo Mundo prega esta lei, todos a acolhemos com alegria.Shariputra com a sua grande sabedoria recebeu agora esta venerável profecia.Também nós , da mesma forma, iremos seguramente ser capazes de alcançar o Buddhado, que em todos os mundos é o mais venerável e supremo objectivo.A via do Buddha é difícil de conceber, mas tu pregarás com meios expeditos, de acordo com o que é apropriado.Que também nós, mercê dos actos meritórios que fizemos nesta ou em passadas existências, e as bênçãos ganhas ao assistir os Buddhas,possamos alcançar o Buddhado.Nessa altura Shariputra disse para Buddha: “Honrado Pelo mundo, agora não tenho mais dúvidas ou remorsos. Recebi pessoalmente do Buddha esta profecia de que atingirei annutara-samyak-sambhodi. Estas doze mil pessoas aqui presentes, cujas mentes são livres no passado permaneceram no nível de aprendizado e o Buddha constantemente as ensinou e converteu, dizendo, “A minha Lei pode libertar-vos do nascimento, da velhice e da morte e possibilitar-vos atingir por fim o nirvana.” Estas pessoas, algumas das quais estão ainda a aprender e outras já completaram o seu aprendizado, cada uma acreditou que, uma vez que abandonaram as noções de “ego” bem como as noções de “existência” e de “não existência”, tinham já atingido o nirvana. Mas agora, do Honrado Pelo Mundo eles ouvem o que nunca ouviram antes, caindo todos em dúvida e perplexidade.“Pois bem, Honrado Pelo Mundo. Eu rogo-te que pelo bem dos quatro tipos de crentes expliques as causas e condições tornando possível que eles dissipem as suas dúvidas e remorsos.”Então o Buddha disse para Shariputra, “Não te disse eu antes que quando os Buddhas, os Honrados Pelo Mundo citam várias causas e condições e usam metáforas, parábolas e outras expressões, empregando meios expeditos para pregar a lei, o fazem sempre em nome de anuttara-samyak-sambhodi? Tudo o que é pregado é sempre com vista à conversão dos boddhisattvas.Ainda assim, Shariputra, também agora eu farei uso de uma parábola para melhor clarificar esta doutrina. Através de metáforas e parábolas os que são sagazes podem atingir a compreensão.“Shariputra, supõe que numa certa cidade de um certo país havia um homem muito rico. Ele estava já entrado em anos e a sua riqueza não tinha medida. Ele possuía muitos terrenos, casas e servos. A sua casa era grande e complexa, mas tinha só uma porta. Muita gente morava na casa - cem, duzentas ou mesmo quinhentas pessoas. Os salões e quartos eram velhos e decrépitos, as paredes estavam a derrocar, os pilares ruindo pela base e as vigas e traves retorcidas e descaídas.“Então, subitamente, ateou-se um fogo que atingiu toda a casa, galgando as suas paredes. Os filhos desse homem rico, dez, vinte, talvez trinta, estavam no interior da casa. Quando o homem viu as enormes chamas saindo pelos lados da casa, ficou extremamente alarmado e apavorado pensando para si mesmo, “Eu consigo escapar com segurança por entre a porta em chamas, mas os meus filhos estão lá dentro entretidos com os seus jogos, alheados de tudo, sem alarme ou medo. O fogo está a cercá-los, ameaçados pela dor e pelo sofrimento, porém as suas mentes não têm noção do perigo e não pensam em tentar escapar!“Shariputra, este homem rico pensou para si próprio, ”Eu tenho força no meu corpo e membros. Podia embrulhá-los num cobertor e carregando-os no colo, traze-los para fora da casa. Mas então teve um outro pensamento, ”A casa tem apenas uma porta que ademais é estreita e pequena.Os meus filhos são muito novos, eles não têm entendimento, e gostam dos seus jogos, estando tão absortos neles que correm o risco de morrerem queimados. Tenho de lhes explicar porque estou tão alarmado. A casa já está em chamas e eu tenho que tirá-los dali depressa e salvá-los do fogo!“Tendo pensado isto, começou a chamar pelos filhos desta forma, “Venham cá para fora depressa!” Mas apesar dos chamamentos do pai, cheio de preocupação, os filhos estavam tão absorvidos nos seus jogos que nem lhe deram ouvidos. Além disso, não perceberam os riscos da sua situação, com o fogo e a decrepitude da casa. Correram neste e naquele sentido sem atenderem aos apelos do seu pai.“Então, o homem teve este pensamento: a casa já está em chamas com este grande incêndio. Se os meus filhos não saírem de imediato, decerto ficarão queimados. Devo por isso inventar um meio expedito que torne possível às crianças escapar ilesas.“O pai compreendia os seus filhos e conhecia os vários brinquedos e objectos curiosos de que eles gostavam e que poderiam deleitá-los. Então ele disse-lhes, “O tipo de brinquedos de que vocês gostam são raros e difíceis de encontrar. Se não aproveitarem as oportunidades para os conseguirem decerto virão a arrepender-se. Por exemplo, coisas como carros, puxados por cabras, por veados ou por búfalos. Eles estão agora no exterior da casa onde podeis brincar com eles. Por isso têm de sair desta casa incendiada de imediato. Então, qualquer brinquedo que queirais eu o oferecerei!“Então, quando os filhos ouviram o seu pai falar-lhes acerca desses raros brinquedos, porque essas eram justamente o que eles queriam, cada um ficou entusiasmado e empurrando-se uns aos outros, saíram precipitadamente da casa em chamas.“Então, o rico homem, vendo que os seus filhos tinham saído sãos e salvos e estavam todos sentados no exterior, livres de perigo, ficou grandemente aliviado e a sua mente dançou de alegria. Nessa altura cada um dos filhos disse ao pai, “os brinquedos que nos prometeste, os carros de cabras, veados e búfalos, por favor entrega-os agora!”“Shariputra, nessa ocasião o homem rico deu a cada um dos seus filhos uma grande carruagem de igual tamanho e qualidade. As carruagens eram altas e espaçosas, ricamente adornadas. Um gradeamento a toda a volta tinha campainhas. Um dossel estava armado no topo, decorado com um sortido de preciosas jóias. Cordões de jóias e grinaldas de flores pendiam à volta e o interior era acolchoado e com almofadas púrpuras. Cada carruagem era puxada por um búfalo branco, de pele pura e limpa, formoso e forte, capaz de puxar a carruagem suave e firmemente, num andamento rápido como o vento. Além disso, muitos cocheiros e criados se perfilavam para servir e para guardar a carruagem.“Qual a razão de tudo isto? A fortuna desse homem rico era ilimitada e ele tinha imensos armazéns a abarrotar de mercadoria. Ele pensou para si mesmo, “As minhas posses não têm fim. Não estaria certo se eu desse aos meus filhos carruagens de qualidade inferior. Estes pequenos são todos meus filhos e eu amo-os sem parcialidade. Eu tenho incontáveis números de grandes carruagens adornadas com os sete tesouros. Devo ser equânime e dar uma a cada um dos meus filhos, sem fazer qualquer discriminação. Porquê? Porque mesmo distribuindo estes bens por cada uma das pessoas do meu reino eu não esgotaria as minhas posses, muito menos dando-as aos meus filhos.“Nessa altura, cada um dos filhos subiu para a sua carruagem, ganhando o que nunca antes possuíra, algo que excedia quaisquer das suas expectativas. Shariputra, o que pensas disto? Quando este homem rico deu com imparcialidade estas grandes carruagens aos seus filhos, adornadas com raras jóias, foi culpado de falsidade ou não?”Shariputra disse, “Não honrado Pelo Mundo. Esse homem rico apenas tornou possível aos seus filhos escapar do perigo do fogo e preservar as suas vidas. Ele não incorreu em falsidade. Porque digo isto? Porque ao salvarem as suas vidas eles receberam já uma oferta excelente, principalmente quando, através de um meio expedito, conseguiram escapar da casa em chamas! Honrado Pelo mundo, ainda que o homem rico não lhes tivesse dado qualquer carruagem, ele mesmo assim não seria culpado de falsidade. Porquê? Porque originalmente, a sua intenção foi empregar um meio expedito para fazer os seus filhos escapar. Usar um artificio deste género não é falsidade. Muito menos quando ele sabia que a sua fortuna era ilimitada e tencionava enriquecer e beneficiar os seus filhos dando a cada um deles uma grande carruagem.”O Buddha disse para Shariputra, “Muito bem, muito bem. É tal como disseste. Shariputra, assim é o Honrado pelo Mundo. Ele é um pai para o mundo. Os seus medos, preocupações e ansiedades, ignorância e incompreensão chegaram há muito ao fim, sem que tivessem deixado resíduo. Ele foi completamente bem sucedido na aquisição de imensurável sagacidade, poder e liberdade perante o medo, tendo ganho poderes sobrenaturais e o poder da sabedoria. Ele está investido com os meios expeditos e com o paramita da sabedoria, a sua misericórdia e grande compaixão são constantes e sem esmorecimento; em todas as ocasiões ele procura o que é bom para beneficio de todos.“Ele nasce no triplo mundo, numa casa em chamas, velha e decrépita, por forma a salvar os seres viventes das fogueiras do nascimento, da velhice, da doença e da morte, da preocupação e do sofrimento, da estupidez, da incompreensão e dos três venenos; para ensiná-los e convertê-los permitindo-lhes alcançar anuttara-samyak-sambhodi.“Ele vê os seres viventes atormentados e consumidos pela velhice, doença e morte, preocupação e sofrimento, vê-os incorrer em muitas formas de dor devido às suas ganâncias e apegos e lutar assoberbados por numerosas penas na sua presente existência, e Vê-os incorrerem depois na pena de nascerem no inferno ou como animais ou espíritos esfomeados. Mesmo que nasçam no reino dos seres celestiais ou no reino dos humanos, eles padecem a dor da pobreza e da necessidade, a dor da separação dos entes queridos, a dor do encontro com aqueles que detestam - todas estas diferentes formas de dor.“Apesar de afundados no meio de tudo isto, os seres viventes divertem-se e deleitam-se, inconscientes, alheados, sem alarme ou medo. Eles não têm qualquer sentido de vontade e não fazem qualquer tentativa para escaparem. Nesta casa em chamas que é o triplo mundo, eles correm para Este e Oeste, e apesar de encontrarem grandes dores, não ficam aflitos por se libertarem.“Shariputra, quando o Buddha vê isto, pensa para si mesmo, eu sou o pai dos seres viventes e devo resgatá-los dos seus sofrimentos e dar-lhes a alegria da imensurável e ilimitada sabedoria Búddhica de modo a que eles possam regozijar-se disso.“Shariputra, o Tathagata tem também este pensamento: se eu meramente empregasse poderes sobrenaturais e o poder da sabedoria; se eu puser de lado os meios expeditos e, pelo bem dos seres viventes, louvar apenas o Tathagata na sua sagacidade, poder e liberdade perante o medo, então os seres viventes não seriam capazes de conquistar a salvação. Porquê? Porque os seres viventes ainda não escaparam do nascimento, velhice, doença, morte, preocupação e sofrimento, mas estão consumidos pelas chamas da casa a arder que é o triplo mundo. Como podem eles ser capazes de entender a sabedoria do Buddha?“Shariputra, esse homem rico, ainda que dotado da força dos seus braços, não a usou. Ele meramente utilizou um meio expedito cuidadosamente planeado e foi assim capaz de resgatar os seus filhos do perigo da casa em chamas, e depois, deu a cada um deles uma grande carruagem adornada com jóias raras. O Tathagata procede da mesma forma. Apesar de possuir poder e liberdade perante o medo, ele não os usa. Ele meramente emprega a sabedoria e os meios expeditos para resgatar os seres viventes da casa em chamas que é o triplo mundo, expondo-lhes os três veículos, o veículo do ouvinte, o do pratyekabuddha e o veículo do Buddha.“Ele diz-lhes, “Não devem contentar-se em ficar nesta casa em chamas do triplo mundo! Não sejam ávidos pelas suas grosseiras e ordinárias formas, sons, odores, sabores e sensações! Se ficarem apegados a elas e aprenderem a gostar delas, acabarão queimados! Devem sair deste triplo mundo de imediato de modo a adquirirem os três veículos, o veículo do ouvinte, o do pratyekabuddha e o veículo do Buddha. Eu prometo-vos que os conseguirão obter, e essa promessa nunca se mostrou falsa. Têm apenas que se aplicar com esforço diligente!”“O Tathagata emprega este meio expedito para atrair os seres viventes à acção. E ele diz-lhes, “Vocês devem compreender que estas doutrinas dos três veículos foram louvadas pelos sábios. Eles são livres, sem peias, não havendo mais nada que procurem ou de que dependam. Subam para estes três veículos, ganhem raízes sem falhas, poderes, consciência, meditação, emancipação, samadhis, a via, e depois alegrem-se. Vocês ganharão o deleite da paz e segurança imensuráveis”.“Shariputra, se existirem seres viventes que sejam, de sua natureza intimamente sábios, que atendam o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, ouçam a Lei, acreditem nela e a aceitem, e esforçando-se diligentemente, desejem escapar rapidamente do triplo mundo e procurem atingir o nirvana, eles devem ser chamados [condutores do] veículo do ouvinte. Eles são como aqueles filhos que saem da casa em chamas na esperança de encontrar o carro puxado por cabras.“Se existirem seres viventes que atendam o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, ouçam a Lei, acreditem nela e a aceitem, e esforçando-se diligentemente, procurem a sabedoria por si mesmos, deleitando-se solitariamente na bondade e na tranquilidade, entendendo profundamente as causas e condições de todos os fenómenos, eles devem ser chamados [condutores do] veículo do pratyekabuddha. Eles são como aqueles filhos que saem da casa em chamas na esperança de encontrar o carro puxado por veados.“Se existirem seres viventes que atendam o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, ouçam a Lei, acreditem nela e a aceitem, e esforçando-se diligentemente, procurem a sabedoria e a perspicácia do Tathagata, os poderes e a liberdade perante o medo, condoendo-se de inumeráveis seres viventes, confortando-os, trazendo benefícios a seres celestiais e humanos, salvando-os a todos, eles devem ser chamados [condutores do] Grande Veículo. Por os bodhisattvas procurarem este veículo são chamados mahasattvas. Eles são como aqueles filhos que saem da casa em chamas na esperança de encontrar o carro puxado por búfalos.“Shariputra, esse homem rico, vendo que todos os seus filhos tinham saído da casa em chamas, não correndo já qualquer perigo, recordou que a sua fortuna era imensurável e presenteou cada um deles com uma grande carruagem. O Tathagata procede da mesma forma. Ele é o pai de todos os seres viventes. Quando ele vê que incontáveis milhares de milhões de seres viventes, através do portal dos ensinamentos do Buddha, conseguem escapar às dores do triplo mundo, o caminho medonho e perigoso, e atingem os deleites do nirvana, então o Tathagata tem este pensamento: eu possuo sabedoria ilimitada e imensurável, o repositório da Lei dos Buddhas. Estes seres viventes são todos meus filhos. Eu darei a todos eles sem distinção o Grande Veículo. Não haverá um nirvana particular para cada um, mas sim o nirvana absoluto do Tathagata.“A todos os seres viventes que escaparam do triplo mundo, ele então confere os deliciosos dons da meditação, emancipação e concentração dos Buddhas. Todos estes dons são uniformes nas suas características e tipo, louvados pelos sábios, capazes de produzir o mais puro, maravilhoso, supremo deleite.“Shariputra, esse homem usou primeiro os três tipos de carruagens para atrair os seus filhos, mas depois deu a cada um apenas a grande carruagem adornada com jóias, a mais segura e confortável de todas. Apesar disto, esse homem não é culpado de falsidade. O Tathagata faz o mesmo, e ele é isento de falsidade. Primeiro ele prega os três veículos para atrair e guiar os seres viventes, mas depois emprega apenas o Grande Veículo para os salvar. Porquê? O Tathagata possui imensuráveis sabedoria, poder e liberdade perante o medo e possui o repositório da Lei. Ele é capaz de dar a todos os seres viventes a Lei do Grande Veículo. Mas nem todos são capazes de a receber.“Shariputra, por esta razão deves entender que os Buddhas empregam o poder dos meios expeditos. E porque eles o fazem, estabelecem distinções no veículo único dos Buddhas e pregam-no como sendo triplo.”O Buddha, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:Supõe que existe um Homem rico que possui uma grande casa.Esta casa é muito velha, e arruinada e degradada também.As paredes altas estão em condições perigosas, as vigas e traves retorcidas e descaídas, os alicerces e escadarias ruindo.As paredes estão rachadas e com fendas e o reboco caiu.O tecto de colmo está estragado ou caído, as goteiras dos beirais arrancadas.As cercas que a rodeavam abateram e pilhas de lixo amontoam-se por toda a parte.Umas quinhentas pessoas vivem na casa.Papagaios, corujas, falcões, águias, corvos, pegas, pombas, lagartos, cobras, víboras, escorpiões, centopeias, sapos, baratas, doninhas, ratos, ratazanas, hordas de criaturas malévolas escapulindo-se por toda a parte.Há lugares que fedem com excremento inundados por regos de imundice, onde as baratas e outros animais se juntam.Raposas, lobos e chacais roem e pisoteiam na imundice ou desmembram cadáveres, separando a carne dos ossos.Devido a isto, matilhas de cães correm para o local, raivosos e famintos, procurando comida em toda a parte,lutando e agarrando-se, rangendo os dentes, rosnando e uivando.Essa casa é medonha, assustadora,tão alterado está o seu aspecto.Em toda ela existem goblins e trolls, yakshas e espíritos malignos, que se alimentam de carne humana ou de criaturas venenosas.As várias aves malignas e bestas procriam, chocando e alimentando as suas crias, escondendo-as e protegendo-as, mas as yakshas competem entre si para as descobrir e devorar.E depois de terem comido até à saciedade, os seus corações malignos redobram de ferocidade; o som das suas disputas e lutas é deveras assustador.Demónios kumbhandaagacham-se em maciços de terra ou saltam até meio metro de altura, errando ociosamente aqui e ali, divertindo-se conforme as suas inclinações.Por vezes eles agarram um cão por duas das suas pernas e batem-lhe até ele perder a voz, ou cravam o pé no seu pescoço, deleitando-se a aterrorizá-lo.Existem ainda demónios com corpos altos e largos, nus, emaciados e escuros, vivendo lá constantemente, que gritam com vozes horrendas, berrando e exigindo comida.Há outros demónios cujas gargantas são como agulhas, ou outros ainda com cabeças iguais à de um búfalo, alguns alimentando-se de carne humana, outros devorando cães.Com os cabelos como ervas daninhas emaranhadas, cruéis, iracundos, ferozes, dominados pela fome e pela sede, eles correm guinchando e uivando.Os yakshas e espíritos esfomeadose as várias aves malignas e bestas empurram-se esfomeadas em todas as direcções, espreitando pelas janelas.Esses são os perigos desta casa, ameaças e terrores sem medida.Esta casa, velha e decrépita, pertence a um certo homem e esse homem ausentou-se e não se encontrava longe quando um incêndio deflagrou subitamente pela casa.De repente nos quatro lados da casa as chamas propagaram-se.Vigas e traves do tecto, pilares, explodiram com estrondo, estremecendo, rachando, partindo-se e ruindo com o colapso das paredes e divisórias.Os vários demónios e espíritos juntaram as suas vozes num grande gemido, os falcões, águias e outras aves, os demónios kumbhanda, estavam cheios de terror e pânico, não sabendo como escapar.As bestas malévolas e as criaturas venenosas escondidas nos seus buracos e covis e os demónios pishacha, que também viviam ai, por terem praticado tão pouco o bem, estavam angustiados com as chamas e atacavam-se uns aos outros, bebendo sangue e comendo carne de goblin.Os chacais e afins já estavam mortos por esta altura e a maioria das bestas maléficas lutavam para devorá-las.O fumo infecto rodopiava e subia, enchendo a casa por toda a parte.As centopeias, cobras venenosas e afins, chamuscadas pelo fogo,escapuliam-se dos seus buracos, enquanto os demónios kumbhanda atiravam-se a elas e comiam-nas.Além disso os espíritos famintos, com as chamas a incendiar as suas cabeças, esfomeados, sedentos, atormentados pelo calor, corriam em todas as direcções aterrorizados e confusos.Este era o estado dessa casa, realmente assustadora e terrível; afligida por inúmeros tormentos e pelo desastre do fogo.Nessa altura o dono da casa estava no exterior quando ouviu alguém dizer “Há algum tempo os teus vários filhos foram brincar para o interior da casa. Eles são muito novos e falhos de compreensão e estarão absortos nas suas diversões.”Quando o homem rico ouviu isto, correu alarmado para a casa em chamas, determinado a resgatar os seus filhos salvando-os de serem queimados pelo fogo.Ele incitou os seus filhos a ouvi-lo explicar os muitos perigos e ameaças, os espíritos maléficos e as criaturas venenosas, as chamas espalhando-se por toda a parte, a multitude de sofrimentos que se sucederiam interminavelmente, as cobras venenosas, lagartos e víboras, bem como os muitos yakshas e demónios kumbhanda, os chacais, raposas e cães, falcões, águias, papagaios, corujas, insectos rastejantes e criaturas similares, conduzidas e atormentadas pela fome e pela sede, coisas realmente temíveis.As enormes chamas do grande fogo estão ateadas em todos os lados, e apesar disto os meus filhos ainda se agarram aos seus jogos.Mas agora eu salvei-os, fazendo-os escapar do perigo.Essa é a razão, boa gente, porque eu estou alegre.”Nessa ocasião os filhos, vendo o seu pai confortavelmente sentado, foram junto dele e disseram-lhe:“Dá-nos por favor os três tipos de carruagens de jóias que nos prometeste.Disseste que se saísse-mos da casa nos darias três tipos de carruagens e que cada um de nós escolheria aquela que mais gostasse.Agora é a altura de no-las entregares!”O homem rico era muito abastado e tinha muitos armazéns.Com ouro, prata, lápis lazuli, madrepérola, ágata e outros materiais preciosos ele construiu grandes carruagens maravilhosamente adornadas e decoradas, com uma balaustrada a toda a volta e sinos pendentes dos vários lados.Cordões de ouro entrançados, redes de pérolas ajustadas sobre o topo, e franjas de flores douradas penduradas por toda a parte.Decorações multicolores rodeando e envolvendo as carruagens, sedas finas e gazes servindo de almofadas, cobertas com feltros de magnifica feitura avaliados em milhares de milhões, reluzindo brancos e puros.Aí estavam grandes búfalos brancos,lustrosos e robustos, de grande força, de formas bonitas, para puxar as carruagens de jóias, e numerosos cocheiros e servospara as acompanhar e guardar.Estas maravilhosas carruagens, o homem apresentou de igual modo a cada um dos seus filhos.Os filhos então dançaram de júbilo, subindo para as carruagens de jóias, conduzindo-as em todas as direcções, deleitando-se e divertindo-se livremente e sem estorvos. Digo-te isto, Shariputra - eu sou como esse homem rico. Eu, o mais venerável dos sábios, sou o pai deste mundo e todos os seres viventes são meus filhos.Mas eles estão profundamente apegados aos prazeres mundanos e são falhos da mente da sabedoria.Não há segurança no triplo mundo; é como uma casa em chamas, repleta com uma multitude de sofrimentos, realmente temíveis, constantemente assolada pelas amarguras e dores do nascimento, da velhice, da doença e da morte, que são como fogos, propagando-se violentamente e sem cessar.O Tathagata já deixou esta casa em chamas do triplo mundo e repousa em tranquila quietude na segurança da floresta e da planície.Mas agora este triplo mundoé todo o meu domínio, e os seres viventes nele são as minhas crianças.Agora este lugar é assolado por muitas dores e provações.Eu sou a única pessoa que pode salvar e proteger os outros, mas apesar de os ensinar e instruir eles não acreditam nem aceitam os meus ensinamentos, porque, contaminados pelos desejos, estão profundamente imersos na ganância e no apego.Assim, eu emprego um meio expedito, descrevendo-lhes os três veículos, fazendo todos os seres viventes entenderem as dores do triplo mundo e então apresento e exponho a via pela qual eles podem escapar do mundo.Se estas minhas crianças simplesmente se decidirem nas suas mentes a fazê-lo elas podem adquirir as três compreensões e os seis poderes transcendentais, podem tornar-se pratyekabuddhas ou bodhisattvas que nunca retornam.Eu digo-te, Shariputra, pelo bem dos seres viventes emprego estas metáforas e parábolas para pregar o único veículo Búddhico.Se tu e os outros forem capazes de acreditar e aceitar as minhas palavras, então estarão todos certos de atingirem a via do Buddhado.Este veículo é subtil, maravilhoso, primeiro em pureza; através dos mundos permanece insuperável.O Buddha deleita-se nele e aprova-o, e todos os seres viventes devem louvá-lo, oferecer-lhe esmolas e prestar-lhe obediência.Existem imensuráveis milhares de milhões de poderes, emancipações, sabedorias e outros atributos do Buddha,mas se a criança puder obter este veículo ele permitir-lhe-á, dia e noite por inumeráveis kalpas, encontrar agrado constante, juntar-se aos bodhisattvas e à multitude de ouvintes montando este veículo de jóias e prosseguir directamente para o lugar da iluminação.Por estas razões, ainda que alguém busque diligentemente nas dez direcções, não encontrará quaisquer outros veículos a não ser quando o Buddha os prega como meios expeditos.Digo-te, Shariputra, tu e os outros são todos meus filhos, e eu sou um pai para vós.Durante kalpas consecutivos vocês arderam nas chamas dos múltiplos sofrimentos, mas eu salvar-vos-ei a todose farei com que escapem do triplo mundo.Apesar de antes vos ter dito que havíeis alcançado a extinção, isso era apenas o fim do nascimento e da morte, não era a verdadeira extinção.Agora o que é necessário é simplesmente que adquiram a sabedoria Búddhica.Se existirem bodhisattvas aqui nesta assembleia, deixai-os com uma única mente ouvir a verdadeira Lei dos Buddhas.Se bem que os Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, empreguem meios expeditos, os seres viventes por eles convertidos são todos bodhisattvas.Se existirem pessoas de pequena sabedoria, profundamente apegadas ao amor e ao desejo - por serem assim, o Buddha prega para eles a lei do sofrimento.Então os seres viventes extasiados, tendo ganham o que nunca antes possuíram.A lei do sofrimento pregada pelos Buddhas é verdadeira e imutável.Se houverem seres viventes que não compreendam a raiz do sofrimento, que estejam profundamente apegados às causas do sofrimento e não consigam nem por um momento pô-las de parte - por eles serem assim, o Buddha usa meios expedientes para pregar a via.Quanto à causa de todo o sofrimento, ela tem a sua raiz na cobiça e no desejo.Se a cobiça e o desejo forem removidos ele não terá onde residir.Remover o sofrimento - a isto se chama a terceira lei.Pelo bem desta lei, a lei da extinção, pratica-se a via.E quando se escapa das amarras do sofrimento, a isto se chama alcançar a emancipação.Por quais meios pode alguém alcançar a emancipação?Separar-se da falsidade e da ilusão - apenas a isto se pode chamar emancipação.Mas se uma pessoa não foi verdadeiramente capaz de se emancipar de tudo, então o Buddha dirá que ele não atingiu a verdadeira extinção, porque essa pessoa não atingiu ainda a via insuperável.O meu propósito não é tentarfazer com que alcancem a extinção.Eu sou o Rei do Dharma, livre de proceder como quiser com a Lei.Para trazer paz e segurança aos seres viventes - esta é a razão do meu aparecimento no mundo.Digo-te, Shariputra, eu prego este meu selo do Dharma porque desejo trazer benefícios ao mundo.Não deves transmiti-lo imprudentemente onde quer que te encontres.Se houver alguém que o ouça, responda com alegria e o aceite com gratidão, deves saber que essa pessoa é um avivartika.Se houver alguém que acredite e aceitea Lei deste sutra, essa pessoa já viu previamente os Buddhas do passado, ofereceu-lhes esmolas respeitosamente e escutou esta Lei.Se houver alguém capaz de acreditar no que tu pregares, essa pessoa já me viu a mim, a ti, aos outros monges e aos bodhisattvas.Este Sutra do Lótus é pregado por aqueles de profunda sabedoria.Se pessoas de compreensão limitada o ouvirem, ficarão perplexas e não o compreenderão.Também em relação aos ouvintes e pratyekabuddhas, neste sutra há coisas que estão para lá dos seus poderes.Até tu, Shariputra, no caso deste sutra apenas és capaz de aceder a ele através da fé.Quanto mais então os outros ouvintes.É por esses outros ouvintes terem fé nas palavras do Buddha que eles podem agir em conformidade com este sutra e não devido a qualquer sabedoria pessoal.Da mesma forma, Shariputra, às pessoas que são arrogantes ou preguiçosas ou tomadas pelo ego, não pegues este sutra.Esses com a compreensão limitada das pessoas comuns, que são profundamente apegados aos cinco desejos, não podem compreendê-lo quando o ouvem.Não lhes pregues este sutra.Se uma pessoa não tiver fé mas em vez disso caluniar este sutra de imediato ele destruirá todas as sementes para se tornar um Buddha neste mundo.Ou talvez ele franza as sobrancelhas em sinal de dúvida ou perplexidade;ouve que eu te direi a pena que essa pessoa terá de pagar.Quer o Buddha esteja no mundo ou se tenha já extinguido, se ela caluniar um sutra como este, ou vendo alguém lê-lo, recitá-lo, copiá-lo e promovê-lo, despreze, odeie, inveje ou proceda contra essa pessoa, a pena que ela deve pagar será esta:Quando a sua vida tiver chegado ao fim ela entrará no inferno de Avichi, estará lá confinada durante todo um kalpa, e quando esse kalpa acabar, nascerá de novo lá.Ele repetirá esse ciclo por um incontável número de kalpas.Ainda que ele consiga emergir do inferno, cairá no reino das bestas, tornando-se um cão ou um chacal, a sua forma magra e desleixada, escura, descorada, com crostas e feridas, exposto à chacota dos homens.Ou ainda ele será odiado e desprezado pelos homens, constantemente assolado pela sede e pela fome, os seus ossos e carne secos, padecendo na vida tormentos e dificuldades, na morte enterrado entre as pedra.Por ter cortado as sementes do Buddhado ele sofrerá esta penalidade.Se ele se tornar um camelo ou nascer sob a forma de um burro, o seu corpo suportará constantemente pesadas cargas e terá o pau ou o chicote sempre sobre ele.Ele pensará apenas em água e erva e não compreenderá nada mais.Porque ele caluniou este sutra, esta será a punição em que incorrerá.Ou nascerá como um chacal que irá ter à povoação, o corpo cheio de chagas, tendo apenas um olho, batido pelos rapazes, sofrendo dores e penas, por vezes a ponto de morrer.E depois de ele morrer, renascerá sob a forma de serpente, longa e grande no tamanho, medindo quinhentas yojanas, surda, sem entendimento, sem pés, arrastando-se sobre a barriga, com pequenas criaturas mordendo-a e alimentando-se dela, dia e noite sofrendo dificuldades, sem nunca ter descanso.Por ter caluniado este sutra, esta é a punição em que incorrerá.Se ele vier a tornar-se um ser humano, as suas faculdades serão fracas e embotadas, ele será débil, vil, desonesto, aleijado, cego, surdo, corcunda.As coisas que disser ninguém acreditará, o hálito da sua boca será sempre infecto, ele será possuído por demónios, pobre e humilde, sujeito às ordens de outros, afligido por muitas doenças, magro e macilento, sem ninguém a quem recorrer.Ainda que se ligue a outras pessoas, elas nunca se lembrarão dele,ainda que venha a ganhar algo, isso será logo perdido ou esquecido.Ainda que pratique a arte da medicina e pelos seus métodos cure a doença de alguém, essa pessoa adoecerá de qualquer outra causa e talvez acabe até por morrer.Se ele mesmo tiver uma doença, ninguém o ajudará ou tratará, e ainda que tome bons remédios isso só piorará a sua condição.Se outros se virarem contra ele, ver-se-á despojado e roubado.Os seus pecados serão tais que lhe trarão inesperados desastres.Uma pessoa pecadora deste tipo nunca verá o Buddha, o rei de todos os sábios, pregando a Lei, ensinando e convertendo.Uma pessoa pecadora deste tipo nascerá constantemente entre dificuldades, louco, surdo, confuso em sua mente,e nunca ouvirá a Lei.Por incontáveis kalpas, numerosos como as areias do Ganges, ele ao nascer ficará surdo e idiota, com as suas faculdades diminuídas,residirá constantemente no inferno,errando por ele como se fosse um jardim,e aos outros maus caminhos da existência ele verá como sendo a sua casa.Camelo, burro, porco, cão - estas serão as formas que ele tomará.Por ter caluniado este sutra, esta é a punição em que incorrerá.Se ele se tornar um ser humano, ele será surdo, cego, idiota.Pobreza, necessidade, todas as formas de decadência serão o seu adorno; abcessos, diabetes, cicatrizes, crostas, úlceras, doenças como estas serão os seus trajes.O seu corpo cheirará sempre mal, infecto e impuro.Profundamente apegado à noção de um eu, ele incorrerá em raiva e ódio;ardendo em desejos licenciosos, ele não recusará sequer aves ou bestas.Por ter caluniado este sutra, este será o castigo em que incorrerá.Digo-te, Shariputra, se eu fosse a descrever os castigos que impendem sobre as pessoas que caluniam este sutra, poderia esgotar um kalpa sem nunca chegar ao fim.Por esta razão eu te digo expressamente, não pregues este sutra a pessoas sem sabedoria. Mas se existirem alguns de faculdades apuradas, sábios e compreensivos, de muita instrução e grande memória, que busquem a via do Buddhado, então a pessoas como estes é permitido pregares este sutra.Se existirem pessoas que tenham visto centenas de milhares de milhões de Buddhas, que tenham plantado boas raízes e sejam firmes e profundamente empenhadas, então a estas pessoas é permitido pregares este sutra.Se existirem pessoas diligentes, cultivando constantemente uma mente compassivanão poupando o corpo ou a vida, então é permitido pregares este sutra.Se existirem pessoas que sejam respeitosas e reverentes, com as suas mentes concentradas, separadas da loucura comum, vivendo isoladas nas montanhas e rios, a pessoas como estas é permitido pregares este sutra.Ainda, Shariputra, se vires alguém que se afaste das amizades nefastas e se associe com bons companheiros, a pessoas como esta é permitido pregares este sutra.Se vires um filho de Buddha, cumprindo os preceitos, limpo e sem mácula como uma jóia pura e brilhante, buscando o Sutra do Grande Veículo, a pessoas como esta é permitido pregares este sutra.Se uma pessoa for isenta de raiva, recta e gentil por natureza, compadecendo-se constantemente dos seres viventes, respeitador e reverente para com os Buddhas, a pessoas como esta é permitido pregares este sutra.Ainda, se um filho de Buddha no meio de uma grande assembleia, empregar com uma mente pura várias causas e condições, metáforas, parábolas e outras expressões para pregar a Lei de forma clara, a pessoas como esta é permitido pregares este sutra.Se existirem monges que pelo bem da clara sabedoria, procurarem a Lei em todas as direcções, juntando as palmas das mãos reverentemente, com gratidão, desejando apenas aceitarcom gratidão o sutra do grande Veículo e não aceitando um único verso dos outros sutras, a pessoas como esta é permitido pregares este sutra.Se alguém, com seriedade, procura este sutra como se buscasse as relíquias de Buddha, e tendo-o obtido e aceite com gratidão, sem mostrar intenções de procurar outros sutras e sem dar nunca mais atenção aos escritos das doutrinas não budistas, a pessoas como esta é permitido pregares este sutra.Digo-te, Shariputra, se eu descrevesse as características daqueles que procuram a via do Buddhado, poderia esgotar um kalpa sem completar essa tarefa.Pessoas deste tipo são capazes de acreditar e compreender.Por isso deves pregar-lhes o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa.
Capítulo Quatro: Fé e Compreensão
Nessa ocasião, quando os homens de longeva sabedoria, Subhuti, Mahakatyayana, Mahakashyapa e Mahamaugdalyayana ouviram do Buddha a Lei nunca antes conhecida, e ouviram o Honrado Pelo Mundo profetizar que Shariputra atingiria anuttara-samyak-sambhodi, as suas mentes comoveram-se como nunca e dançaram de alegria. De imediato levantaram-se dos seus assentos, compuseram as suas vestes, descobriram o ombro direito e ajoelharam-se sobre o joelho direito. Juntando as palmas das mãos reverentemente, e com uma só mente, curvaram-se em sinal de respeito, fitando reverentemente a face do Honrado Pelo Mundo, disseram a Buddha: “Nós encabeçamos o conjunto dos monges e estamos todos velhos e decrépitos. Acreditamos que tínhamos já atingido o nirvana e que era-mos incapazes de fazer mais, por isso nunca pensamos em atingir anuttara-samyak-sambhodi.
“Passou-se muito tempo desde que o Honrado Pelo Mundo começou pela primeira vez a expor a Lei. Durante esse tempo nós sentamo-nos nos nossos lugares, os nossos corpos cansados e inertes, meditando unicamente nos conceitos de vacuidade, não-forma e não-acção. Mas quanto aos prazeres e poderes transcendentais da Lei do bodhisattva e quanto à purificação das terras Búddhicas e à salvação dos seres viventes, nisso as nossas mentes não tomaram parte. Porquê? Porque o Honrado Pelo Mundo tornou possível para nós transcender o triplo mundo e atingir a iluminação do nirvana.
“Além disso, nós somos velhos e decrépitos. Quando ouvíamos acerca de anuttara-samyak-sambhodi, que o Buddha emprega para ensinar e converter os bodhisattvas, as nossas mentes não ficavam cheias de qualquer pensamento de alegria ou aprovação. Mas agora, na presença do Buddha, nós recebemos a profecia de este ouvinte atingiria anuttara-samyak-sambhodi e as nossas mentes ficaram plenas de deleite. Ganhamos o que nunca antes tivemos. Subitamente, nós conseguimos ouvir uma Lei que é rara de encontrar, algo que nunca até aqui esperáramos, e temo-nos na conta de muito afortunados. Nós ganhamos grande bondade e beneficio, uma jóia rara e imensurável, algo inesperado que surgiu por si mesmo.
“Honrado pelo Mundo, nós gostaríamos agora de empregar uma parábola para tornar claro o que queremos dizer. Suponhamos que existia um homem, ainda novo, que tendo abandonado o seu pai, fugiu e viveu por muito tempo noutra terra, talvez por dez anos, vinte, ou mesmo cinquenta anos. Conforme envelheceu, ficou cada vez mais pobre e necessitado. Ele procurou em todas as direcções por comida e vestuário, errando cada vez mais longe até que o acaso o levou na direcção da sua terra natal.
“O pai entretanto tinha procurado o filho sem sucesso e fixou a sua residência numa certa cidade. A sua casa era muito abastada, com inúmeras riquezas e tesouros. Ouro, prata, lápis-lazuli, coral, âmbar e cristal abundavam nos seus armazéns. Tinha muitos criados, secretários, empregados, elefantes, cavalos, carruagens, bois e veados sem conta. Estava envolvido em empreendimentos lucrativos quer na sua casa quer nas redondezas, e tinha também muitos negócios com comerciantes e caixeiros viajantes.
“Nessa altura o filho pobre vagabundeava de terra em terra, passando por muitas cidades e vilas, até que por fim chegou à cidade onde o seu pai residia. O pai pensava constantemente no seu filho, mas apesar de terem decorrido mais de cinquenta anos desde a sua partida nunca falara desse assunto a ninguém. Ele apenas ponderava para si o seu coração cheio de mágoa e saudade. Ele achava-se velho e decrépito. Tinha grandes posses e fortuna, ouro, prata e tesouros raros que enchiam a transbordar os seus armazéns, mas não tinha nenhum filho, de modo que quando morresse as suas posses seriam desbaratadas e perdidas, pois não havia ninguém a quem confiá-las.
“Por esta razão ele pensava tão seriamente no seu filho. E tinha também este pensamento: se eu conseguisse encontrar o meu filho e lhe pudesse confiar confiar as minhas posses, poderia então sentir-me contente e em paz, sem mais preocupações.
“Honrado Pelo Mundo, nessa altura o filho pobre passava de um emprego para outro até que por acaso foi ter a casa do seu pai. Ele parou perante os portões, olhando de longe para o seu pai que estava num trono de leão, as suas pernas apoiadas numa banqueta de jóias, enquanto Brahmans, nobres e proprietários o rodeavam com deferência. Grinaldas de pérolas no valor de milhares adornavam o seu corpo, e servos e empregados segurando grandes leques brancos ladeavam-no perfilados ao seu serviço. Um dossel de jóias cobria-o, com bandeiras floridas penduradas, água perfumada aspergida pelo chão, pilhas de flores raras espalhadas, e objectos preciosos estavam constantemente a passar e a ser levados ou trocados. Estes eram os muitos e variados adornos, os sinais e marcas de distinção
“Quando o filho pobre viu a grandeza do poder e autoridade do seu pai, ficou cheio de medo e arrependido por ter ido àquele local. Pensou secretamente para si: deve ser algum rei, ou alguém semelhante a um rei. Este não é o tipo de lugar onde eu possa arranjar trabalho e ganhar a vida. Seria melhor ir para uma vila pobre onde, se eu trabalhar arduamente, consiga encontrar um lugar para viver e ganhar o meu alimento e comida. Se eu ficar aqui por mais tempo, posso ainda ser preso! Tendo pensado assim foi-se embora daquele local.
“Nessa altura, o homem rico, sentado no seu trono, viu o seu filho e reconheceu-o de imediato. O seu coração encheu-se de alegria e pensou: Agora tenho alguém a quem confiar os meus armazéns de riquezas! Os meus pensamentos estiveram sempre com este meu filho mas eu não tinha maneira de o ver. Agora ele apareceu subitamente, correspondendo ao que eu tinha desejado. Apesar de eu ser velho e decrépito, ainda me preocupo com o destino dos meus pertences.
“Então ele mandou um empregado ir atrás do filho o mais depressa possível e traze-lo de volta. O mensageiro correu rapidamente e alcançou-o. O filho pobre, assustado e alarmado, gritou desesperado, “Não fiz nada de mal! Porque me querem prender?” mas o mensageiro segurou-o firmemente e trouxe-o de volta
“Nessa altura o filho pensou, “Não cometi nenhum crime e ainda assim sou levado prisioneiro. Ainda vão acabar por me matar!” Estava mais assustado do que nunca e caiu no chão, desmaiando de desespero.
“O pai, vendo isto à distância, disse ao mensageiro, “Não preciso deste homem. Não o forcem a vir aqui. Espalhem água pela sua cara para que recobre os sentidos e depois não lhe digam mais nada!”
“Porque é que ele fez isso? Porque sabia que o seu filho era de modestas ambições e dificilmente aceitaria o seu poder e condição eminentes. Ele sabia muito bem que esse era o seu filho mas como meio expedito não o disse a ninguém.
“O mensageiro disse então ao filho pobre, “Vou-te libertar. És livre de ir para onde quiseres.” O filho ficou radiante, ganhando o que nunca tivera antes. Levantou-se do chão e dirigiu-se para a cidade de modo a procurar comida e roupa.
“Nessa altura o homem rico, desejando atrair o seu filho de volta, decidiu empregar um meio expedito e enviar dois homens disfarçados, homens de aspecto magro e macilento sem nenhum indício ameaçador. ”Ide procurar esse pobre homem e aproximem-se dele de forma casual. Digam-lhe que conhecem um lugar onde pode ganhar o dobro do salário habitual. Se ele concordar com a proposta, trazei-o para aqui e ponham-no a trabalhar. Se ele perguntar que tipo de trabalho lhe será destinado, digam-lhe que terá de limpar excremento e que vocês trabalharão com ele.”
“Os dois mensageiros foram de imediato procurar o herdeiro, e quando o encontraram, falaram-lhe de acordo com as instruções recebidas. Então o filho pediu um adiantamento do seu salário e foi depois com eles para ajudar na limpeza do excremento.
Quando o pai viu o seu filho, compadeceu-se e preocupou-se com ele. Dias depois, quando olhava da janela, viu o filho à distância, o seu corpo magro e macilento, sujo de excremento, imundice e impureza. O pai de imediato tirou os seus colares, as suas vestes finas e os outros adornos e vestiu roupas velhas e sujas. Espalhou sujidade no corpo, pegou num utensílio para remover excremento e adoptando modos rudes, falou para os empregados dizendo, “Continuem o vosso trabalho! Não sejam preguiçosos!” Através deste meio expedito ele foi capaz de se aproximar do seu filho.
“Mais tarde, ele falou novamente ao seu filho, dizendo, “Deves continuar neste trabalho sem nunca me deixares. Eu aumentarei o teu salário e quanto àquilo de que precisares, quer sejam utensílios, arroz, farinha, sal, vinagre e outros bens, não te deves preocupar. Eu tenho um velho criado que te pode ajudar quando precisares. Podes estar à vontade. Eu serei como um pai para ti. Porque digo isto? Porque já sou entrado em anos, mas tu és novo e robusto. Quando estás a trabalhar nunca és enganador ou preguiçoso nem dizes palavras rancorosas ou ressentidas. Não pareces ter nenhuma dessas faltas que os meus outros trabalhadores têm. De agora em diante, tu serás como meu próprio filho”. E o homem rico tratou de escolher um nome para o homem como se ele fosse seu filho.
“Nessa altura o filho pobre, apesar de se sentir encantado com este tratamento, ainda se via a si próprio como uma pessoa de condição humilde que estava ao serviço de outrem. Entretanto o homem rico manteve-o a limpar excremento nos vinte anos seguintes. Ao fim desse tempo, o filho sentia que confiavam nele e movimentava-se à sua vontade, mas continuava a viver no mesmo lugar de sempre.
“Honrado Pelo mundo, nessa altura o homem rico adoeceu e soube que não tardaria a morrer. Falou então com o seu filho dizendo, “Tenho grandes quantidades de ouro, prata e tesouros raros que enchem os meus armazéns. Deves assumir agora o controle das somas que tenho e das despesas e receitas. Porquê? Porque de agora em diante tu e eu não nos comportaremos como duas pessoas independentes. Por isso deves manter o teu bom senso e garantir que não hajam perdas ou erros.”
“Então o filho pobre, tendo recebido estas instruções, tomou a seu cargo a vigilância de todos os bens, o ouro, a prata, os tesouros raros e os vários armazéns, mas nunca pensou em apropriar-se da mais pequena soma. Continuou a viver no mesmo local de sempre, vendo-se a si mesmo como pessoa humilde e de baixa condição.
“Após ter passado algum tempo, o pai percebeu que o seu filho, pouco a pouco, ia-se tornando mais auto confiante e disposto a concretizar tarefas importantes, apesar da opinião depreciativa que tinha de si mesmo anteriormente. Verificando que o seu fim estava próximo, ordenou ao seu filho que marcasse uma reunião com o rei do país, os ministros, os nobres e os proprietários. Quando estavam todos juntos, fez o seguinte anuncio: “Senhores, deveis saber que este é meu filho de nascimento. Em tal cidade ele deixou-me e fugiu e por cinquenta anos acarretou sofrimentos e dificuldades. Tal é o seu nome original e tal é o meu nome. No passado, quando ainda vivia na minha cidade de nascimento, preocupava-me com ele e saí a procurá-lo. Algum tempo depois, subitamente, calhei de o encontrar. Este é verdadeiramente o meu filho e eu sou o seu pai. Agora, tudo o que me pertence, todos as minhas posses e fortuna devem por direito pertencer a este meu filho. Todos os assuntos de receitas e despesas ocorridos no passado são já do seu conhecimento.”
“Honrado Pelo Mundo, quando o filho pobre ouviu estas palavras do seu pai, foi invadido por uma grande alegria, tendo ganho o que nunca possuíra, e pensou para si: “Originalmente nunca tive qualquer ideia de cobiça por essas coisas. No entanto estes armazéns de tesouros vieram por si mesmos ter comigo!
“Honrado Pelo Mundo, este homem velho com as suas riquezas não é senão o Tathagata e nós somos como filhos de Buddha. O Tathagata diz-nos constantemente que somos seus filhos. Mas por causa dos três sofrimentos, Honrado Pelo Mundo, no meio do nascimento e da morte nós sofremos ansiedades ardentes, ilusões e ignorância, deleitando-nos e apegando-nos às doutrinas menores.
Mas hoje o Honrado Pelo Mundo fez-nos ponderar cuidadosamente, pôr de lado essas doutrinas, os debates impuros e frívolos.
“Fomos diligentes e esforçados nestas matérias até alcançar-mos o nirvana, o que é como o salário de um dia. Assim que o atingimos, os nossos corações encheram-se de alegria e consideramos que isso era suficiente. De imediato dissemos para nós mesmos, “Por termos sido diligentes e esforçados em relação à Lei Buddhista, ganhamos esta abertura e riqueza de entendimento.”
“Mas o Honrado Pelo Mundo, sabendo como, desde o passado, as nossas mentes estavam apegadas a desejos demeritórios e se deleitavam com doutrinas menores, perdoou-nos e tolerou-nos assim, sem tentar explicar-nos dizendo, “Vocês virão a possuir a perspicácia do Tathagata, a vossa porção do repositório de tesouros!” Em vez disso o Honrado Pelo Mundo empregou o poder dos meios expeditos, pregando para nós a sabedoria do Tathagata, de tal forma que nós pudemos escutar o Buddha e alcançar o nirvana, o que é apenas o salário de um dia. E por termos considerado isto um grande ganho, não tínhamos desejo de seguir o Grande Veículo.
“Além disso, apesar de expormos e propagarmos a sabedoria Búddhica em prol dos bodhisattvas, não aspirávamos alcançá-la. Porque digo isto? Porque o Buddha, sabendo que as nossas mentes se deleitavam nas doutrinas menores, empregou o poder dos meios expeditos para pregar de uma forma adequada para nós. Por isso nós não sabíamos que era-mos na verdade filhos de Buddha. Agora sabêmo-lo finalmente.
“Em relação à sabedoria Búddhica, o Honrado Pelo Mundo é sempre generoso. Porque digo isto? Desde tempos passados nós fomos verdadeiramente filhos de Buddha, mas deleitavamo-nos apenas nas doutrinas menores. Se tivéssemos o tipo de mente que se deleita nas doutrinas maiores, então o Buddha teria pregado a Lei do grande Veículo para nós.
“Agora neste sutra o Buddha expõe apenas o veículo único. E no passado, quando em presença dos bodhisattvas ele depreciava os ouvintes como sendo os que se compraziam na doutrina menor, o Buddha estava afinal a empregar o grande Veículo para nos ensinar e converter. Por isso dizemos que, apesar de originalmente não termos uma mente que cobiçasse tal coisa, agora o grande tesouro do Rei do Dharma chegou por si mesmo até nós. É algo que os filhos de Buddha têm o direito de adquirir, e agora eles alcançaram-no inteiramente.”
Nessa altura Mahakashyapa, desejando expor o sentido das suas palavras uma vez mais, falou em verso, dizendo:
Hoje ouvimos a voz do ensinamento do Buddha e dançamos de alegria, tendo ganho o que nunca possuímos.O Buddha declara que os ouvintes serão capazes de atingir o Buddhado.Este cacho de jóias insuperáveis, veio até nós de forma imprevista.É como o caso de um rapaz que, ainda jovem e sem entendimento, abandonasse o seu pai e fugisse, indo para uma terra longínqua, andando de um pais para outro por mais de cinquenta anos.O seu pai, preocupado, procurou-o em todas as direcções até que, cansado de procurar, se fixou numa certa cidade.Aí construiu uma residência onde pudesse dar largas aos cinco desejos.A sua casa era grande e luxuosa, com grandes quantidades de ouro, prata,madrepérola, ágata, pérolas, lápiz-lázuli, elefantes, cavalos, touros, palanquins, carruagens, campos de cultivo, empregados e outras pessoas em grande número.Ele envolveu-se em negócios lucrativos em sua casa e nas terras das redondezas, e tinha comerciantes e vendedores ambulantes espalhados por toda a parte.Milhares, dezenas de milhar, milhões rodeavam-no e prestavam-lhe reverência; ele gozava constantemente dos favores e considerações dos governantes.Os oficiais e famílias poderosas todos se juntavam prestando-lhe honrarias, e os que por uma ou outra razão se juntavam à sua volta eram muitos.Essa era a sua vasta fortuna, o seu grande poder e influência.Mas ele estava velho e decrépito e recordava o seu filho com mais ansiedade do que nunca, dia e noite sem pensar em mais nada:“Agora aproxima-se a hora da minha morte.Mais de cinquenta anos passaram desde que aquele rapaz tolo me abandonou.Os meus armazéns repletos de mercadoria - o que será feito deles?”Nessa altura o filho pobre andava à procura de roupa e comida, indo de terra em terra, de país para país, por vezes encontrando algo, por vezes não encontrando nada, faminto e macilento, o seu corpo coberto de feridas e infecções.Conforme se deslocava de lugar em lugar, chegou à cidade onde o seu pai vivia, mudando de um emprego para outro até chegar à casa do seu pai.Nessa altura, o homem ricotinha estendido um grande dossel de jóias dentro dos seus portões e estava sentado no seu trono de leão, rodeado pelos seus dependentes e vários empregados e guardas.Alguns estavam a contar ouro, prata e objectos preciosos, ou registando em livros as entradas e saídas de dinheiro.O filho pobre, observando quão eminente e distinto era o seu pai, pensou tratar-se do rei de algum país ou alguém da mesma condição.Alarmado e cheio de admiração, perguntou a si mesmo porque tinha ido até ali.Secretamente pensou para si, se eu ficar aqui muito mais tempo ainda acabo por ser preso ou condenado a trabalhos forçados!Logo que este pensamento lhe ocorreu, fugiu daquele local, perguntando onde haveria uma vila modesta onde pudesse arranjar emprego.O homem rico nessa ocasião, sentado no seu trono de leão,viu o seu filho à distância e reconheceu-o sem nada dizer.Imediatamente instruiu um mensageiro para correr atrás dele e o trazer de volta.O filho pobre, gritando de terror, caiu de aflição.“Este homem mandou-me prender e de certeza que me vai mandar matar!Pensar que a minha busca por comida e vestuário havia de me trazer a isto!”O homem rico sabia que o seu filho era ignorante e humilde.“Ele nunca acreditará nas minhas palavras, nunca acreditará que eu sou o seu pai.”Então empregou um meio expedito, mandando outros homens ter com o seu filho, um só com um olho, outro débil e grosseiro, completamente destituídos de qualquer aparência imponente, dizendo-lhes, “Falem com ele e digam-lhe que eu lhe darei emprego para remover excremento e sujidade, pagar-lhe-ei o dobro do salário habitual.”Quando o filho pobre ouviu isto ficou satisfeito, foi com os mensageiros e trabalhou a remover excremento e sujidade e a limpar as dependências da casa.Da sua janela o homem rico podia observar constantemente o seu filho, pensando como ele era ignorante e humilde, deleitando-se nesse trabalho menor.Nessas alturas o homem rico punha uma roupa suja e esfarrapada, pegava num utensílio para remover excremento e ia até junto do seu filho, usando este meio expedito para se aproximar dele, encorajando-o a trabalhar diligentemente.“Eu aumentei os teus proventos e dei-te óleo para espalhares nos pés.Eu verei se tens comida e bebida suficiente, cama e roupa espessa e quente.”Outras vezes falava-lhe com severidade:“Deves trabalhar arduamente!”ou então dizia-lhe com uma voz gentil, ”És como um filho para mim.”O homem rico, sendo sábio, gradualmente foi permitindo ao seu filho entrar e sair da casa.Após terem passado vinte anos, ele pô-lo na gestão dos assuntos domésticos, mostrando-lhe o seu ouro, prata, pérolas, cristal, e as outras coisas que eram recebidas e trocadas, de modo a que ele ficasse ao corrente de tudo.Apesar do filho continuar a morar fora dos portões, dormindo num monte de palha, vendo-se a si mesmo como sendo pobre, pensando, ”Nada disto é meu”, o pai sabia que as suas perspectivas se iam alargando e tornando mais magnânimes.Desejando doar ao filho as suas riquezas e bens, o pai juntou os seus dependentes, o rei do país e os ministros, os nobres e os proprietários.Na presença desta grande assembleia declarou, “Este é o meu filho que me abandonou e vagueou pelo mundo durante cinquenta anos.Desde que o encontrei, passaram-se vinte anos.Há muito tempo, em tal e tal cidade, quando perdi o meu filho, viajei por toda a parte à sua procura até ter vindo aqui parar.Tudo o que possuo, as minhas propriedades e empregados, eu entrego inteiramente a ele para que faça o que entender.”O filho pensou então que no passado ele tinha sido pobre, humilde e ignorante, mas agora recebera do seu pai este enorme legado de tesouros raros, em conjunto com as casas do seu pai e todos os seus bens e fortuna.Ficou cheio de grande alegria, tendo ganho o que nunca antes possuíra.Assim é o Buddha.Ele sabe as nossas preferências mesquinhas, e por isso nunca nos disse,“Podeis atingir o Buddhado.”Em vez disso explicou-nos como poderíamos livrar-nos de falhas, empreender o pequeno veículo e sermos Discípulos Menores, discípulos ouvintes.Então o Buddha mandou-nospregar a suprema via e explicar que aqueles que a praticam serão aptos a atingir o Buddhado.Nós recebemos os ensinamentos de Buddha e em prol dos grandes bodhisattvas utilizamos causas e condições, várias metáforas e parábolas, uma variedade de palavras e frases, para pregar a via insuperável.Quando os filhos de Buddha recebiam de nós a Lei, ponderavam dia e noite, praticando-a diligentemente e com esforço.Nessa altura o Buddha outorgava-lhes profecias, dizendo, “Numa existência futura tu conseguirás atingir o Buddhado.”Os vários Buddhas na sua Lei do repositório secreto estabeleceram os verdadeiros factos unicamente em prol dos bodhisattvas; não é para nós que eles expõem as verdadeiras essências.É como o caso do filho empobrecido que foi capaz de se aproximar do seu pai.Apesar de conhecer as posses do seu pai, no seu coração ele não tinha qualquer intenção de se apoderar delas.Assim, apesar de pregarmos o tesouro do repositório da Lei do Buddha, não procurávamos atingi-la, e desta forma o nosso caso é semelhante.Nós procurávamos apenas limpar o que existia em nós, acreditando ser isso suficiente.Nós compreendíamos apenas istoe nada sabíamos das outras matérias. Ainda que ouvíssemos falar da purificação de terras Búddhicas, de ensinar e converter os seres viventes, não nos deleitávamos nessas coisas.Porquê?Porque todos os fenómenos são uniformemente vazios, tranquilos, sem nascimento ou extinção, sem grandeza ou pequenez, sem perdas, sem acção.E quando se pondera desta forma não se pode sentir deleite ou alegria.Através da longa noite, em relação à sabedoria de Buddha nós éramos sem avidez, sem apego, sem qualquer desejo de a possuir.Nós acreditávamos que em relação à Lei nós possuíamos a derradeira.Através da longa noite praticávamos a Lei da vacuidade libertando-nos do triplo mundo e da sua carga de sofrimento e cuidado.Nós estávamos na nossa existência final, próximos do nirvana.Através do ensinamento e da conversão do Buddha ganhamos uma via que não era vã, e assim fazendo expiamos a nossa dívida para com a bondade de Buddha.Apesar de, em prol dos filhos de Buddha, pregarmos a Lei do Bodhisattva, incitando-os a procurar a via do Buddha,nós nunca aspiramos a essa Lei.Estávamos então abandonados pelo nosso guia e mestre porque ele observou o que ia nas nossas mentes.Desde o princípio ele nunca nos encorajou ou nos falou do verdadeiro benefício.Era como o homem rico que sabia que as ambições do seu filho eram fracas e que usou o poder dos meios expeditos para suavizar e moldar a sua mente, de forma a, mais tarde, lhe confiar todos os seus tesouros e fortuna.O Buddha é assim,recorrendo a subtis linhas de acção.Conhecendo as preferências mesquinhas de alguns, ele usa o poder dos meios expeditos para moldar e temperar as suas mentes, e só então lhes ensina a grande sabedoria.Hoje ganhamos o que nunca possuíramos antes; o que nunca tínhamos previamente esperado veio até nós por si mesmo.Nós somos como o filho pobre que ganhou um tesouro imensurável.Honrado Pelo Mundo, agora ganhamos a via e o seu fruto; através da Lei sem falhas nós ganhamos a pura visão.Através da longa noite nós observamos os puros preceitos do Buddha e hoje pela primeira vez ganhamos o fruto, a recompensa.Por muito tempo, na Lei do Rei do Dharma, nós levamos a cabo práticas brahma; agora obtivemos o estado sem falhas, o grande e insuperável fruto.Agora tornámo-nos verdadeiros ouvintes, porque nós daremos voz à via do Buddha e fá-la-emos ouvir por todos.Agora tornámo-nos verdadeiros arhats, porque em toda a parte entre os seres celestiais e humanos, demónios e Brahmas dos vários mundos, nós merecemos receber oferendas.O Honrado Pelo Mundo na sua grande misericórdia faz uso de uma coisa rara, ensinando e convertendo com piedade e compaixão,trazendo-nos benefícios.Em inumeráveis milhões de kalpas quem poderá alguma vez recompensá-lo?Ainda que lhe ofereça-mos as nossas mãos e pés, curvando as nossas cabeças em respeitosa obediência e apresentemos todos os tipos de ofertas, nenhum de nós lhe poderá alguma vez pagar.Ainda que o transportássemos no alto das nossas cabeças, o levássemos nos nossos ombros por kalpas numerosos como as areias do Ganges, prestando-lhe reverência de todo o coração; ainda que lhe levássemos comidas delicadas, com incontáveis mantos debruados a jóias, enxovais, vários tipos de poções e remédios; ainda que fizéssemos tudo isto como oferendapor kalpas numerosos como as areias do Ganges, ainda assim não lhe poderíamos pagar.Os Buddhas possuem imensuráveis, ilimitados, inimaginavelmente grandes, raramente vistospoderes transcendentais.Livres de falhas, livres de acção, estes reis das doutrinas, em prol dos fracos e humildes exercem a paciência nestas matérias; aos comuns mortais apegados às aparências pregam de acordo com o que é apropriado.Em relação à Lei, os Buddhas são capazes de exercer uma total liberdade.Eles compreendem os vários desejos e alegrias dos seres viventes, bem como os seus diferentes anseios e habilidades, e podem ajustar às suas capacidades, empregando inumeráveis metáforas para lhes expor a Lei.Utilizando as boas raízes plantadas pelos seres viventes em prévias existências, distinguindo entre aqueles cujas raízes estão maduras e aqueles cujas raízes ainda não amadureceram,executam vários cálculos, discriminações e percepções, e então tomam a via do veículo único e de acordo com o que é apropriado, pregam-na como se fosse tripla.
Capítulo Cinco: A Parábola das Ervas Medicinais
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo disse a Mahakashyapa e aos outros discípulos maiores: “Excelente, excelente, Kashyapa. Deste uma excelente descrição das bênçãos do Tathagata. É tal como disseste. O Tathagata possui na verdade imensuráveis, ilimitadas, asamkhyas de bênçãos, e mesmo que tu e os outros despendessem imensuráveis milhões de kalpas nunca conseguiriam acabar de as descrever.
“Kashyapa, deves entender isto: o Tathagata é o rei das doutrinas. No que ele prega nada é em vão. Em relação às várias doutrinas, ele emprega a sabedoria como um meio expedito na sua exposição. Daí que todas as doutrinas por ele expostas se expandem até onde houver sabedoria e entendimento. O Tathagata observa e compreende o fim para que tende cada doutrina. Ele também entende o funcionamento mais íntimo da mente de cada ser vivente, penetrando nela completamente e sem impedimentos. Em relação às doutrinas ele é completamente iluminado e revela aos seres viventes a totalidade da sabedoria.
“Kashyapa, é como as plantas e árvores, arbustos e bosques e as ervas medicinais, extremamente variadas, cada uma com o seu nome e matiz, que crescem nas colinas e riachos, nos vales e diferentes solos do multivariado mundo. Nuvens densas espalham-se sobre ele, cobrindo a totalidade desse mundo diversificado e num momento saturando-o completamente. A humidade penetra todas as plantas, árvores, arbustos, bosques e ervas medicinais igualmente, até às suas grandes raízes, grandes caules e grandes folhas. Cada uma das árvores, grande ou pequena, dependendo do facto de ser de natureza superior, média ou inferior, recebe a sua porção. A chuva que cai de cada grupo de nuvens está de acordo com cada natureza e espécie particular, fazendo-a despontar e amadurecer, vindo a dar flores e frutos. Ainda que estas plantas e árvores estejam na mesma terra e sejam regadas pela mesma chuva, cada uma tem as suas diferenças e particularidades.
“Kashyapa, deves compreender que o Tathagata é assim. Ele aparece no mundo como uma grande nuvem. Com alta voz alcança todos os seres humanos ou celestiais e todos os asuras do mundo inteiro, como uma grande nuvem espalhando-se ao longo do multivariado mundo. No meio da grande assembleia, ele profere estas palavras: “Eu sou o Tathagata, digno de ofertas, de conhecimento recto e universal, de perfeita conduta e claridade, bem-aventurado, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Aqueles que ainda não fizeram a travessia, eu os farei atravessar, aqueles que ainda não se libertaram, eu libertarei, aqueles que ainda não se apaziguaram, eu apaziguarei, aqueles que ainda não estão no nirvana, eu conduzirei ao nirvana. Da presente e das futuras existências eu compreendo as verdadeiras circunstâncias. Eu sou alguém que tudo entende, tudo vê, compreende o caminho, desimpede o caminho, prega o caminho. Vós, seres celestiais e humanos, asuras e outros, deveis vir aqui para que possa deixar-vos ouvir o Darhma!”
“Nessa altura os seres viventes de incontáveis milhares, dezenas de milhar, milhões de espécies vêem ao local onde se encontrava o Buddha para ouvirem o Dharma. O Tathagata então observa se eles são diligentes nos seus esforços ou indolentes. De acordo com o que cada um é capaz de ouvir, ele prega a Lei para eles numa imensurável variedade de modos por forma a que todos eles se deleitem e sejam capazes de benefícios excelentes desde aí.
“Uma vez que estes seres viventes tenham ouvido a Lei, gozarão de paz e segurança na presente existência e de boas circunstâncias em existências futuras, onde por intermédio da via se tornarão alegres e poderão novamente ouvir a Lei. Tendo ouvido a Lei, escaparão dos obstáculos e dificuldades, e em relação às várias doutrinas serão capazes de exercitar totalmente os seus poderes, de modo a que gradualmente possam ir entrando na via. É como a chuva caindo da grande nuvem sobre as plantas e árvores, arbustos, bosques e plantas medicinais. Cada uma, dependendo da sua espécie e natureza, recebe a sua porção de humidade e é capaz de despontar e crescer.
“A Lei pregada pelo Tathagata é de uma só forma, um só sabor, nomeadamente, a forma da emancipação, a forma da separação, a forma da extinção, que no final resulta numa sabedoria abarcando todas as espécies. Quando os seres viventes ouvem a Lei do Tathagata, ainda que a abracem, a leiam e recitem, praticando de acordo com os seus ditames, eles próprios não vêem nem compreendem as bênçãos que dessa forma estão a ganhar. Porquê? Porque apenas o Tathagata compreende as espécies, a forma, a substancia, a natureza destes seres viventes, ele sabe a que coisas eles se apegam, que coisas ponderam, que coisas praticam. Ele sabe a que Lei se apegam, que Lei ponderam, que Lei praticam, através de que Lei alcançam outras Leis, e quais.
“Os seres viventes existem numa variedade de ambientes, mas apenas o Tathagata vê as verdadeiras circunstâncias e as entende inteiramente. É como essas plantas e árvores, arbustos, bosques e ervas medicinais que não sabem se são de natureza superior, média ou inferior. Mas o Tathagata sabe que esta é a Lei de uma forma e um sabor, nomeadamente, a forma da emancipação, a forma da separação, a forma da extinção, a forma do nirvana absoluto, da tranquilidade e vacuidade constantes. O Buddha compreende tudo isto. Mas porque ele pode ver os desejos que estão na mente dos seres viventes, ele guia-os e protege-os e por esta razão ele não lhes prega de imediato a sabedoria que abarca todas as espécies.
“Tu e os outros, Kashyapa, fizeram uma coisa rara, pois conseguiram compreender como o Tathagata prega a Lei em conformidade com o que é apropriado, ter fé nele e aceitá-lo. Porque digo isto? Porque o facto dos Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, pregarem a lei em conformidade com o que é apropriado é difícil de acreditar e difícil de compreender.”
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, desejando expor novamente o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
O Rei do Dharma, destruidor do ser, quando aparece no mundo procede de acordo com os desejos dos seres viventes, pregando a Lei de várias maneiras.O Tathagata, merecedor de ofertas e de reverência, é profundo e de longo alcance na sabedoria.Por muito tempo ele mantém o silêncio quanto ao essencial, sem pressa de falar tudo de uma vez.Se aqueles que são sábios o ouvem conseguem acreditar nele e compreendê-lo, mas os que não têm sabedoria terão dúvidas e hesitações e por todo o tempo permanecerão no erro.Por esta razão, Kashyapa, ele adapta-se à pessoa para permitir uma visão correcta.Kashyapa, deves entender que é como uma grande nuvem que se levanta no mundo e o cobre inteiramente.Esta nuvem benéfica está cheia de humidade, de relâmpagos e clarões, e o som da tempestade ecoa ao longe fazendo rejubilar as multidões.Os raios do sol ficam velados e escondidos, e uma nítida frescura vem cobrir a terra; massas de escuridão, quase tangíveis, descem e espalham-se.A chuva cai em toda a parte, descendo nas quatro direcções, e a sua intensidade é imensurável, alcançando todas as áreas da terra, até às ravinas e vales das montanhas e dos rios, até aos lugares remotos e isolados onde crescem plantas, arbustos, ervas medicinais, árvores grandes e pequenas, grãos, arrozais, canas de açúcar, vinhas.A chuva rega-os a todos,nenhum deixa de receber a sua parte, o chão ressequido fica molhado, ervas e árvores crescem viçosas.O que cai das nuvens é de um único sabor,mas as plantas e árvores, arbustos e bosques, aceitam cada um a porção de humidade que lhes convém.Todas as várias árvores, quer sejam superiores, médias ou inferiores, tomam o que é ajustado à sua condição e cada uma é assim capaz de despontar e crescer.Raízes, caule, folhas, brilhos e matizes das flores e frutos -uma só chuva chega até elas e todas ficam frescas e brilhantes, quer a sua combinação de substância, forma e natureza seja grande ou pequena, a humidade que recebem é uma, mas cada uma delas cresce e floresce à sua maneira.O Buddha é assim quando aparece no mundo,é comparável a uma grande nuvem que cobre tudo em toda a parte.Tendo aparecido no mundo pelo bem dos seres viventes ele estabelece distinções ao expor a verdade dos fenómenos.O grande sábio, o Honrado Pelo Mundo, aos seres celestiais e humanos, no meio de todos os seres, pronuncia estas palavras:Eu sou o Tathagata, o mais honrado dos seres humanos.Apareço neste mundo como uma grande nuvem que asperge humidadesobre os seres viventes secos e mirrados, para que eles consigam escapar ao sofrimento, ganhem a alegria da paz e da segurança, as alegrias deste mundo e a alegria do nirvana.Todos vós, seres celestiais e humanos nesta assembleia, ouçam com cuidado e sem distracções!Todos vocês devem reunir-se aqui à volta e escutar aquele que é inexcedivelmente honroso.Eu sou o Honrado Pelo Mundo e não tenho rival.Por forma a trazer paz e segurança aos seres viventes eu apareci no mundo e pelo bem desta assembleia prego o doce orvalho da pura Lei.Esta Lei é de um único sabor, o da emancipação, do nirvana.Com um único, maravilhoso som exponho e manifesto o seu sentido; constantemente em prol do Grande Veículo crio causas e condições.Olho para as coisas como sendo universalmente iguais, não tenho mente para favorecer este ou aquele, para gostar de um e detestar outro.Eu sou sem ganância nem apegos e não tenho limitação ou impedimento.Em todas as ocasiões, para todas as coisas, prego a Lei igualmente; assim como faria para uma única pessoa, da mesma forma faço para numerosas pessoas, constantemente eu exponho e prego a Lei, nunca eu fiz qualquer outra coisa, vindo, indo, sentado ou de pé, nunca até ao fim com fadiga ou desânimo.Eu trago plenitude e satisfação para o mundo, como a chuva que espalha humidade em toda a parte.Eminentes ou medíocres, superiores ou inferiores, cumpridores dos preceitos, violadores dos preceitos, inteiramente dotados de conduta apropriada ou não inteiramente dotados, com pontos de vista correctos ou incorrectos, de capacidades apuradas ou de fracas capacidades - eu faço a chuva do Dharma cair sobre eles igualmente, sem lassidão ou negligência.Quando os vários seres viventes ouvem a minha Lei, recebem-na de acordo com as suas capacidades, nos seus diferentes ambientes.Alguns habitam no reino dos humanos e dos seres celestiais, dos reis sábios, Shakra, Brahma e os outros reis - estes são as ervas medicinais inferiores.Alguns entendem a Lei que é sem falhas, estão aptos a atingir o nirvana, a adquirir os seis poderes transcendentais, e a ganhar em particular os três entendimentos, ou então vivem sozinhos nas florestas montanhosas, praticando constantemente a meditação e alcançando a iluminação dos pratyekabuddhas - estes são as ervas medicinais médias.Outros ainda procuram o lugar do Honrado Pelo Mundo, convencidos de que se podem tornar Buddhas, esforçando-se diligentemente e praticando a meditação - estes são as ervas medicinais superiores.Existem ainda filhos do Buddha que devotam a sua mente unicamente à via do Buddhado, constantemente praticando a misericórdia e a compaixão, sabedores de que eles próprios atingirão o Buddhado, certos disso e sem nunca duvidarem, a esses eu chamo pequenas árvores.Esses que habitam em paz nos seus poderes transcendentais, girando a roda da não-regressão, salvando inumeráveis milhões de centenas de milhares de seres viventes - a bodhisattvas como esses eu chamo grandes árvores.A igualdade das pregações do Buddha é como uma chuva de um único sabor, mas dependendo da natureza de cada ser vivente, o modo como é recebida não é uniforme, tal como as várias plantas e árvores recebem cada uma a humidade de maneira diferente.O Buddha emprega esta parábola como um meio excelente para abrir e revelar este assunto usando vários tipos de palavras e frases e expondo uma única Lei, mas em relação à sabedoria do Buddhaisto não é mais do que uma gota do oceano.Eu faço cair a chuva do Dharma, enchendo o mundo todo, e este Dharma de um único sabor, é praticado por cada um de acordo com o seu poder individual.É como esses arbustos e bosques, ervas medicinais e árvores que, conforme sejam grandes ou pequenas, pouco a pouco crescem viçosas e belas.A Lei dos Buddhas é constantemente de um só sabor, levando os muitos mundos a atingir a plena satisfação em toda a parte; através da prática gradual e passo a passo, todos os seres podem ganhar os frutos da via.Os ouvintes e os pratyekabuddhas habitando nas florestas montanhosas, vivendo a sua última existência, ouvindo a Lei e ganhando os seus frutos - podemos chamar-lhes ervas medicinais que crescem e amadurecem à sua maneira.Se existirem Bodhisattvas constantes e firmes na sabedoria, que compreendam o triplo mundo e busquem o supremo veículo, a estes chamamos pequenas árvores que crescem e amadurecem.Quanto àqueles que permanecem em meditação, tendo ganho a força dos poderes transcendentais, ouvido acerca da vacuidade de todos os fenómenos, rejubilado em suas mentes, emitindo incontáveis raios de luz para salvar seres viventes - a esses chamamos grandes árvores que ganharam crescimento e maturidade.Desta forma, Kashyapa, a Lei pregada pelo Buddha é comparável a uma grande nuvem que, com chuva de um único sabor, rega as flores humanas de modo a que cada uma possa frutificar.Kashyapa, deves compreender que através de várias causas e condições, vários tipos de metáforas e parábolas, eu abro e revelo a via do Buddha.Este é um meio expedito que eu emprego e o mesmo é verdadeiro quanto aos outros Buddhas.Agora, para ti e para os outros eu prego a mais derradeira verdade:nenhum de entre a multidão de ouvintes entrou na fase de extinção.O que estais a praticar é a via do bodhisattva, e à medida que avançais em prática e aprendizagem estais certos de alcançar o Buddhado.
Capítulo Seis: Atribuição de Profecias
Nessa ocasião o Buddha, tendo acabado de recitar estes versos, fez um anúncio à grande assembleia, falando do seguinte modo: ”Este meu discípulo Mahakashyapa em futuras existências será capaz de chegar à presença de três mil biliões de Buddhas, Honrados Pelo Mundo, de lhes oferecer dádivas, de prestar-lhes reverência, honrá-los e louvá-los, proclamando largamente as inumeráveis grandes doutrinas dos Buddhas. Na sua encarnação final será capaz de se tornar um Buddha chamado Luz Radiosa (Rasmiprabhâsa), Tathagata, merecedor de ofertas, de conhecimento correcto e universal, conduta perfeita e clara, bem aventurado, conhecedor do mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo.
“A sua terra será chamada Virtude Luminosa (Avabhâsa) e o seu kalpa será chamado Grande Adorno (Mahâvyûha). A duração da vida desse Buddha será de doze pequenos kalpas. A sua Correcta Lei perdurará no mundo por vinte pequenos kalpas e a sua Lei Adulterada por vinte pequenos Kalpas.
“O seu reino será adornado majestosamente, livre do mal e das impurezas, de cacos e entulho, de silvas e espinhos, ou do imundo lixo das latrinas. A terra será plana e suave, sem cumes nem barrancos, fossos ou colinas. O chão será de lápis lazúli, com renques de árvores de jóias e cordões de ouro a marcar os limites dos caminhos. Flores de jóias estarão espalhadas por toda a parte e tudo estará puro e limpo. Os bodhisattvas desse reino serão em número de incontáveis milhares de milhões e a multidão de ouvintes será igualmente inumerável. Não existirão trabalhos demoníacos e os acólitos do demónio estarão lá a proteger a Lei do Buddha.”
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, desejando expor novamente o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Eu anuncio a estes monges: quando eu emprego o olho Búddhico para observar Kashyapa, eu vejo que numa futura existência, após inumeráveis Kalpas terem passado, ele será capaz de atingir o Buddhado.Em existências futuras ele oferecerá esmolas e estará em presença de três mil biliões de Buddhas, Honrados Pelo Mundo.Em prol da sabedoria Búddhica ele levará a cabo práticas brahma meticulosamente e oferecerá esmolas aos inexcedíveis, mais honrados dos seres humanos.Depois de ter feito isso e ter praticado todos os insuperáveis tipos de sabedoria, na sua encarnação final será capaz de se tornar um Buddha.A sua terra será pura e limpa, o chão de lápis-lazúli.Muitas árvores de jóias estarão alinhadas junto aos caminhos, cordões de ouro marcarão as bermas e quem os vir rejubilará.Emitirá constantemente uma agradável fragrância, com pilhas de flores raras e muitos tipos de coisas estranhas e maravilhosas para seu adorno.A terra será plana e suave, sem montes nem depressões.A multidão de bodhisattvas estará para além de qualquer cálculo, com suas mentes controladas e dóceis, tendo alcançado grandes poderes transcendentais, e eles irão apoiar e abraçar as escrituras Búddhicas do Grande Veículo.A multidão de ouvintes será livre de falhas, na sua última encarnação, filhos do Rei do Dharma, e o seu número estará para além de qualquer cálculo - mesmo quando vistos com o olho celestial será impossível determinar o seu número.A duração da vida deste Buddha será de doze pequenos kalpas.O Honrado Pelo Mundo Luz Radiosa será como aqui está descrito.
Nessa ocasião o grande Maudgalyayana, Subhuti e Mahakatyayana, todos eles tremendo de agitação, juntaram as palmas das mãos e com uma só mente fitaram o Honrado Pelo Mundo, os seus olhos sem se desviarem sequer por um instante. Juntando as suas vozes num único som, falaram em verso, dizendo:
Grande e poderoso herói, Honrado Pelo Mundo, Rei do Dharma, Leão dos Shakyas, por te compadeceres de nós, favorece-nos com as palavras do Buddha!Por compreenderes a nossa mente mais íntima, seria como um banho de doce orvalho, lavando a nossa febre, se nos predissesses o nosso destino.Supõe que alguém, vindo de uma terra de fome, encontra subitamente o festim de um rei.Com o seu coração ainda cheio de dúvida e temor, ele não se atreveria a comer de imediato, sem para isso ter sido instruído pelo rei.Somos agora como essa pessoa, pois apesar de recordarmos os erros do Veículo Menor, não sabemos o que fazer para ganhar a insuperável sabedoria do Buddha.Ainda que ouçamos a voz de Buddha dizendo-nos que atingiremos o Buddhado, ainda albergamos no coração ansiedade e medo, tal qual a pessoa que não se atreve a comer.Mas se agora o Buddha nos outorgasse uma profecia, então a alegria e a paz de espírito seriam nossas.Grande e poderoso herói, Honrado Pelo Mundo, rogamo-te que nos outorgues uma profecia, assim como instruirias uma pessoa esfomeada a comer.
Então o Honrado Pelo mundo, compreendendo os pensamentos dos seus discípulos maiores, fez este anúncio aos monges: “Em futuras existências, Subhuti estará na presença de trinta centenas de milhares de milhões de Buddhas, oferecendo-lhes esmolas, honrando-os e louvando-os. Ele levará a cabo constantemente práticas brahma e cumprirá inteiramente a via do bodhisattva, e na sua encarnação final conseguirá atingir o Buddhado. O seu título será Tathagata Forma Rara (Sasiketu), merecedor de ofertas, de conhecimento correcto e universal, conduta perfeita e clara, bem aventurado, conhecedor do mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo.
“O seu kalpa será chamado Possessão de Jóias (Ratnasambhava) e a sua terra será chamada Nascido de Jóias (Ratnaprabhâsa). A terra será plana e suave, o chão feito de cristal, será adornada com árvores de jóias e livre de colinas e fossos, cumes e barrancos e da imundície das latrinas. Flores de jóias cobrirão o terreno e tudo será puro e limpo. As pessoas deste reino habitarão todas em terraços de jóias, em raros e maravilhosos pavilhões e torres. Os seus discípulos ouvintes serão incontáveis, ilimitados, para lá da capacidade de cálculo ou concepção. A multidão de bodhisattvas perfazerá um número de incontáveis milhares, dezenas de milhares, milhões de nayutas. A duração da vida desse Buddha será de doze pequenos kalpas. A sua Correcta Lei perdurará no mundo por vinte pequenos kalpas e a sua Lei Adulterada por vinte pequenos Kalpas. Este Buddha estará constantemente levitando no firmamento, pregando a Lei para a assembleia e salvando inumeráveis multidões de bodhisattvas e de ouvintes”.
Nessa ocasião, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Multidão de monges, eu agora anuncio isto para vós.Todos vós deveis ouvir o que eu digo sem qualquer distracção, o meu discípulo maior, Subhuti, está destinado a tornar-se um Buddha com o título Forma Rara.Ele oferecerá esmolas a incontáveis dezenas de milhares de milhões de Buddhas.Seguindo a prática dos Buddhas, ele gradualmente cumprirá a grande via, e na sua encarnação final adquirirá as trinta e duas marcas.Ele será imponente, excepcional, maravilhoso, como uma montanha de jóias.A sua Terra Búddhica será supremamente adornada e pura; nenhum ser vivente que a veja deixará de a amar e de se deleitar nela.Aí esse Buddha salvará incalculáveis multidões.Nessa Terra Búddhica existirão muitos bodhisattvas, todos eles de apuradas capacidades, girando a roda da não-regressão.Essa terra será constantemente adornada com bodhisattvas.A multidão de ouvintes estará para além de qualquer cálculo, todos ganhando os três entendimentos e exercitando os seis poderes transcendentais.Eles residirão nas oito emancipações e possuirão grande autoridade e virtude.A Lei pregada por esse Buddha manifestará imensuráveis poderes transcendentais e transformações de natureza maravilhosa.Seres celestiais e humanos, numerosos como as areias do Ganges, com as palmas das mãos unidas, escutarão e receberão em conjunto as palavras de Buddha.Esse Buddha terá uma duração de vida de doze pequenos kalpas, a sua Correcta Lei durará no mundo vinte pequenos kalpas e a sua Lei Counterfeit durará vinte pequenos kalpas.
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, falou uma vez mais à multidão de monges: “Agora digo-vos isto. O Grande Katyayana, em futuras existências, apresentará variados artigos como oferendas e servirá oito centenas de milhões de Buddhas, prestando-lhes honras e louvores. Após a extinção destes Buddhas, ele construirá para cada um uma torre memorial medindo cem yojanas de altura e quinhentas yojanas quer de largura quer de comprimento. Serão feitas de ouro, prata, lápis-lazúli, madrepérola, ágata, pérolas e coral, todas estas sete preciosas substâncias combinadas. Numerosas flores, colares, incenso, grinaldas, óleos, pálios de seda, fitas e estandartes serão apresentadas como oferendas às torres memoriais. E após tudo isto ser feito, ele fará uma vez mais ofertas a vinte mil milhões de Buddhas e repetirá todo o processo.
“Quando ele tiver acabado de oferecer esmolas aos Buddhas, ele cumprirá inteiramente a via do bodhisattva e tornar-se-á um Buddha com o título Tathagata Brilho Dourado de Jambunada (Jambunada Prabhâsa), merecedor de ofertas, de conhecimento correcto e universal, conduta perfeita e clara, bem aventurado, conhecedor do mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo.
“A sua terra Búddhica será plana e suave, o chão feito de cristal, será adornada de árvores de jóias com cordões de ouro a marcar os limites dos caminhos. Flores maravilhosas cobrirão o terreno, toda ela será pura e limpa e quem a vir rejubilará. Os quatro modos malignos de existência, o inferno e os reinos de espíritos esfomeados, bestas e asuras, não existirão aí. Existirão muitos seres celestiais e humanos e multidões de bodhisattvas em inumeráveis dezenas de milhares de milhões adornarão essa terra. A duração da vida desse Buddha será de vinte pequenos kalpas, a sua Correcta Lei perdurará no mundo por vinte pequenos kalpas e a sua Lei Adulterada por vinte pequenos Kalpas.”
Nessa ocasião, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Multidão de monges, ouçam todos sem qualquer distracção, pois naquilo que eu digo, em nada se afasta da verdade.O Grande Katyayana oferecerá aos Buddhas vários tipos de maravilhosos artigos, e após a extinção desses Buddhas levantará torres memoriaisfeitas com os sete tesouros e apresentará flores e incenso como oferendas às relíquias.Na sua encarnação final ele ganhará a sabedoria Búddhica e alcançará a iluminação correcta e imparcial.A sua terra será pura e limpa e ele salvará inumeráveis dezenas de milhares de milhões de seres viventes, e receberá oferendas de todas as dez direcções.O brilho deste Buddhaninguém conseguirá igualar.O seu título Búddhico será Brilho Dourado de Jambunada.Bodhisattvas e ouvintes, cortando com todas as formas de existência, incontáveis e imensuráveis em número, adornarão a sua terra.
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, falou uma vez mais à multidão de monges: “Agora digo-vos isto. O Grande Maudgalyayana apresentará variados artigos como oferendas a oito mil Buddhas, prestando-lhes honras e louvores. Após a extinção destes Buddhas, ele construirá para cada um uma torre memorial medindo cem yojanas de altura e quinhentas yojanas quer de largura quer de comprimento. Serão feitas de ouro, prata, lápis-lazúli, madrepérola, ágata, pérolas e coral, todas estas sete preciosas substâncias combinadas. Numerosas flores, colares, incenso, grinaldas, óleos, pálios de seda, fitas e estandartes serão apresentadas como oferenda. Após tudo isto, uma vez mais ele fará ofertas a duzentas dezenas de milhares de milhões de Buddhas, repetindo todo o processo.
“Então ele será capaz de se tornar um Buddha com o título Tathagata Fragrância de Sândalo de Tamalapatra (Tamâlapatrakandanagandha), merecedor de ofertas, de conhecimento correcto e universal, conduta perfeita e clara, bem aventurado, conhecedor do mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. O seu kalpa será chamado Pleno de Alegria (Manobhirâma) e a sua terra Deleite da Mente (Ratipratipûrna). A terra será plana e suave, o chão feito de cristal, flores e pérolas estarão espalhadas por toda a parte, tudo será puro e limpo e quem a vir rejubilará. Existirão muitos seres celestiais e humanos e os bodhisattvas e ouvintes serão imensuráveis em número. A duração da vida desse Buddha será de vinte e quatro pequenos kalpas, a sua Correcta Lei perdurará no mundo por quarenta pequenos kalpas e a sua Lei Adulterada por quarenta pequenos Kalpas.”
Então, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Este meu discípulo, o Grande Maudgalyayana, quando despir o seu presente corpo, será capaz de ver oito centenas, duzentas dezenas de milhares de milhões de Buddhas, Honrados Pelo Mundo, e em prol da via do Buddhado oferecer-lhes-á esmolas, prestar-lhes-á honra e reverência.Onde estes Buddhas estiverem ele constantemente levará a cabo práticas brahma e por inumeráveis kalpas abraçará e sustentará a Lei Búddhica..
Quando estes Buddhas se tiverem extinguido, ele levantará torres, feitas com os sete tesouros, decoradas com flores, incenso e música.Passo a passo ele cumprirá todos os deveres da via do bodhisattva e na terra chamada Deleite da Mente será capaz de se tornar um Buddha chamado Fragrância de Sândalo de Talamapatra.A duração da sua vida será de quarenta kalpas.Em prol dos seres celestiais e humanos ele exporá constantemente a via do Buddhado.Ouvintes inumeráveis como as areias do Ganges, com os três entendimentos e os seis poderes transcendentais, manifestarão grande autoridade e virtude.Incontáveis bodhisattvasserão de vontade firme, esforçados e diligentes, e em relação à sabedoria Búddhica nunca retrocederão.Após este Buddha se ter extinguido, a sua Correcta Lei perdurará por quarenta pequenos kalpas e a sua Lei Adulteradaterá igual duração.Os meus vários discípulos, plenamente imbuídos de dignidade e virtude, em número de quinhentos, receberão todos igual profecia.Numa futura existência todos serão capazes de alcançar o Buddhado.Em relação às causa e condições das existências passadas, no que respeitam a mim e a vós, eu irei agora pregar.Deveis ouvir cuidadosamente.
Capítulo Sete: A Parábola da Cidade Fantasma
O Buddha fez este anúncio aos monges: Algures num passado remoto, há imensuráveis, ilimitados, incontáveis kalpas atrás, existiu um Buddha chamado Excelência da Grande e Universal Sabedoria (Mahâbhigñâgñanâbhibhû), Tathagata, merecedor de ofertas, de conhecimento correcto e universal, conduta perfeita e clara, bem aventurado, conhecedor do mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. A sua terra era chamada Bem Constituída e o seu kalpa Grande Forma.
“Então monges, desde a extinção desse Buddha, um grande, longo tempo passou. Suponham, por exemplo, que alguém pega em todas as partículas de terra deste universo e as reduz a pó, e à medida que passa por mil terras na direcção Este, larga um minúsculo grão de pó. Novamente, ao passar por outras mil terras, ele solta outro grão de pó. Suponham que ele prossegue nesta direcção até acabar de deitar todos os grãos de pó feitos com as partículas de terra. Qual é a vossa opinião? Pensais que, em relação a estas terras, os mestres de cálculo ou os seus discípulos seriam capazes de determinar o número de terras visitadas desta forma, ou não?
“Isso seria impossível, Honrado Pelo Mundo.”
“Agora monges, suponham que alguém pegava nas terras através das quais esse homem tinha passado, quer tivesse largado uma partícula de terra ou não, e as moía em pó E suponham que cada uma dessas partículas de pó representava um kalpa. Os kalpas passados desde a extinção desse Buddha excederiam o número de partículas de pó em imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhar de milhões de kalpas. Mas porque eu emprego o poder de conhecimento e visão do Tathagata, quando olho para esse longínquo passado, é como se fosse hoje.”
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, desejando expor novamente o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Quando penso no passado, imensuráveis, ilimitados kalpas atrás, vejo que existiu um Buddha, mais honrado dos seres humanos, chamado Excelência da Grande e Universal Sabedoria.Se uma pessoa usasse a sua força para esmagar toda a terra do universo, reduzindo-a a poeira, e se passa-se por mil mundose larga-se uma partícula de pó, e se ela continuasse desta forma até ter esgotado todas as partículas, e se então pegasse em todos os solos dos mundos por onde havia passado, quer tivesse ou não largado um grão de poeira, e uma vez mais reduzisse essa terra a pó, e posto isto cada grão de poeira representasse um kalpa - o número de finíssimos grãos seria menor do que a soma de kalpas que passaram desde que esse Buddha viveu.Desde a extinção desse Buddha, um imensurável número de kalpas tal como este já passou.O Tathagata, através da sua visão desimpedida, conhece o tempo em que esse Buddha se extinguiu e os seus ouvintes e bodhisattvas como se estivesse a presenciar essa extinção exactamente agora.Monges, deveis entender que a sabedoria do Buddha é pura, subtil, maravilhosa, sem falhas, sem impedimentos, penetrando e alcançando imensuráveis kalpas.
O Buddha anunciou aos monges: ”O Buddha Excelência da Grande e Universal Sabedoria teve uma de vida de quinhentos e quarenta dezenas de milhares de milhões de nayutas de kalpas. Este Buddha primeiramente sentou-se no lugar da iluminação e, tendo subjugado as armadas do demónio, estava a ponto de alcançar anuttara-samyak-sambodhi mas as doutrinas dos Buddhas não apareceram diante dele. Esta situação continuou durante dez pequenos kalpas, o Buddha sentado de pernas cruzadas, corpo e mente imóveis, mas as doutrinas dos Buddhas ainda assim não apareceram diante dele.
“Nessa altura os seres celestiais do paraíso Trayastrimsha tinham estendido para o Buddha um trono de leão com uma yogana de altura sob uma árvore Boddhi, pretendendo que ele se sentaria ali após alcançar anuttara-samyak-sambodhi. Logo que o Buddha ocupou ali o seu lugar, os reis Brahma fizeram chover imensas flores celestiais, cobrindo o chão numa extensão de cem yoganas em redor. De tempos a tempos uma brisa fragrante vinha limpar as flores secas, e novas flores caiam do céu. Isto continuou sem interrupção pelo espaço de dez pequenos kalpas como uma oferta ao Buddha. Até à altura em que ele se extinguiu, essa chuva de flores prosseguiu ininterruptamente. Os quatro Reis Celestiais, como oferta ao Buddha, tocaram constantemente os tambores celestiais, enquanto outros seres celestiais tocaram instrumentos musicais celestes, todos durante dez pequenos kalpas. Até o Buddha entrar em extinção esse era o estado de coisas.
“Então, monges, o Buddha Excelência da Grande e Universal Sabedoria passou dez pequenos kalpas sem conseguir alcançar anuttara-samyak-sambodhi. Antes do Buddha deixar a vida familiar, tinha dezasseis filhos, o primeiro dos quais se chamava Sabedoria Acumulada. Cada um destes filhos tinha brinquedos e objectos raros de vários tipos, mas quando ouviram que o seu pai tinha alcançado anuttara-samyak-sambodhi, todos abandonaram esses objectos raros e foram ter com o Buddha. As suas mães seguiram chorosas atrás deles.
“O seu avô, que era um rei sábio, em conjunto com cem ministros e centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de súbditos, juntou-se aos filhos do Buddha que seguiam para o lugar da prática, todos ansiosos por chegar perto do Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria, oferecer-lhe dádivas, prestar-lhe honras, venerá-lo e louvá-lo. Quando chegaram, tocaram com a cabeça no chão fazendo vénias a seus pés. Quando terminaram de circundar o Buddha, uniram as palmas das mãos e com uma única mente, fitaram reverentemente o Honrado Pelo Mundo e recitaram estes versos de louvor, dizendo:
O Honrado Pelo Mundo, de grande autoridade e virtude, por forma a salvar os seres viventes passou imensuráveis milhões de anos até que por fim conseguiu tornar-se um Buddha.Todos os seus votos foram cumpridos - nenhuma fortuna poderia ser maior!O Honrado Pelo Mundo é raro de encontrar; após ter tomado o seu lugar passaram-se dez kalpas, o seu corpo e as suas mãos e pés, repousam tranquilos e imóveis, a sua mente está constantemente calma e plácida, nunca em agitação ou desordem.No final ele alcança eterna tranquilidade e extinção, repousando na Lei sem falhas.Agora, conforme observamos o Honrado Pelo Mundo em tranquilidade, tendo completado a via do Buddhado, ganhamos excelentes benefícios e louvamo-lo e congratulamo-lo com grande alegria.Os seres viventes suportam constantemente sofrimento e angustia, ignorantes, sem mestre ou guia, não se apercebendo da existência de uma via para pôr termo ao sofrimento, não sabendo como procurar a emancipação.Através da longa noite vão-se embrenhando cada vez mais nos maus caminhos, diminuindo a multidão de seres celestiais; das trevas eles entram nas trevas, sem nunca ouvirem o nome Buddha.Mas agora o Buddha atingiu a inexcedível tranquilidade da Lei sem falhas.Nós e os seres celestiais e humanos por este facto obtemos o maior beneficio.Por esta razão curvamos as nossas cabeças e dedicamos as nossas vidas àquele de honra inexcedível.
Nessa altura os dezasseis príncipes, tendo louvado o Buddha nestes versos, incitaram o Honrado Pelo Mundo a fazer girar a roda da Lei, dizendo todos a uma só voz estas palavras: “Honrado Pelo Mundo, expõe a Lei. Assim fazendo trarás tranquilidade aos seres celestiais e humanos, confortando-os e beneficiando-os em larga medida.” Repetiram este pedido em verso, dizendo:
Herói sem par no mundo, tu que te adornas com mil bênçãos e atingiste a sabedoria insuperável - rogamo-te que pregues para bem do mundo.Salva-nos e liberta-nos e às outras espécies de seres viventes.Traça distinções, esclarece-nos e permite que alcancemos a sabedoria.Se nós podemos conquistar o Buddhado, então todos os seres viventes o podem também fazer.Honrado Pelo Mundo, tu conheces os pensamentos que os seres viventes guardam no mais íntimo das suas mentes.Conheces os caminhos que trilham e a força da sua sabedoria, os seus prazeres, as bênçãos que cultivaram, as acções que levaram a cabo em existências passadas.Honrado Pelo Mundo, tudo isto tu já sabes - agora deves fazer girar a roda insuperável!
O Buddha anunciou aos monges: “Quando o Buddha Excelência da Grande e Universal Sabedoria alcançou anuttara-samyak-sambodhi, quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras Búddhicas nas dez direcções tremeram e se abalaram de seis modos diferentes. Os lugares escuros e ermos nessas terras, onde a luz do sol e da lua nunca chega a penetrar, ficaram visíveis, os seus habitantes foram capazes de se verem uns aos outros, e exclamaram, ”Como é possível que tenham de repente aparecido seres viventes neste local?”
“Também os palácios dos vários seres celestiais nessas terras e os palácios de Brahma tremeram e se abalaram em seis direcções diferentes e uma grande luz brilhou em toda a parte, enchendo completamente os mundos e superando a majestade da luz celestial. Nessa ocasião, em quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras na direcção Este os palácios de Brahma refulgiram com uma luz de um brilho cintilante e cada um dos reis Brahma pensou: “Agora o brilho do palácio é mais forte que nunca. O que poderá ter provocado este fenómeno?”
“Então os reis Brahma visitaram-se uns aos outros para discutir o assunto. Entre eles existia um grande rei Brahma chamado Salvador de Todos os Seres (Sarvasattvatrâtri), que perante a multidão de reis Brahma falou em verso, dizendo:
Os nossos palácios têm um brilho nunca antes conhecido.Qual pode ser a causa disto?Cada um de nós procura uma resposta.Será devido ao nascimento de qualquer ser celestial de grande virtude, ou porque um Buddha apareceu no mundo, que esta grande luz brilha em toda a parte pelas dez direcções?
“Nessa ocasião os reis Brahma das quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras, acompanhados dos seus palácios, cada rei despindo o seu manto exterior e enchendo-o de flores celestiais, viajaram em conjunto para a direcção Oeste para observarem aí os sinais. Eles viram o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria no lugar da prática, sentado num trono de leão sob uma árvore bodhi, com os seres celestiais, reis dragões, gandharvas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos rodeando-o e prestando-lhe reverência. E viram também os dezasseis príncipes pedindo ao Buddha para girar a roda da Lei.
“De imediato os reis Brahma tocaram com as cabeças no chão prostrando-se aos pés de Buddha, circularam à sua volta cem mil vezes espalhando sobre ele as flores celestiais. As flores fizeram uma pilha da altura do monte Sumeru. Essas flores eram também oferta para a árvore bodhi, com dez yoganas de altura. Quando eles terminaram estas ofertas de flores, cada um tomou o seu lugar e ofereceu o seu palácio ao Buddha, dizendo estas palavras: “Esperamos que nos concedas conforto e benefícios. Rogamos-te que aceites e ocupes estes palácios que aqui apresentamos.”
“Nessa altura os reis Brahma, na presença do Buddha, com uma só mente juntaram as suas vozes na recitação destes versos de louvor:
Ó Honrado Pelo Mundo, difícil de encontrar, dotado de imensuráveis bênçãos, capaz de salvar a todos, grande mestre de seres celestiais e humanos, tu conferes ao mundo compaixão e bem estar.Os seres viventes das dez direcções em toda a parte recebem benefícios.Nas quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras de onde viemos, pusemos de lado a alegria da profunda meditação de modo a trazermos oferendas ao Buddha.Devido à nossa boa fortuna em prévias existências os nossos palácios estão ricamente adornados.Queremos agora apresentá-los ao Honrado Pelo Mundo, rogando-lhe que tenha a amabilidade de os aceitar.
“Seguidamente, quando os reis Brahma acabaram de louvar o Buddha em verso, falou cada um estas palavras:” Rogamos ao Honrado Pelo Mundo que faça girar a roda da Lei, que salve os seres viventes e abra as portas do nirvana!”
“Então os reis Brahma com uma só mente juntaram as suas vozes e falaram em verso, dizendo:
Herói do mundo, mais honrado entre os homens, rogamos-te que exponhas a Lei.Através do poder da tua grande misericórdia e compaixão, salva os seres viventes no seu sofrimento e angustia!
“Nessa altura o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria anuiu silenciosamente ao pedido.
Então monges, nas quinhentas dezenas de milhar de milhões de terras no Sudeste, os reis Brahma observaram que os seus palácios brilhavam com uma luz cintilante nunca antes vista. Dançando de alegria, entrando num modo mental raramente experimentado, foram visitar-se uns aos outros para discutir este assunto em conjunto.
“Havia no meio da assembleia um grande rei Brahma chamado Grande Compaixão (Adhimâtrakârunika) que perante a multidão de reis Brahma, falou em verso, dizendo:
Que causa está a operar por forma a que este sinal seja manifesto?Os nossos palácios irradiam um brilho nunca antes conhecido.Será devido ao nascimento de algum ser celestial de grande virtude, ou porque um Buddha apareceu no mundo?Nunca vimos tais sinais e com uma só mente buscamos a razão.Ainda que tenhamos que viajar por centenas, dezenas de milhares de milhões de terras, juntos procuraremos a causa desta luz.Certamente é devida ao aparecimento de um Buddha no mundo para salvar os seres viventes do sofrimento.
“Nessa ocasião os reis Brahma das quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras, acompanhados dos seus palácios, cada rei despindo o seu manto exterior e enchendo-o de flores celestiais, viajaram em conjunto para a direcção Noroeste para observarem aí os sinais. Eles viram o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria no lugar da prática, sentado num trono de leão sob uma árvore bodhi, com seres celestiais, reis dragões, gandharvas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos rodeando-o e prestando-lhe reverência. E viram também os dezasseis príncipes pedindo ao Buddha para girar a roda da Lei.
“De imediato os reis Brahma inclinaram suas cabeças até ao chão prostrando-se aos pés de Buddha, circularam à sua volta cem mil vezes espalhando sobre ele as flores celestiais. As flores fizeram uma pilha da altura do monte Sumeru. Essas flores eram também oferta para a árvore bodhi, com dez yoganas de altura. Quando eles terminaram estas ofertas de flores, cada um tomou o seu lugar e ofereceu o seu palácio ao Buddha, dizendo estas palavras: “Esperamos que nos concedas conforto e benefícios. Rogamo-te que aceites e ocupes estes palácios que aqui apresentamos.”
“Então os reis Brahma com uma só mente juntaram as suas vozes e falaram em verso, dizendo:
Sábio senhor, ser celestial entre seres celestiais, cuja voz é igual à da ave kalavinka, tu que te compadeces dos seres viventes e os confortas, nós agora prestamo-te honra e reverência.O Honrado Pelo Mundo é raro de encontrar, aparecendo apenas uma vez em muitas e longas eras.Cento e oitenta kalpas passaram em vão sem um Buddha, quando os três maus caminhos estavam em toda a parte e a multidão de seres celestiais era reduzida em número.Agora o Buddha apareceu no mundo para ser um olho para os seres viventes.O mundo apressar-se-á até ele e ele salvará e guardará todos sem excepção.Ele será um pai para os seres viventes, confortando-os e beneficiando-os.Devido à nossa boa fortuna em prévias existências, somos agora capazes de encontrar o Honrado Pelo Mundo!
“Seguidamente, quando os reis Brahma acabaram de louvar o Buddha em verso, falou cada um estas palavras:” Rogamos ao Honrado Pelo Mundo que se compadeça e conforte a todos e faça girar a roda da Lei!
“Então os reis Brahma com uma só mente juntaram as suas vozes e falaram em verso, dizendo:
Grande sábio, faz girar a roda da Lei, revela as características dos ensinamentos, salva os seres viventes do seu sofrimento e angustia, permite-lhes que atinjam a grande alegria.Quando os seres viventes ouvirem esta Lei encontrarão o caminho ou renascerão no céu; os dos reinos inferiores serão reduzidos em número e aumentarão os de bondade paciente.
“Nessa altura o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria anuiu silenciosamente ao pedido.
Então monges, nas quinhentas dezenas de milhar de milhões de terras no Sul, os reis Brahma observaram que os seus palácios brilhavam com uma luz cintilante nunca antes vista. Dançando de alegria, entrando num modo mental raramente experimentado, foram visitar-se uns aos outros para discutir este assunto em conjunto, dizendo, “Qual é a razão dos nossos palácios emitirem esta luz brilhante?”“Havia no meio da assembleia um grande rei Brahma chamado Lei Maravilhosa (Sudharma) que perante a multidão de reis Brahma, falou em verso, dizendo:
Os nossos palácios cintilam com um brilho inexcedível.Isto tem de ter uma razão - devíamos investigar.Nos cem mil kalpas passadosnunca vimos tais sinais Será devido ao nascimento de algum ser celestial de grande virtude, ou porque um Buddha apareceu no mundo?
“Nessa ocasião os reis Brahma das quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras, acompanhados dos seus palácios, cada rei despindo o seu manto exterior e enchendo-o de flores celestiais, viajaram em conjunto para a direcção Nordeste para observarem aí os sinais. Eles viram o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria no lugar da prática, sentado num trono de leão sob uma árvore bodhi, com seres celestiais, reis dragões, gandharvas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos rodeando-o e prestando-lhe reverência. E viram também os dezasseis príncipes pedindo ao Buddha para girar a roda da Lei.
“De imediato os reis Brahma tocaram com as cabeças no chão prostrando-se aos pés de Buddha, circularam à sua volta cem mil vezes espalhando sobre ele as flores celestiais. As flores fizeram uma pilha da altura do monte Sumeru. Essas flores eram também oferta para a árvore bodhi, com dez yoganas de altura. Quando eles terminaram estas ofertas de flores, cada um tomou o seu lugar e ofereceu o seu palácio ao Buddha, dizendo estas palavras: “Esperamos que nos concedas conforto e benefícios. Rogamo-te que aceites e ocupes estes palácios que aqui apresentamos.”
“Então os reis Brahma com uma só mente juntaram as suas vozes e disseram estes versos de louvor:
Honrado Pelo Mundo, o mais difícil de encontrar, destruidor dos desejos mundanos, cento e trinta kalpas passaram e agora finalmente podemos ver-te.Os seres viventes na sua fome e sede são saciados com a chuva do Dharma.Alguém como nunca antes visto, de sabedoria imensurável, raro como a flor da udumbara, hoje por fim apareceu perante nós.Por terem recebido a tua luz, os nossos palácios estão maravilhosamente adornados.Honrado Pelo Mundo, de grande misericórdia e compaixão, rogamo-te que os aceites.
“Seguidamente, quando os reis Brahma acabaram de louvar o Buddha em verso, falou cada um estas palavras: ”Rogamos ao Honrado Pelo Mundo que faça girar a roda da Lei, que leve os seres celestiais, demónios, reis Brahma, shramanas e Brahmans por todo o mundo a obter paz e tranquilidade e a alcançar a salvação.”
“Então os reis Brahma com uma só mente juntaram as suas vozes recitando versos de louvor, dizendo:
Rogamos ao mais honrado dos seres celestiais e humanos que faça girar a roda da Lei insuperável.Que bata o grande tambor do Dharma, sopre a grande concha do Dharma, faça cair a grande chuva do Dharma por toda a parte para salvar imensuráveis seres viventes!Nós dirigimos para ti toda a nossa fé e as nossas súplicas - deixa soar a tua voz profunda e de longo alcance!
“Nessa altura o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria anuiu silenciosamente ao pedido. Na região sudoeste e nas restantes regiões até ao nadir, ocorreu uma sucessão similar de eventos.
“Então, na região do Nadir, os reis Brahma das quinhentas dezenas de milhar de milhões de terras no Sudoeste, observaram que os seus palácios brilhavam com uma luz cintilante nunca antes conhecida. Dançando de alegria, entrando num modo mental raramente experimentado, foram visitar-se uns aos outros para discutir este assunto em conjunto, dizendo, “Qual é a razão dos nossos palácios emitirem esta luz brilhante?”
“Havia no meio da assembleia um grande rei Brahma chamado Lei Maravilhosa (Sudharma) que perante a multidão de reis Brahma, falou em verso, dizendo:
Qual é a razão para que os nossos palácios cintilem com tal autoridade e virtude, adornados como nunca?Um sinal maravilhoso deste tipo nunca foi visto ou ouvido no passado.Será devido ao nascimento de algum ser celestial de grande virtude, ou porque um Buddha apareceu no mundo?
“Nessa ocasião os reis Brahma das quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras, acompanhados dos seus palácios, cada rei despindo o seu manto exterior e enchendo-o de flores celestiais, viajaram em conjunto para a direcção Nordeste para observarem aí os sinais. Eles viram o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria no lugar da prática, sentado num trono de leão sob uma árvore bodhi, com seres celestiais, reis dragões, gandharvas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos rodeando-o e prestando-lhe reverência. E viram também os dezasseis príncipes pedindo ao Buddha para girar a roda da Lei.
“De imediato os reis Brahma tocaram com as cabeças no chão prostrando-se aos pés de Buddha, circularam à sua volta cem mil vezes espalhando sobre ele as flores celestiais. As flores fizeram uma pilha da altura do monte Sumeru. Essas flores eram também oferta para a árvore bodhi, com dez yoganas de altura. Quando eles terminaram estas ofertas de flores, cada um tomou o seu lugar e ofereceu o seu palácio ao Buddha, dizendo estas palavras: “Esperamos que nos concedas conforto e benefícios. Rogamo-te que aceites e ocupes estes palácios que aqui apresentamos.”
“Então os reis Brahma com uma só mente juntaram as suas vozes e disseram estes versos de louvor:
Que bom, que possamos ver os Buddhas, sábios e veneráveis que salvam o mundo, capazes de resgatar e libertar os seres viventes do inferno do triplo mundo!Venerável entre os seres celestiais e humanos, de sabedoria universal, tu compadeces-te e tens misericórdia pela multidão de criaturas, és capaz de abrir os portões do doce orvalho e trazer a todos a salvação.Anteriormente, imensuráveis kalpas passaram em vão sem que um Buddha estivesse presente.O tempo não tinha ainda chegado para que o Honrado pelo Mundo aparecesse, e tudo nas dez direcções estava em constante escuridão.Os habitantes dos três reinos inferiores aumentavam em número e o reino dos asuras crescia; a multidão dos seres celestiais diminuía, e muitos deles ao morrer caíam nos reinos malignos.Uma vez que ninguém podia procurar o Buddha e escutar a Lei, as pessoas incorriam em condutas impropriase a sua força física e sabedoria diminuía e esmorecia.Devido aos actos nefastos por eles praticados, perderam todo o deleite e até a ideia do deleite.Apegaram-se a doutrinas heréticas e não tinham conhecimento dos bons costumes e regras.Impedidos de serem instruídos pelo Buddha, caíam constantemente nos reinos malignos.Mas agora tu, o Buddha, que serás o olho do mundo, Após este longo tempo chegas-te finalmente.Por forma a trazer piedade e conforto aos seres viventes apareceste no mundo.Transcendeste o mundo para ganhar a correcta iluminação;estamos cheios de deleite e admiração.Nós e todos os outros na assembleia rejubilamos, deleitando-nos no que nunca conhecemos antes.Os nossos palácios, por terem recebido a tua luz, estão maravilhosamente adornados.Agora apresentamo-los ao Honrado Pelo Mundo, na esperança de que ele se compadeça e os aceite.Rogamo-te que o mérito obtido através desta dádiva seja largamente repartido por todos, de modo a que nós e outros seres viventes possamos todos juntos atingir o Buddhado.
“Seguidamente, depois de as quinhentas dezenas de milhares de milhões de reis Brahma terem acabado de recitar estes verso em louvor do Buddha, falou cada um estas palavras:” Rogamos ao Honrado Pelo Mundo que faça girar a roda da Lei, trazendo paz e tranquilidade a muitos, trazendo a muitos a salvação.Então os reis Brahma falaram em verso, dizendo:Honrado Pelo Mundo, faz girar a roda da Lei, bate o tambor do Dharma de doce orvalho, salva os seres viventes do seu sofrimento e angustia, abre e revela-nos o caminho do nirvana!Rogamo-te que aceites as nossas súplicas e que, com um grande, subtil e maravilhoso som, tragas piedade e conforto expondo a Lei que praticas-te por imensuráveis kalpas.
“Nessa altura o Tathagata Excelência da Grande e Universal Sabedoria, tendo recebido súplicas dos dezasseis príncipes e dos reis Brahma das dez direcções, deu de imediato três voltas da roda de doze raios da Lei. Nem shramana, Brahman, ser celestial, demónio, Brahma, nem qualquer outro ser vivente no mundo era capaz de uma tal rotação. Ele disse, “Aqui está o sofrimento, aqui está a origem do sofrimento, aqui está a aniquilação do sofrimento, aqui está o caminho para a aniquilação do sofrimento.”
“Então ele expôs largamente a Lei dos doze elos interligados de causalidade : a ignorância causa a acção, a acção causa a consciência, a consciência causa o nome e a forma, o nome e a forma causam os seis órgãos dos sentidos, os seis órgãos dos sentidos causam o contacto, o contacto causa a sensação, a sensação causa o desejo, o desejo causa o apego, o apego causa a existência, a existência causa o nascimento, o nascimento causa a velhice e a morte, a preocupação e a dor, o sofrimento e a angustia. Se a ignorância for removida, então a acção será removida, se a acção for removida , então a consciência será removida, se a consciência for removida, então o nome e a forma serão removidos, se o nome e a forma forem removidos, então os seis órgãos dos sentidos serão removidos, se os seis órgãos dos sentidos forem removidos, então o contacto será removido, se o contacto for removida, então a sensação será removida, se a sensação for removida, então o desejo será removido, se o desejo for removido, então o apego será removido, se o apego for removido, então a existência será removida, se a existência for removida, então o nascimento será removido, se o nascimento for removido, então a velhice e a morte, a preocupação e a dor, o sofrimento e a angustia serão removidos.
“Quando o Buddha no meio da grande assembleia de seres celestiais e humanos expôs esta Lei, seiscentas dezenas de milhares de milhões de nayutas de pessoas, porque deixaram de aceitar qualquer das coisas do mundo fenomenal e porque as suas mentes estavam capazes de se libertarem de imperfeições, todos alcançaram uma profunda e maravilhosa prática meditativa, adquiriram as três compreensões e os seis poderes transcendentais e foram agraciados com as oito emancipações. E quando ele fez uma segunda, terceira e quarta exposição da Lei, seres viventes iguais em número aos grãos de areia de mil dezenas de milhares de milhões de nayutas de rios Ganges, por terem igualmente deixado de aceitar qualquer das coisas do mundo fenomenal, foram capazes de se libertarem das imperfeições da mente. Daí em diante, a multidão de ouvintes tornou-se imensurável, sem limite, incapaz de ser contada.
“Nessa altura os dezasseis príncipes deixaram as suas famílias enquanto ainda jovens e tornaram-se shramaneras. As suas faculdades eram apuradas e penetrantes, a sua sabedoria brilhante e compreensiva. Já no passado eles tinham oferecido esmolas a centenas de milhares, dezenas de milhares de Buddhas, e levado a cabo práticas Brahma de forma perfeita, e lutado para atingir anuttara-samyak-sambhodi. Dirigiram-se ao Buddha em conjunto, dizendo: Honrado Pelo Mundo, estes inumeráveis milhares, dezenas de milhares, milhões de ouvintes de grande virtude, já foram bem sucedidos. Honrado Pelo Mundo, nós estamos determinados a alcançar a perspicácia do Tathagata. No mais íntimo dos nossos corações temos este pensamento, tal como o Buddha deve saber.”
“Nessa ocasião o Buddha, respondendo às súplicas dos shramaneras, passou um período de vinte mil kalpas e por fim, no meio dos quatro tipos de crentes, pregou o sutra do Grande Veículo intitulado Lótus da Lei Maravilhosa, uma Lei para instruir os boddhisatvas, uma Lei que é guardada e mantida em mente pelos Buddhas. Após ter pregado este sutra, os dezasseis shramaneras, em prol de anuttara-samyak-sambhodi, aceitaram-no e abraçaram-no, recitando e entoando-o, penetrando e entendendo o seu sentido.
“Quando o Buddha pregou este sutra, todos os dezasseis bodhisattvas shramaneras tiveram fé nele e o aceitaram, e entre a multidão de ouvintes alguns ouve que o aceitaram e compreenderam. Mas os outros milhares de dezenas de milhares de milhões de seres viventes deram lugar à dúvida e à perplexidade.
“O Buddha pregou este sutra por um período de oitocentos Kalpas, nunca parando para descansar. Após ter pregado este sutra, entrou numa sala socegada e ficou em meditação por oitenta e quatro milhares de kalpas.
“Nesta altura os dezasseis bodhisattvas shramaneras, sabendo isso, ascenderam a um trono do Dharma e de igual modo, por um período de oitenta e quatro milhares de kalpas, pregaram largamente as distinções estabelecidas no Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, em prol dos quatro tipos de crentes. Desta forma cada um deles salvou seres viventes iguais em número aos grãos de areia de seiscentas dezenas de milhares de milhões de nayutas de rios Ganges, instruindo-os, trazendo-lhes benefícios e alegria e fazendo-os fixar as suas mentes em anuttara-samyak-sambhodi.
“O Buddha Excelência da Grande e Universal Sabedoria, após terem passado oitenta e quatro mil kalpas, despertou do seu samadhi e aproximou-se do lugar do Dharma. Sentando-se calmamente, dirigiu-se à grande assembleia, dizendo: estes dezasseis bodhisattvas shramaneras são de um tipo muito raro de encontrar, as suas faculdades são apuradas e penetrantes, a sua sabedoria brilhante e na companhia desses Buddhas eles levaram constantemente a cabo práticas brahma, recebendo e abraçando a sabedoria Búddhica, e expondo-a aos seres viventes. Todos vocês devem assiduamente associar-se a eles e oferecer-lhes dádivas. Porquê? Porque se qualquer um de vocês, ouvintes, pratyekabuddhas ou bodhisattvas, for capaz de ter fé nos ensinamentos dos sutras pregados por estes dezasseis bodhisattvas, e os aceitar e acolher sem nunca os depreciar, será capaz de alcançar anuttara-samyak-sambhodi, a sabedoria do Tathagata.”
O Buddha, dirigindo-se aos monges, disse: “Estes dezasseis bodhisattvas desejaram constantemente expor este Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa. Os seres viventes convertidos por cada um destes bodhisattvas são iguais em número aos grãos de areia de seiscentas dezenas de milhares de milhões de nayutas de rios Ganges. Existência após existência, estes seres viventes renascem na companhia desses bodhisattvas, ouvem deles a Lei, e todos a crêem e compreendem. Por esta razão eles foram capazes de encontrar quarenta mil milhões de Buddhas, Honrados Pelo Mundo, e nunca até ao presente deixaram de o fazer.
“Monges, eu vos direi isto: estes discípulos do Buddha, estes dezasseis shramaneras, atingiram agora anuttara-samyak-sambhodi. Nas terras das dez direcções, eles estão presentemente pregando a Lei, com séquito de imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de bodhisattvas e ouvintes. Dois destes shramaneras tornaram-se Buddhas na região Leste. Um chama-se Akshobhya e vive na Terra da Alegria. O outro é chamado Monte Sumeru (Merukûta). Dois são Buddhas na região sudeste, um chamado Voz de Leão, o outro Aparência de Leão. Dois são Buddhas na região sul, um chamado Habitante do Vazio, o outro Sem Extinção). Dois são Buddhas na região Sudoeste, um chamado Aparência Imperial, o outro Aparência de Brahma. Dois são Buddhas na região Oeste, um chamado Amitayus, o outro Salvador de Todos dos sofrimentos Mundanos. Dois são Buddhas na região Noroeste, um chamado Poder Transcendental da Fragrância de Sândalo de Talamapatra, o outro Aparência de Sumeru. Dois são Buddhas na região Norte, um chamado Nuvem de Liberdade, o outro Rei da Nuvem de Liberdade. Dos Buddhas da região Nordeste, um é chamado Destruidor dos Medos Mundanos, o décimo sexto sou eu, Buddha Shakyamuni, que neste mundo Saha alcancei anuttara-samyak-sambodhi.
“Monges, quando eu e esses outros era-mos shramaneras, ensinamos e convertemos cada um seres viventes iguais em número aos grãos de areia de imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de rios Ganges. Eles ouviram a Lei e alcançaram anuttara-samyak-sambodhi. Alguns desses seres viventes estão agora na condição de ouvintes. Mas nós instruimo-los constantemente em anuttara-samyak-sambodhi, e essas pessoas devem ser capazes, através desta Lei, de entrar no Caminho do Buddhado, ainda que gradualmente. Porque digo isto? Porque a sabedoria do Tathagata é difícil de acreditar e difícil de compreender. Esses seres viventes iguais em número às areias de imensuráveis rios Ganges convertidos nessa altura sois vós, agora monges, e serão esses que, depois de me ter extinguido, em épocas vindouras serão discípulos ouvintes.
“Após a minha extinção, haverão outros discípulos que não ouvirão este sutra e não terão noção das práticas levadas a cabo pelos bidhisattvas nem as compreenderão, mas que, através das bênçãos que tenham sido capazes de obter, conceberão uma ideia de extinção e entrarão naquilo que acreditarão ser o nirvana. Nessa altura eu serei um Buddha noutra terra e serei conhecido por um outro nome. Esses discípulos, ainda que tenham concebido a ideia de extinção e entrado no que julgaram ser o nirvana, irão nessa outra terra procurar a sabedoria Búddhica e serão capazes de ouvir este sutra. Porque é apenas mediante o veículo Búddhico que é possível alcançar a extinção. Não existe nenhum outro veículo, se exceptuarmos as várias doutrinas pregadas pelo Tathagata como meios expeditos.
“Monges, se um Tathagata sabe que é chegado o tempo de entrar no nirvana, e sabe que os membros da assembleia são puros e limpos, firmes em fé e entendimento, cabais na sua compreensão da Lei da vacuidade e avançados profundamente na sua prática meditativa, então ele reúne a assembleia de bodhisattvas e ouvintes e prega-lhes este sutra. Não existem no mundo dois veículos pelos quais se pode alcançar a extinção. Existe apenas um e um só veículo Búddhico para alcançar a extinção.
“Monges, deveis entender isto. O Tathagata no exercício dos meios expeditos penetra profundamente na natureza dos seres viventes. Ele sabe como os seus monges se deleitam em doutrinas insignificantes e quão profundamente estão apegados aos cinco desejos. E por eles serem assim, quando ele expõe o nirvana, fá-lo de modo a que essas pessoas, ouvindo-o, possam prontamente acreditá-lo e aceitá-lo.
“Suponhamos que existe um troço de estrada mau com quinhentas yoganas de extensão, íngreme e difícil, selvagem e deserto, desabitado, verdadeiramente temível. E suponhamos que existe um certo número de pessoas que quer passar por essa estrada para alcançar um lugar onde existem tesouros raros. Eles têm um líder, de grande sabedoria e entendimento apurado, que está perfeitamente familiarizado com esta estrada íngreme, conhece a disposição das suas passagens e obstáculos, e que está preparado para guiar este grupo de pessoas acompanhando-as neste terreno difícil.
“O grupo liderado por ele, após ter percorrido parte do caminho, fica desencorajado e diz ao líder, “Estamos completamente exaustos e assustados. Não podemos ir mais longe. Uma vez que ainda existe uma distância tão longa por percorrer, gostaríamos de voltar agora para trás.”
“O líder, um homem de muitos expedientes, pensa para si, “Que pena eles abandonarem os muitos tesouros raros que procuravam e quererem regressar! Tendo tido este pensamento, ele recorre ao poder dos meios expeditos e, tendo eles percorrido trezentas yoganas ao longo da estrada íngreme, conjura uma cidade. Ele diz ao grupo, “Não tenham medo! Não devem voltar atrás, porque existe agora uma grande cidade onde podem parar, descansar e fazer o que vos apetecer. Se entrarem nesta cidade estarão completamente à vontade e tranquilos. Então depois, se sentirem que conseguem ir até ao local onde está o tesouro, podem deixar a cidade.”
“Nessa altura os membros do grupo, completamente exaustos, rejubilaram, exclamando perante evento tão inesperado, “Agora podemos escapar desta estrada medonha e encontrar socego e tranquilidade!” As pessoas do grupo apressaram-se a entrar na cidade onde, sentindo-se salvos das suas dificuldades, tiveram uma sensação de completo socego e tranquilidade.
“Nessa altura o líder, sabendo que as pessoas estavam já descansadas e já não tinham temor ou preocupação, desvanece a cidade fantasma e diz para o grupo, “Agora devem continuar. O lugar onde se encontra o tesouro fica perto. Essa grande cidade de há pouco era um mero fantasma que eu conjurei para que pudessem descansar.”
“Monges, o Tathagata está numa posição similar. Ele está agora a actuar como um grande líder para vós. Ele sabe que a estrada do nascimento, da morte e dos desejos mundanos é íngreme, difícil e extensa, mas tem que ser percorrida, tem de ser ultrapassada. Se os seres viventes ouvirem falar apenas do veículo Búddhico, eles não quererão ver o Buddha, não quererão chegar perto dele, mas pensarão de imediato, “O caminho do Buddhado é longo e é necessário trabalhar diligentemente e suportar dificuldades durante um longo período antes de poder alguma vez ser bem sucedido!”
“O Buddha sabe que as mentes dos seres viventes são tímidas, fracas e pobres, e assim, usando o poder dos meios expeditos, ele prega dois nirvanas por forma a providenciar um lugar de repouso ao longo do caminho. Se os seres viventes escolhem permanecer nestes dois lugares, então o Tathagata diz-lhes: “Vocês ainda não entenderam o que tem de ser feito. Este estado em que vocês escolheram permanecer está próximo da sabedoria Búddhica. Mas deveis observar e ponderar melhor. Este nirvana que alcançásteis não é o verdadeiro nirvana. O que sucedeu foi simplesmente que o Tathagata, usando o poder dos meios expeditos, tomou o único veículo Búddhico e estabelecendo distinções, pregou-o como se fosse triplo.”
“O Buddha é como o líder que, de modo a providenciar um lugar de repouso, conjura uma grande cidade e então, quando sabe que os viajantes já estão descansados, diz-lhes, “O lugar onde se encontra o tesouro está próximo. Esta cidade não é real. É meramente algo conjurado por mim.”
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
O Buddha Excelência da Grande e Universal Sabedoria sentou-se no lugar da prática por dez kalpas, mas a Lei Búddhica não surgia diante dele e ele não conseguia alcançar a via do Buddhado.A assembleia de deuses celestiais, reis dragões, asuras e outros fizeram constantemente chover sobre ele flores celestiais como dádivas oferecidas a esse Buddha.Os seres celestiais bateram os seus tambores e fizeram vários tipos de música.Um vento fragrante varria as flores murchas, para de imediato choverem outras frescas e belas.Quando por fim tinham passado dez pequenos kalpas, ele foi então capaz de alcançar o Buddhado.Os seres celestiais e as pessoas do mundo, sentiram-se dançar em seus corações.Os dezasseis filhos do Buddha, na companhia dos seus seguidores, mil dezenas de milhares de milhões, juntaram-se e vieram ao lugar do Buddha, tocando com as cabeças no chão, fazendo vénias aos pés do Buddha e pedindo-lhe que fizesse girar a roda da Lei, dizendo,“Santo Leão, deixa que a chuva do Dharma caia sobre nós e sobre todos os outros!”O Honrado Pelo Mundo é difícil de encontrar, apenas uma vez em muito tempo ele aparece.De modo a trazer a iluminação a muitos seres ele faz tremer e mover as regiões circundantes.Nos mundos das dez direcções, em quinhentas dezenas de milhares de milhões de terras, os palácios dos reis Brahmabrilharam com uma luz nunca antes conhecida.Quando os reis Brahma viram estes sinais vieram à procura do lugar do Buddha para espalharem flores como forma de oferenda, apresentando ao mesmo tempo os seus palácios, pedindo ao Buddha que fizesse girar a roda da Lei e louvando-o em versos.O Buddha sabia não ter chegado ainda o tempo, e apesar dos pedidos, sentou-se em silêncio.Nas outras dez direcções, nas quatro direcções intermédias, na região superior e na região inferior, o mesmo ocorreu, os reis Brahma espalhando flores apresentaram os seus palácios, pedindo ao Buddha que girasse a roda da Lei, dizendo, “O Honrado Pelo Mundo é difícil de encontrar.Rogamo-te que na tua grande misericórdia e compaixão abras os portões do doce orvalho e faças girar a roda da Lei insuperável.”O Honrado Pelo Mundo, imensurável em sabedoria, aceitou os pedidos da assembleia e proclamou várias doutrinas, as quatro nobres verdades, os doze elos interligados de causalidade, descrevendo como, desde a ignorância até à velhice e à morte, todos os males advêm do nascimento, dizendo,“Em relação a estas muitas faltas e penas deveis entender que a morte é o quinhão da humanidade.”Quando ele expôs esta Lei, seiscentas dezenas de milhares de milhões de triliões de seres foram capazes de esgotar os limites dos sofrimentos, atingindo todos o estado de arhat.Da segunda vez que ele pregou a Lei uma multidão igual aos grãos de areia de mil rios Ganges, deixou de aceitar o mundo fenomenal e foram também capazes de se tornarem arahts.Daí que os que alcançaram o caminho fossem imensuráveis em número - podia ser calculado durante dez mil milhões de kalpas sem nunca conseguir determinar o seu montante.Nessa altura os dezasseis príncipes deixaram as suas famílias e tornaram-se shramaneras.Em conjunto pediram ao Buddha que expuse-se a Lei do Grande Veículo, dizendo,“Nós e os teus acólitos estamos certos de alcançar a via do Buddhado.Desejamos o olho da sabedoria de pureza incomparável igual ao que o Honrado Pelo Mundo possui.”O Buddha compreendeu as suas mentes imaturas e as acções que tinham levado a cabo em existências passadas, e empregando imensuráveis causas e condições e várias metáforas e parábolas, pregou-lhes os seis paramitas e os assuntos relacionados com os poderes transcendentais, distinguindo a verdadeira Lei, a via praticada pelos bodhisattvas, pregando este Sutra do Lótus em versos tão numerosos quanto as areias do Ganges.Quando o Buddha acabou de pregar o sutra entrou em meditação numa sala socegada, permanecendo no mesmo lugar durante oitenta e quatro mil kalpas.Os shramaneras sabiam que o Buddha não iria emergir tão cedo da meditação e por isso pregaram para a assembleia a sabedoria do Buddha, cada um sentado num lugar do Dharma, pregando este sutra do Grande Veículo.E depois de o Buddha ter entrado em pacífica tranquilidade, eles continuaram a proclamar, esperando converter outros à Lei.Os seres viventes salvos por cada um destes shramaneras foi igual em número aos grãos de areia de seiscentas dezenas de milhares de milhões de rios Ganges.Após a extinção do Buddha, essas pessoas que ouviram a Lei moraram aqui e ali em várias terras Búddhicas, renascendo constantemente na companhia dos seus mestres.E estes dezasseis shramaneras, tendo completado o caminho do Buddhado, encontram-se no presente pelas dez direcções, onde cada um atingiu a correcta iluminação.As pessoas que ouviram a Lei nessa altura estão todas em lugares onde se encontra um desses Buddhas, e aqueles que permanecem no estado de ouvintes estão a ser gradualmente instruídos na via do Buddhado.Eu próprio era um dos dezasseis e preguei no passado para vós.Por essa razão eu empregarei um meio expedito para vos colocar na demanda da sabedoria Búddhica; devido a estas causas e condições eu prego agora o Sutra do Lótus.Eu farei com que entrem na via do Buddhado - estai atentos e não tenhais medo!Suponham que existe um troço de estrada íngreme e penosa, numa região desolada e remota com muitas feras ameaçadoras, um lugar ermo sem água ou verdura, temido pelas pessoas.Um grupo de incontáveis milhares queria passar por essa estrada íngreme, mas a estrada era muito longa, com quinhentas yoganas de extensão.Havia então um líder bem informado, dotado de sabedoria, de entendimento claro e mente determinada, capaz de salvar pessoas de muitos perigos e dificuldades.Os membros do grupo estavam esgotados e sem ânimo e disseram ao seu líder, “Estamos esgotados de fadiga e queremos desistir e voltar para trás.”O líder pensou então, estas pessoas são realmente merecedoras de pena! Porque querem voltar para trás e perder os muitos tesouros que existem adiante?Nessa ocasião ele pensou num meio expedito, decidido a recorrer aos seus poderes transcendentais.Ele conjurou uma grande cidade fortificada e adornada de mansões, rodeando-a de jardins e bosques, canais de águas correntes, lagos e fontes, com portões, altas torres e pavilhões,todos repletos de homens e mulheres.Logo que ele criou esta ilusão, reconfortou o grupo, dizendo, “Não tenhais medo - podeis entrar na cidade e divertir-se cada um como quiser.”Quando as pessoas entraram na cidade, ficaram felizes, bem dispostas e tranquilas, dizendo para si próprias que tinham sido salvas.Quando o líder percebeu que já tinham descansado, reuniu-os a todos e anunciou, “Agora deveis continuar o vosso esforço - isto não é mais que uma cidade fantasma.Eu vi que estavam todos cansados e desanimados e que queriam desistir a meio da viagem.Por isso usei o poder dos meios expeditos para conjurar esta cidade para a ocasião.Agora deveis prosseguir diligentemente de modo a que em conjunto possais chegar ao local do tesouro.”Eu também faço o mesmo, actuando como um pai para todos os seres.Eu vejo os que buscam o caminho ficarem desanimados a meio da viagem, incapazes de passar além da estrada íngreme do nascimento e da morte e dos desejos mundanos, então, uso o poder dos meios expeditos e prego o nirvana para lhes providenciar um local de descanso, dizendo, “O vosso sofrimento está extinto, vocês levaram a cabo tudo o que havia para fazer.”Quando sei que alcançaram o nirvana e chegaram todos ao estado de arhat, eu reuno então a grande assembleia e prego-lhes a verdadeira Lei.Os Buddhas, através dos meios expeditos, fazem distinções e pregam os três veículos, mas existe apenas o único veículo Búddhico - os outros dois nirvanas são pregados para permitir um descanso ao longo do caminho.Agora exporei a verdade para vós - aquilo que alcançásteis não é a extinção.Em prol da sabedoria Búddhica deveis empregar grande esforço e diligência.Se ganhardes a iluminação na Lei do Buddha com a sua sabedoria e os seus dez poderes sereis investidos dos trinta e dois sinais, isto então sim, será a verdadeira extinção.Os Buddhas na sua capacidade como lideres, pregam o nirvana para prover um repouso, mas quando sabem que já estais descansados, eles guiam-vos até à sabedoria Búddhica.
Capítulo Oito: A Profecia de Iluminação Para Quinhentos Discípulos
Nessa altura Purna Maitrayaniputra, ouvindo do Buddha esta Lei tal como foi exposta através da sabedoria e dos meios expeditos, e de acordo com o que era apropriado, e ouvindo também a profecia de que os discípulos maiores atingiriam anuttara-samyak-sambodhi, ouvindo os factores relativos às causas e condições de existências passadas, e ouvindo como o Buddha possuía grande liberdade e poderes transcendentais, obteve o que nunca antes possuíra e a sua mente foi purificada e sentiu-se dançar. Imediatamente ele levantou-se do seu lugar, avançou para uma posição em frente do Buddha, tocou com a cabeça no chão fazendo uma vénia aos pés do Buddha. Então deslocou-se para um lado, fitou reverentemente a face do Honrado Pelo Mundo, os seus olhos sem se desviarem sequer por um instante, e pensou para si próprio: “O Honrado Pelo Mundo é realmente extraordinário, muito especial e as suas acções são raras de presenciar! Adaptando-se às várias naturezas das pessoas deste mundo e empregando meios expeditos e perspicácia, ele prega-lhes a Lei, retirando os seres viventes da sua ganância e apegos vários. As bênçãos do Buddha são tais que não as podemos traduzir por palavras. Apenas o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, é capaz de conhecer os anseios que nós temos desde o início no mais fundo dos nossos corações.”
Nessa altura o Buddha disse para os monges: “Estão a ver Purna Maitrayaniputra? Eu sempre o louvei como sendo o primeiro entre os que pregam a Lei. E sempre elogiei as suas várias bênçãos, a sua diligência em proteger, promover, ajudar e proclamar a Lei, a sua habilidade para ensinar, beneficiar e deleitar os quatro tipos de crentes, o seu entendimento cabal da correcta Lei do Buddha, o alto grau a que ele eleva aqueles que levam a cabo as suas práticas brahma. Com a excepção do Honrado Pelo Mundo, não existe nenhum outro que possa exemplificar tão completamente a eloquência das suas teorias.
“Vós não deveis supor que Purna é capaz de proteger, promover, ajudar e proclamar apenas a minha Lei. Na presença de noventa milhões de Buddhas no passado ele protegeu, promoveu, ajudou e proclamou a correcta Lei Búddhica. Entre todos aqueles que nesse tempo pregaram a Lei, ele foi igualmente o primeiro.
“Além disso, no que respeita à Lei da vacuidade pregada pelos Buddhas ele teve um entendimento claro e cabal, ele ganhou os quatro tipos ilimitados de conhecimento e é capaz em qualquer altura de pregar a Lei de uma forma lúcida e pura, livre de dúvidas e perplexidade. Ele é completamente dotado dos poderes transcendentais de um bodhisattva. Através do curso da sua vida ele leva constantemente a cabo práticas Brahma, de modo a que as outras pessoas que vivam nessa era Búddhica pensem, “Aqui está um verdadeiro discípulo!”
“E Purna, empregando este meio expedito, beneficiou imensuráveis centenas de milhares de seres viventes e converteu imensuráveis asamkhyas de pessoas, fazendo-as voltar-se para anuttara-samyak-sambodhi. De modo a purificar as terras Búddhicas ele devota-se constantemente aos trabalhos Búddhicos, ensinando e convertendo seres viventes.
“Monges, Purna é o primeiro entre aqueles que pregam a Lei no tempo dos sete Buddhas, o primeiro dos quais é Vipasyin e o sétimo eu próprio. Ele é o primeiro entre os que pregam a Lei agora na minha presença. E ele será o primeiro entre aqueles que pregarão a Lei no tempo dos Buddhas futuros que aparecerão no presente Kalpa Sábio (Bhadra-kalpa), em todos os casos protegendo, promovendo, ajudando e proclamando a Lei do Buddha. Também no futuro ele protegerá, promoverá, ajudará e proclamará a Lei de imensuráveis, ilimitados Buddhas, ensinando, convertendo e enriquecendo imensuráveis seres viventes e levando-os a virar-se para anuttara-samyak-sambodhi. De modo a purificar as terras Búddhicas ele aplica-se constantemente, diligentemente, ensinando e convertendo seres viventes.
Pouco a pouco ele tornar-se-á totalmente dotado da via do Bodhisattva, e quando tiverem passado imensuráveis asamkhyas de kalpas, aqui na terra onde ele se encontra virá a alcançar anuttara-samyak-sambodhi. Ele será chamado Tathagata Brilho da Lei (Dharmaprabhâsa), merecedor de ofertas, do recto e universal conhecimento, perfeita clarividência e conduta, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo.
“Este Buddha terá como sua terra Búddhica mil miríades de milhões de mundos, iguais em número às areias do Ganges. O chão será feito com os sete tesouros e plano como a palma de uma mão, sem colinas ou cumes, ravinas ou barrancos. A terra será repleta de terraços e torres feitos com os sete tesouros, e os palácios celestiais estarão situados bem perto da terra, de modo que os seres celestiais e humanos possam comunicar entre si e estar à vista uns dos outros. Aí não existirão maus caminhos de existência, nem existirão mulheres. Todos os seres viventes nascerão de transformação e serão isentos de desejos libidinosos. Eles ganharão grandes poderes transcendentais, os seus corpos emitirão um brilho radioso e serão capazes de voar conforme queiram. Eles serão firmes de intenção e pensamento, diligentes e sábios e serão todos adornados com uma cor dourada e com os trinta e dois sinais. Todos os seres viventes nesse mundo tomarão regularmente dois tipos de alimento, um será o alimento da alegria do Dharma o outro será o alimento do deleite da meditação. Existirão imensuráveis asamkhyas, miríades de milhares de milhões de nayutas de bodhisattvas que ganharão grandes poderes transcendentais e os quatro tipos ilimitados de conhecimento, e serão hábeis e capazes a ensinar e converter os diferentes tipos de seres viventes. O número de ouvintes estará para além do poder de cálculo ou conjectura. Todos serão imbuídos dos seis poderes transcendentais, dos três conhecimentos e das três emancipações.
“Esta terra Búddhica possuirá imensuráveis bênçãos deste tipo que a adornarão e preencherão. O seu kalpa será chamado Brilho do Tesouro (Ratnâvabhâsa) e a sua terra será chamada Boa e Pura (Suvisuddha). A duração da sua vida será de imensuráveis asamkhyas de kalpas, a sua Lei perdurará por muito tempo e após a extinção desse Buddha, torres adornadas com os sete tesouros serão erigidas para ele ao longo de toda a terra.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Vós Monges, ouçam com atenção!O caminho seguido pelos filhos de Buddha, por eles serem bem instruídos nos meios expeditos, é maravilhoso para lá da concepção.Eles sabem como muitos seres se deleitam numa pequena Lei e são temerosos em relação à grande sabedoria.Daí que os bodhisattvas surjam como ouvintes ou pratyekabuddhas, empregando incontáveis meios expeditos para converter os diferentes tipos de seres viventes.Eles apresentam-se como ouvintes e dizem-se muito afastados do caminho do Buddhado e assim levam a emancipação a imensuráveis multidões, permitindo-lhes alcançar o sucesso. Limitadas em aspirações, preguiçosas e indolentes como são as multidões de seres, pouco a pouco elas são conduzidas à obtenção do Buddhado.Interiormente e em segredo, eles actuam como bodhisattvas, mas exteriormente mostram-se como ouvintes.Eles parecem atenuar os desejos a partir da aversão pelo nascimento e a morte, mas na verdade estão a purificar as terras Búddhicas.Perante a multidão, parecem possuídos pelos três venenos ou manifestam os sinais das teorias heréticas.Desta maneira, os meus discípulos usam meios expeditos para salvar os seres viventes. Se eu fosse a descrever todas as diferentes formas, as muitas manifestações que eles exibem para a conversão de outros, os seres viventes que me ouvissem ficariam perplexos e cheios de dúvidas.Purna, no passado, praticou diligentemente a via sob os auspícios de milhões de Buddhas, proclamando e guardando a Lei desses Buddhas.De modo a procurar a sabedoria inexcedível ele foi para onde estavam os Buddhas, tornando-se um líder entre os seus discípulos, de grande conhecimento e sabedoria.Não mostrava medo naquilo que expunha e sabia deleitar a assembleia.Nunca se deixou abater ou desanimar na assistência ao trabalho dos Buddhas.Já tinha superado os grandes poderes transcendentais e possuía os quatro tipos ilimitados de conhecimento.Ele sabia se as capacidades da multidão eram pobres ou apuradas e pregava a pura Lei constantemente.Ele expunha princípios como estes, ensinando multidões de milhares de milhões de seres, fazendo-os residir na Lei do Grande Veículo e ele próprio purificando as terras Búddhicas.Também no futuro ele oferecerá dádivas a imensuráveis, incontáveis Buddhas, protegendo, ajudando e proclamando a Lei, sem medo, salvando multidões para lá de qualquer cálculo, fazendo-os consumar a sabedoria.Ele oferecerá dádivas aos Tathagatas, guardando e sustentando o repositório do tesouro da Lei.
Mais tarde tornarse-á um Buddha conhecido pelo nome de Brilho da Lei.A sua terra será chamada Boa e Pura e será composta pelos sete tesouros.O seu kalpa será chamado Brilho do Tesouro.A multitude de bodhisattvas será muito numerosa, chegando a imensuráveis milhões, todos avançados em poderes transcendentais, dotados de dignidade, virtude e força, enchendo toda a terra.Os ouvintes serão inumeráveis, com as três compreensões e as oito emancipações, tendo alcançado os quatro tipos ilimitados de conhecimento - assim serão os monges da Ordem.Os seres viventes nessa terra serão todos isentos de desejos libidinosos.Eles nascerão de uma forma pura pelo processo de transformação, com todas as características adornando os seus corpos.Alimentando-se da alegria do Dharma e do deleite da meditação, eles não pensarão noutro alimento.Ai não existirão mulheres nem nenhum dos maus reinos de existência.O monge Purna ganhou inteiramente estas bênçãos e assim será a terra pura que obterá, com uma grande multidão de sábios e de seres meritórios.Dos incontáveis aspectos relacionados com ela eu falei agora apenas resumidamente.
Nessa altura os doze mil arhats, estando de mente livre, pensaram para si, Nós rejubilamos ao ganhar o que nunca antes obtivemos. Como seria se o Honrado Pelo Mundo nos conferisse uma profecia de iluminação igual à que conferiu aos outros discípulos maiores?
O Buddha, sabendo que este pensamento estava em suas mentes, disse a Mahakashyapa: a estes doze mil arhats agora aqui presentes eu irei um a um outorgar a profecia de que atingirão anuttara-samyak-sambhodi. Entre esta assembleia está um dos meus discípulos maiores, o monge Kaundinya. Ele oferecerá dádivas a sessenta e dois milhares de milhões de Buddhas, e após isso tornarse-á um Buddha. Ele será designado Brilho Universal (Samantaprabhâsa), merecedor de ofertas, de recto e universal conhecimento, perfeita clarividência e conduta, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Quinhentos arhats, incluindo Uruvilvakashyapa, Gayakashyapa, Nadikashyapa, Kalodayin, Anirudda, Revata, Kapphina, Bakkula, Chunda, Svagata, e outros, alcançarão anuttara-samyak-sambhodi. Todos terão a mesma designação, sendo chamados Brilho Universal.”
O Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das sua palavras, falou em verso, dizendo:
O monge Kaundinya verá inumeráveis Buddhas e após terem passado asamkhyas de kalpas irá por fim alcançar a correcta e imparcial iluminação.Ele emitirá constantemente uma grande e brilhante luz, será dotado de poderes transcendentais e o seu nome será conhecido nas dez direcções e respeitado por todos.Ele pregará constantemente a via insuperável; por isso será chamado Brilho Universal.O seu reino será puro e limpo, os seus bodhisattvas corajosos e enérgicos.Todos ascenderão às mais altas torres, viajarão pelas terras das dez direcções, de modo a oferecer artigos inigualáveis como dádivas aos vários Buddhas.Após terem oferecido estas dádivas as suas mentes encher-se-ão de alegria e rapidamente regressarão às suas terras de origem - tais serão os seus poderes sobrenaturais.A duração da vida deste Buddha será de dezasseis mil kalpas, a sua correcta Lei perdurará pelo dobro desse tempo, a sua Lei Adulterada também o dobro desse tempo, e quando a sua Lei se extinguir, os seres celestiais e humanos sofrerão.Os quinhentos monges, um após outro, virão a tornar-se Buddhas, todos com o mesmo nome, Brilho Universal.Cada um conferirá uma profecia ao seu sucessor, dizendo, “Após eu ter entrado em extinção, tu tornarte-ás um Buddha. O mundo em que levarás a cabo as conversões será igual ao meu.”O adorno e pureza das suas terras, os seus vários poderes transcendentais, os seus bodhisattvas e ouvintes, a sua Lei correcta e Adulterada, o número de kalpas de duração da sua vida - todos serão como eu acima descrevi.Kashyapa, agora conheceis o futuro destes quinhentos de mentes livres.A restante multidão de ouvintes será também como estes.Quanto aos que não se encontram aqui reunidos, deveis expor e pregar isto para eles.
Nessa altura os quinhentos arhats em presença do Buddha, tendo recebido a profecia de iluminação, sentiram-se dançar de alegria. Levantaram-se imediatamente dos seus lugares, avançaram para uma posição em frente ao Buddha, tocaram com a cabeça no chão e fizeram vénias aos pés do Buddha. Eles lamentaram-se do seu erro, reprovando a si próprios e dizendo, “Honrado Pelo Mundo, nós sempre pensamos que tínhamos alcançado a derradeira extinção. Mas agora sabemos que era-mos como pessoas destituídas de sabedoria. Porquê? Porque apesar de sermos capazes de alcançar a sabedoria do Tathagata, estava-mos dispostos a contentar-nos com uma sabedoria insignificante.
“Honrado Pelo mundo, é como o caso de um homem que foi até à casa de um amigo íntimo e, tendo-se embriagado com vinho, caiu num sono pesado. Nessa altura o amigo teve que se ausentar. Pegou numa jóia preciosa, coseu-a no forro da roupa do amigo adormecido, e depois foi-se embora. O homem dormia embriagado e não se apercebeu de nada. Quando acordou, iniciou uma viagem por outros países. Para conseguir obter alimento e vestuário teve de procurar diligentemente com toda a sua energia, enfrentando grandes dificuldades e tendo de se contentar com o pouco que encontrava.
“Mais tarde, o seu amigo encontrou-o por acaso. O amigo disse-lhe, “Que absurdo, companheiro! Porque tens de fazer tudo isto por comida e roupa? No passado eu quis garantir que serias capaz de viver com desafogo e satisfazer os cinco desejos, e naquele dia em que estivemos juntos cosi uma jóia preciosa no forro da tua roupa. Ainda deve lá estar. Mas tu nada sabias sobre isso e preocupaste-te a ganhar a vida. Que absurdo! Agora deves pegar na jóia e trocá-la por aquilo de que necessites. Assim podes ter sempre tudo o que quiseres sem nunca teres de passar necessidades.”
“O Buddha é como este amigo. Quando ele era ainda um bodhisattva, ensinou-nos e converteu-nos, inspirando em nós a determinação de buscar a sabedoria. Mas com o tempo esquecemos tudo isso e tornamo-nos inconscientes e ignorantes. Tendo alcançado a via do arhat, julga-mos ter ganho a extinção. Encontrando dificuldades em prover as nossas necessidades, tive-mos de nos arranjar com o que quer que conseguíssemos. No entanto, não perdemos ainda o desejo de alcançar a sabedoria. Agora, o Honrado Pelo Mundo desperta-nos e faz-nos conscientes, dizendo estas palavras: “Monges, o que vocês alcançaram não é a derradeira extinção. Por muito tempo eu vos levei a cultivarem as boas raízes do Buddhado, e como um meio expedito mostrei-vos os sinais exteriores do nirvana, mas vocês julgaram ter alcançado realmente o nirvana.”
“Honrado Pelo Mundo, agora nós entendemos. Na verdade nós somos bodhisattvas e recebemos uma profecia de que alcançaremos anuttara-samyak-sambodhi. Por esta razão estamos cheios de alegria, tendo ganho o que nunca antes possuíramos.”
Nessa altura Ajnata kaundinya e os outros, desejando expor uma vez mais o sentido das sua palavras, falaram em verso, dizendo:
Ouvimos o som desta profecia assegurando-nos bem estar e tranquilidade insuperáveis; rejubilamos ao ganhar o que nunca antes possuíramos e apresentamos obediência ao Buddha de sabedoria imensurável.Agora, na presença do Honrado Pelo Mundo nós arrependemo-nos dos nossos erros e faltas.Do tesouro imensurável do Buddha nós ganhamos apenas uma pequena parte do nirvana, e como pessoas ignorantes e néscias julgamos ser isso suficiente.Somos como o homem pobre que foi até à casa de um amigo íntimo.A casa era abastada e o amigo serviu muitos tabuleiros de iguarias.O amigo pegou numa jóia de incalculável valor e coseu-a no forro da roupa do pobre homem, deu-a sem uma palavra e foi-se embora, e o homem, estando adormecido, não se apercebeu de nada.Após o homem ter acordado, partiu em viagem por outros países, procurando comida e roupa, achando difícil ganhar o seu sustento.Ele arranjou-se conforme pode, sem ter esperança de algo melhor, inconsciente da jóia valiosa que transportava na roupa.Mais tarde, o amigo que lhe tinha dado a jóia, calhou de o encontrar, e depois de o repreender, mostrou-lhe a jóia escondida.Quando o pobre homem viu a jóia o seu coração encheu-se de alegria, pois era rico, possuidor de bens e de fortuna suficientes para satisfazer os cinco desejos.Nós somos como esse homem.Através da longa noite o Honrado Pelo Mundo constantemente se compadece de nós e nos ensina e converte, fazendo-nos plantar as raízes de uma aspiração insuperável.Mas devido à nossa falta de sabedoria, nós somos inconscientes disso.Tendo ganho uma pequena porção do nirvana, estamos satisfeitos e não procuramos mais nada.Mas agora o Buddha despertou-nos, dizendo “Isto não é a verdadeira extinção, quando tiverem ganho a insuperável sabedoria do Buddha, isso sim, sim será a verdadeira extinção!”Agora ouvimos do Buddha estas profecias e descrições de adornos, e de como cada um outorgará uma profecia ao seu sucessor, e em corpo e mente estamos cheios de alegria.
Capítulo Nove: Profecias Conferidas aos Aprendizes e Adeptos
Nessa altura, Ananda e Rahula pensaram para si mesmos: "Quando pensamos nisso, reconhecemos o quão maravilhoso seria se recebesse-mos uma profecia de iluminação!" Levantaram-se de imediato dos seus lugares, avançaram para um lugar defronte do Buddha, tocaram com as cabeças no chão prostrando-se aos pés do Buddha. Em conjunto falaram ao Buddha, dizendo:
"Honrado Pelo Mundo, também nós devemos tomar parte nisto! Nós entregamos toda a nossa confiança ao Tathagata, e somos bem conhecidos dos seres celestiais e humanos e dos asuras deste mundo. Ananda atende constantemente o Buddha e guarda e apoia o repositório do Dharma, e Rahula é o filho do Buddha. Se o Buddha nos outorgasse uma profecia de que alcançaríamos anuttara-samyak-sambodhi, tanto os nossos desejos como os anseios da multidão seriam satisfeitos."
Nessa ocasião os duzentos discípulos ouvintes, aprendizes ou adeptos sem nada mais a aprender, levantaram-se todos dos seus lugares e, descobrindo o ombro direito avançaram para uma posição defronte do Buddha, juntaram as palmas das mãos e, fitando em reverência o Honrado Pelo Mundo, repetiram o desejo expresso por Ananda e Rahula após o que se afastaram para um lado.
Então o Buddha disse a Ananda: "Numa futura existência tu tornar-te-ás um Buddha com o nome de Tathagata Rei do Poder Absoluto da Montanha do Mar de Sabedoria (Sâgaravaradharabuddhivikrîditâbhigña), merecedor de ofertas, do recto e universal conhecimento, perfeita clarividência e conduta, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Tu oferecerás dádivas a sessenta e dois milhões de Buddhas e preservarás e guardarás os seus repositórios do Dharma, após o que alcançarás anuttara-samyak-sambodhi. Ensinarás e converterás bodhisattvas numerosos como as areias de vinte centenas de dezenas de milhares de milhões de rios Ganges e farás com que alcancem anuttara-samyak-sambodhi. A tua terra será chamada Eterna Bandeira da Vitória (Anavanâmita-vaig-ayanta), o seu solo será limpo e puro e feito de lápiz-lazuli. O teu kalpa terá o nome de Maravilhoso Som Omnipresente (Manogñasabdâbhigargita). A duração da vida desse Buddha será de imensuráveis milhares, dezenas de milhares de milhões de asamkhyas de kalpas - ainda que os homens calculassem durante milhares, dezenas de milhares, milhões de imensuráveis asamkhyas de kalpas, eles não poderiam nunca determinar a duração da vida desse Buddha e a sua Lei Adulterada perdurará no mundo pelo dobro do tempo da sua Correcta Lei. Ananda, este Buddha Rei do Poder Absoluto da Montanha do Mar de Sabedoria, será louvado igualmente pelos Tathagatas das dez direcções que são iguais em número às areias de imensuráveis milhares, dezenas de milhares de milhões de rios Ganges, e eles louvarão as suas bênçãos."
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Digo agora aos monges que
Ananda, suporte da lei,
oferecerá esmolas aos Buddhas
após o que atingirá a correcta iluminação.
O seu nome será Buddha Rei do Poder Absoluto
da Montanha do Mar de Sabedoria.
A sua terra será limpa e pura, chamada Bandeira Eterna da Vitória.
Ele ensinará e converterá bodhisattvas numerosos como as areias do Ganges.
Este Buddha possuirá grande dignidade e virtude, e o seu renome encherá as dez direcções.
A duração da sua vida será imensurável devido à sua compaixão por todos os seres viventes.
A sua Correcta Lei durará o dobro e o dobro disto durará a sua Lei Adulterada.
Numerosos como as areias do Ganges serão os incontáveis seres viventes que no seio da Lei Búddhica plantarão as condições conducentes à via do Buddhado.
Nessa altura na assembleia, oitocentos Bodhisattvas que tinham recentemente concebido a determinação de atingir a iluminação pensaram , Nós nunca ouvimos sequer um grande bodhisattva receber uma profecia como esta. Porque razão hão-de estes ouvintes receber uma tal profecia?
Então o Honrado Pelo Mundo, sabendo o pensamento que ia na mente desses bodhisattvas, disse-lhes: "Bons homens, quando Ananda e eu estávamos no lugar do Buddha Rei da Vacuidade, ambos concebemos simultaneamente a determinação de alcançar anuttara-samyak-sambodhi. Ananda deleitava-se constantemente no conhecimento vasto da Lei, eu desenvolvi constantemente esforço diligente. Daí que eu tenha já conseguido alcançar anuttara-samyak-sambodhi, enquanto Ananda guarda e sustenta a minha Lei. E, da mesma forma, ele guardará sempre os repositórios do Dharma dos Buddhas de existências futuras e ensinará, converterá e trará ao sucesso às multidões de bodhisattvas. Esse foi o seu voto original e daí que ele tenha recebido esta profecia."
Quando Ananda, na presença do Buddha, ouviu esta profecia a si dirigida e ouviu acerca da terra e dos adornos que haveria de receber, tudo o que se votara alcançar estava realizado e a sua mente estava cheia de grande alegria, pois ele tinha ganho o que nunca antes possuíra. Imediatamente ele recordou os repositórios do Dharma de imensuráveis milhares, dezenas de milhares, milhões de Buddhas do passado e ele pôde compreendê-los sem impedimento, como se tivesse acabado de os ouvir. Ele recordou também o seu voto original.
Então, Ananda falou em verso, dizendo:
O Honrado Pelo Mundo, raro de encontrar, fez-me recordar o passado, a Lei de imensuráveis Buddhas, tal como se a ouvisse hoje.
Agora não tenho mais dúvidas mas resido seguramente na via do Buddhado.
Como um meio expedito eu actuo como assistente, guardando e suportando a Lei dos Buddhas.
Nessa altura o Buddha disse para Rahula: "Numa futura existência tu tornar-te-ás um Buddha com o nome de Tathagata Caminhando Sobre Flores de Sete Tesouros (Saptaratnapadmavikrântagâmin), merecedor de ofertas, do recto e universal conhecimento, perfeita clarividência e conduta, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Tu oferecerás dádivas a Buddhas e Tathagatas numerosos como a poeira das partículas de dez mundos. Em todos os casos tu serás o primogénito desses Buddhas, tal como és agora o meu filho. Os adornos da terra desse Buddha Caminhando Sobre Flores de Sete Tesouros, o número de kalpas de duração da sua vida, os discípulos que ele converterá, a sua Lei Correcta e Adulterada não diferirão dos do Tathagata Rei do Poder Absoluto da Montanha do Mar de Sabedoria. Serás o filho mais velho desse Buddha, após o que alcançarás anuttara-samyak-sambodhi."

Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Quando eu era o príncipe herdeiro, Rahula era o meu filho mais velho.
Agora que atingi o Buddhado ele recebe o Dharma e é o meu filho no Dharma.
Em existências futuras ele verá imensuráveis milhões de Buddhas.
Como filho mais velho de todos eles, com uma só mente ele procurará a via do Buddhado.
As acções de Rahula só eu sou capaz de conhecer.
Ele manifesta-se como meu primogénito, mostrando-se aos seres viventes.
Com inumeráveis milhões, milhares, dezenas de milhares de incontáveis bênçãos, ele está seguramente ancorado na Lei Búddhica e procurando a via insuperável.
Então o Honrado Pelo Mundo, observou os duzentos aprendizes e adeptos, suaves e brandos de vontade, serenamente puros e limpos, fitando o Buddha com uma mente concentrada. O Buddha disse a Ananda, "Vês estes duzentos aprendizes e adeptos?"
"Sim, vejo-os."
"Ananda, estas pessoas oferecerão dádivas a Buddhas e Tathagatas iguais em número às partículas de poeira de cinquenta mundos, prestando-lhes honras e reverência, guardando e sustentando os seus repositórios do Dharma. Nas suas existências finais eles conseguirão simultaneamente tornar-se Buddhas em terras das dez direcções. Todos terão designação idêntica, sendo chamados Tathagatas Sinal de Jóias (Ratnaketurâgas), merecedores de ofertas, de recto e universal conhecimento, perfeita clarividência e conduta, bem sucedidos, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritórios, instrutores de pessoas, mestres de seres celestiais e humanos, Buddhas, Honrados Pelo Mundo. A duração das suas vidas será de um kalpa, e o adorno das suas terras, os seus ouvintes e bodhisattvas, Leis Correcta e Adulterada serão em todos os casos iguais."
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Aos duzentos ouvintes que agora estão na minha presença - a todos eles eu outorgo a profecia de que numa existência futura eles se tornarão Buddhas.
Os Buddhas a quem eles oferecerão esmolas serão numerosos como as partículas de pó acima descritas.
Eles guardarão e suportarão os repositórios do Dharma após o que ganharão a correcta iluminação.
Cada um terá uma terra numa das dez direcções e todos partilharão do mesmo nome e designação.
Todos serão chamados Sinal de Jóias e as suas terras e discípulos, as suas Leis Correcta e Adulterada serão idênticas e sem qualquer diferença.
Todos empregarão poderes transcendentais para salvar os seres viventes nas dez direcções.
O seu renome correrá por toda a parte e a seu tempo entrarão no nirvana.
Nessa altura, quando os duzentos aprendizes e adeptos ouviram o Buddha outorgar-lhes esta profecia, dançaram de alegria e falaram em verso, dizendo:
Honrado Pelo Mundo, lâmpada brilhante da sabedoria, ouvimos a tua voz outorgando esta profecia e os nossos corações estão cheios de alegria como se nos banhasse-mos em doce orvalho!
Capítulo Dez: O Mestre da Lei
Nessa altura o Honrado Pelo mundo dirigiu-se ao Bodhisattva Rei da Medicina (Bhaishagyarâga) e, através dele, aos oitocentos grandes homens, dizendo: “Rei da Medicina, vês esta grande assembleia de imensuráveis números de seres celestiais, reis dragões, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos, bem como monges, monjas, leigos e leigas, esses que procuram tornar-se ouvintes, os que procuram tornar-se pratyekabuddhas ou os que procuram a via do Buddhado? Sobre estes vários tipos de seres que na presença do Buddha ouvem um verso ou uma frase do Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa e por um momento pensam nele com alegria eu outorgarei a todos eles uma profecia de que alcançarão anuttara-samyak-sambodhi.
O Buddha disse a Rei da Medicina: “Além disso, se após o Tathagata ter entrado em extinção existir alguém que ouça o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, ainda que uma frase ou um verso, e por um momento pense nele com alegria, eu outorgo-lhe igualmente uma profecia de que alcançará anuttara-samyak-sambodhi. Ainda, se existirem pessoas que abracem, leiam, recitem, exponham e copiem o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, ainda que apenas um verso, e encarem este sutra com a mesma reverência com que encarariam o Buddha, apresentando-lhe várias ofertas de flores, colares, incenso em pó, em pasta ou para queimar, palanquins de seda, estandartes e bandeiras, vestes e música, juntando as mãos reverentemente de palmas unidas, então, Rei da Medicina, deves compreender que essas pessoas já ofereceram dádivas a cem mil milhões de Buddhas e no lugar dos Buddhas cumpriram o seu grande voto, e porque se compadecem dos seres viventes essas pessoas nascem neste mundo humano.
“Rei da Medicina, se alguém perguntar que seres viventes serão capazes de atingir o Buddhado numa existência futura, deves então indicar-lhes todos esses que, no futuro, atingirão certamente o Buddhado. Porquê? Porque se bons homens e boas mulheres abraçarem, lerem, recitarem, expuserem e copiarem o Sutra do Lótus, ainda que uma frase dele, ofereceram vários tipos de dádivas ao sutra, flores, colares, incenso em pó, em pasta ou para queimar, palanquins de seda, estandartes e bandeiras, vestes e música, juntando as mãos reverentemente de palmas unidas, então essas pessoas serão olhadas com admiração e honradas por todo o mundo. Esmolas ser-lhes-ão oferecidas como seriam ao Tathagata. Deves entender que essas pessoas são grandes bodhisattvas que conseguiram alcançar anuttara-samyak-sambodhi. Compadecendo-se dos seres viventes, fizeram votos de nascer entre eles onde pudessem expor largamente e fazer distinções em relação ao Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa. Quanto mais não será isto verdade, então, quanto àqueles que abraçaram o sutra na íntegra e lhe ofereceram vários tipos de dádivas!
“Rei da Medicina, deves entender que essas pessoas renunciaram voluntariamente às recompensas devidas pelos seus puros actos e, num tempo posterior à minha extinção, por se compadecerem dos seres viventes, nascerão neste mundo maligno para que possam expor largamente este sutra. Se um desses bons homens e boas mulheres, num tempo posterior à minha extinção, for capaz de secretamente expor o Sutra do Lótus a uma pessoa, mesmo que apenas uma frase dele, então deves saber que ele é o enviado do Tathagata. Ele foi enviado pelo Tathagata e leva a cabo o trabalho do Tathagata. Quanto mais assim não será no caso daqueles que no meio da grande assembleia expuserem largamente este sutra para outros!
“Rei da Medicina, se existisse uma pessoa má que, com a mente desprovida de bondade, aparecesse durante um kalpa na presença do Buddha e constantemente o amaldiçoasse e insultasse, a ofensa dessa pessoa seria ainda bastante ligeira, se comparada com a de alguém que proferisse ainda que apenas uma palavra má para amaldiçoar ou difamar os leigos, leigas, monges ou monjas que leiam e recitem este sutra. Esta sim, seria uma ofensa muito grave.
“Rei da Medicina, quanto a estas pessoas que lêem e recitam o Sutra do Lótus, deves entender que elas se adornam com os adornos dos Buddhas e nascem sobre os ombros do Tathagata. Aonde quer que elas vão, devem ser acolhidas com vénias, com as palmas das mãos unidas, a uma só mente, com dádivas e reverência, com respeito e louvor, flores, colares, incenso em pó, em pasta ou para queimar, palanquins de seda, estandartes e bandeiras, vestes, iguarias e música. As melhores dádivas que podem ser oferecidas a alguém devem ser-lhes oferecidas. Tesouros celestiais devem ser espalhados sobre eles, oferecidos como prendas. Porque digo isto? Porque estas pessoas deleitam-se a expor a Lei. E se alguém os ouve ainda que por um momento, atingirá imediatamente o derradeiro anuttara-samyak-sambodhi.
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se pretendes seguir a via do Budhado e ser bem sucedido na obtenção da sabedoria que vem por si mesma, deves ser constantemente diligente a oferecer esmolas àqueles que abraçaram o Sutra do Lótus.Se tens o desejo de obter rapidamente a sabedoria respeitante a todos os tipos de coisas, deves abraçar este sutra e ao mesmo tempo oferecer esmolas àqueles que o fazem.Se alguém for capaz de abraçar o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, saiba-se que tal pessoa é um enviado do Buddha que pensa com piedade em todos os seres viventes.Aqueles que são capazes de abraçar o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa renunciam ao seu direito à terra pura e por compaixão para com os seres viventes nascem aqui.Saibam que pessoas como estas escolhem livremente onde hão-de nascer, e escolhem nascer neste mundo malévolo de modo a que possam expor largamente a Lei insuperável.Vós deveis oferecer flores celestiais e incenso, vestes decoradas com tesouros celestiais e as maravilhosas provisões de tesouros do paraíso como dádivas àqueles que pregam a Lei.No mundo malévolo, a seguir à minha extinção, se houver quem abrace este sutra, deveis juntar as palmas das mãos em reverência e oferecer-lhes esmolas como ofereceríeis ao Honrado Pelo Mundo.As iguarias mais escolhidas, tudo o que é refinado e saboroso, junto com vestes de vários tipos, deveis oferecer como esmolas a estes filhos de Buddha na esperança de poderem escutar um momento da sua pregação.Se existirem aqueles que, em eras futuras, aceitem e abracem este sutra, eles serão meus enviados até junto das pessoas para levarem a cabo o trabalho do Tathagata.Se pelo espaço de um kalpa alguém mantiver uma mente desprovida de bondade e com olhares furiosos insultar o Buddha, estará cometendo uma ofensa de imensurável gravidade.Mas se àqueles que lêem, recitam e abraçam este Sutra do Lótus alguém por um momento que seja dirigir más palavras, a sua ofensa será ainda maior.Se existir alguém que procure a via do Buddhado e durante um kalpa, unir as palmas das mãos na minha presença e recitar inúmeros versos de louvor, devido a estes louvores ao Buddha ele ganhará imensuráveis bênçãos.Se alguém louvar e elogiar aqueles que sustentam este sutra, a sua boa fortuna será ainda maior.Pelo espaço de oitenta milhões de kalpas, com os mais maravilhosos sons e formas, com o que é agradável ao olfacto, paladar e tacto, ofereçam dádivas aos promotores deste sutra!Se oferecerdes dádivas deste modo e ouvirem os ensinamentos ainda que por um momento, então experimentareis alegria e boa fortuna, dizendo, “Ganhei grande benefício!”Rei da Medicina, agora eu te direi, Preguei vários sutras, e entre esses sutras o Lótus é o principal!
Nessa altura o Buddha falou uma vez mais ao bodhisattva Rei da Medicina, dizendo: “Os sutras que eu preguei são em número de imensuráveis milhares, dezenas de milhares de milhões, entre os sutras que eu preguei, que possa pregar agora ou venha a pregar no futuro, este Sutra do Lótus é o mais difícil de acreditar e o mais difícil de compreender. Rei da Medicina, este sutra é o repositório da crux secreta dos Buddhas, não deve ser distribuído e transmitido descuidadamente para outros. Foi guardado pelos Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, e desde os tempos passados até agora nunca foi abertamente exposto, e uma vez que o ódio e a inveja em relação a este sutra abundam mesmo quando o Tathagata está no mundo, quanto mais não será isto verdade após a sua extinção?
“Rei da Medicina, deves saber que após a extinção do Tathagata, se existir alguém que copie, suporte, leia e recite este sutra, lhe ofereça esmolas e o exponha para outros, o Tathagata cobri-lo-á com o seu manto, e ele será protegido e mantido em mente pelos Buddhas que agora estão presentes em outras regiões. Tal pessoa possui o poder da grande fé, o poder da aspiração, o poder das boas raízes, deves saber que essa pessoa se aloja no mesmo local que o Tathagata e que o Tathagata lhe afaga a cabeça com a sua mão.
“Rei da Medicina, em qualquer lugar em que este sutra seja pregado, lido, recitado, copiado ou onde um dos seus rolos exista, em todos esses lugares deveriam ser erigidas torres feitas com os sete tesouros e deveriam ser muito altas e bem adornadas. Não há necessidade de guardar aí as relíquias do Buddha. Porquê? Porque nessas torres a totalidade do corpo do Tathagata já está presente. Todos os tipos de flores, incenso, colares, palanquins de seda, estandartes e bandeiras, músicas e hinos deveriam ser oferecidos como dádivas a essas torres. E deveria ser-lhes dispensados louvores, reverências e honras. Se quando as pessoas vissem essas torres se curvassem em obediência e oferecessem esmolas, deverias então saber que essas pessoas tinham todas chegado próximo de anuttara-samyak-sambodhi.
“Rei da Medicina, supõe que existe um homem que está sequioso, procurando água. Num terreno elevado ele começa a escavar um buraco em busca de água mas vê que o solo está seco e sabe que a água ainda está longe. Porém, ele não cessa os seus esforços, e pouco a pouco nota que solo se torna mais húmido, até que gradualmente ele chega a uma parte de lama. Agora ele está determinado a prosseguir, porque sabe que tem de estar próximo de água.
“A via do bodhisattva é igual. Enquanto uma pessoa não ouviu, não entendeu e não praticou este Sutra do Lótus, deveis saber que ela se encontra ainda afastada de anuttara-samyak-sambhodi. Porquê? Porque todos os bodhisattvas que alcançam anuttara-samyak-sambhodi fazem-no, em todos os casos, mediante este sutra. Este sutra abre o portal dos meios expeditos e mostra a forma da verdadeira realidade. Este repositório do Sutra do Lótus está profundamente oculto e distante, onde ninguém o pode alcançar. Mas o Buddha, ensinando, convertendo e guiando os bodhisattvas até ao sucesso, abre-o para eles.
“Rei da Medicina, se existirem bodhisattvas que, ouvindo este Sutra do Lótus, respondam com surpresa, dúvida ou medo, então deves saber que se trata de bodhisattvas recentemente chegados ao caminho. E se existirem ouvintes que, ouvindo este sutra, respondam com surpresa, dúvida ou medo, então deves saber que se trata de pessoas de extrema arrogância.
“Rei da Medicina, se existirem bons homens e boas mulheres que, após a extinção do Tathagata, desejem expor este Sutra do Lótus aos quatro tipos de crentes, como devem eles expô-lo? Estes bons homens e boas mulheres devem entrar no quarto do Tathagata, vestir a roupa do Tathagata, ocupar o assento do Tathagata e pelo bem dos quatro tipos de crentes, expor largamente este sutra.
“O “quarto do Tathagata” é o estado mental que demonstra grande piedade e compaixão por todos os seres viventes. A “roupa do Tathagata” é a mente que é gentil e tolerante. O “assento do Tathagata” é a vacuidade de todos os fenómenos. Devemos sentar-nos aí confortávelmente e depois, com uma mente nunca indolente ou negligente, devemos, pelo bem dos bodhisattvas e dos quatro tipos de crentes expor largamente este Sutra do Lótus.
“Rei da Medicina, eu enviarei pessoas criadas por magia até outras terras para reunir assembleias para ouvir a Lei, e enviarei também monges, monjas, leigos e leigas criados por magia para ouvirem a pregação da Lei, acreditá-la e aceitá-la e nela se fixarem sem desvio. Se os pregadores da Lei estiverem num local vazio e silencioso, eu enviarei grande número de seres celestiais, dragões, espíritos, gandharvas, asuras e outros para ouvirem a sua pregação da Lei. Ainda que eu esteja noutra terra, de tempos a tempos eu tornarei possível aos pregadores da Lei verem o meu corpo. Se eles esquecerem uma frase deste sutra, eu aparecerei e apresentá-la-ei de modo a que sejam capazes de recitar o texto correctamente e na íntegra.
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se desejais pôr de parte toda a indolência e negligência, deveis ouvir este sutra.É difícil encontrar uma oportunidade de ouvir este sutra, e acreditar nele e aceitá-lo também é difícil.Se uma pessoa está sequiosa e quer água ela pode escavar um buraco no solo, mas enquanto vê a terra seca, ela sabe que a água ainda está longe.Mas se pouco a pouco ela vê a terra ficar húmida e lamacenta sabe com certeza que está próxima da água.Rei da Medicina, deves compreender que essas pessoas são como esta - se elas não ouvem o Sutra do Lótus, ficarão muito afastadas da sabedoria Búddhica, mas se elas ouvirem este sutra profundo que define a Lei do ouvinte, se elas ouvirem este rei dos sutras e depois o ponderarem cuidadosamente, então deveis saber que essas pessoas estão perto da sabedoria do Buddha.Se uma pessoa expõe este sutra, deve entrar no quarto do Tathagata, vestir a roupa do Tathagata, ocupar o assento do Tathagata, encarar a assembleia sem medo e expô-lo largamente, fazendo distinções.Grande piedade e compaixão são o quarto.Gentileza e paciência são a roupa.A vacuidade de todos os fenómenos é o assento, e aí posicionada é que deve expor a Lei para eles.Se quando uma pessoa expõe este sutra existir alguém que a insulte ou calunie ou a ataque com espadas e paus, cacos e pedras, ela deve pensar no Buddha e por essa razão ser paciente.Em milhares, dezenas de milhares, milhões de terras eu manifestarei o meu corpo puro e duradouro e durante imensuráveis milhões de kalpas eu exporei a Lei para os seres viventes.Se após a minha extinção existir alguém capaz de expor este sutra, eu enviarei os quatro tipos de crentes, formados magicamente, monges e monjas e homens e mulheres de pura fé, para oferecerem esmolas e fazerem ouvir a Lei; eles liderarão e guiarão os seres viventes, reunindo-os e fazendo-os ouvir a Lei.Se alguém pensar em fazer mal aos pregadores com espadas e paus ou cacos e pedras, eu enviarei pessoas criadas por magia que as irão guardar e proteger.Se aqueles que expõe a Lei estiverem sozinhos num local vazio e silencioso, e se nessa quietude onde não soa a voz humana eles lerem e recitarem este sutra, nessa altura eu manifestarei o meu corpo puro e radiante para eles.Se eles se esquecerem de uma passagem ou frase eu fornecê-la-ei de modo a que sejam cabais e eficazes.Se pessoas dotadas destas virtudes expuserem aos quatro tipos de crentes e lerem e recitarem este sutra num local vazio, eu permitirei que vejam o meu corpo.E se os pregadores estiverem num local vazio e silencioso eu enviarei seres celestiais, reis dragões, yakshas, espíritos e outros para formarem uma assembleia e escutarem a Lei.Pessoas como estas deleitam-se na exposição da Lei, fazendo distinções sem encontrarem qualquer impedimento.Porque o Buddha os guarda e mantém em mente, eles serão capazes de trazer alegria à grande assembleia.Se alguém se mantiver próximo dos pregadores da Lei rapidamente ganhará a via do bodhisattva.Seguindo estes mestres e aprendendo com eles ele verá Buddhas numerosos como as areias do Ganges.
Capítulo Onze: O Aparecimento da Torre do Tesouro
Nessa altura, estava na presença do Buddha uma torre adornada com os sete tesouros, com quinhentas yojanas de altura e cinquenta yojanas de lado, que se erguera da terra e ficara suspensa no ar. Vários tipos de objectos preciosos a adornavam. Tinha cinco mil grades, mil, dez mil divisões e estava decorada com inúmeros estandartes e bandeiras. Grinaldas de jóias pendiam e dez mil milhões de sinos de jóias estavam suspensos delas. Todos os seus quatro lados emitiam uma fragrância de tamalapatra e sândalo que perfumava todo o mundo. Os seus estandartes e pálios eram feitos dos sete tesouros, nomeadamente, ouro, prata, lápiz-lázuli, madrepérola, ágata, pérola e coral, e eram tão altos que chegavam às regiões celestiais dos Quatro Reis Celestiais. Os deuses do paraíso Trayatrimsha fizeram chover flores celestiais de mandarava como oferta à torre do tesouro e os outros seres celestiais e os dragões, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos, numa assembleia de milhares, dezenas de milhar, milhões, ofereceram todos os tipos de flores, incenso, colares, estandartes, palanquins e música como dádivas à torre do tesouro, prestando-lhe reverência, honra e louvor.
Nessa ocasião, o som de uma potente voz saiu da torre do tesouro, dizendo palavras de louvor: “Excelente, excelente, Shakyamuni, Honrado Pelo Mundo, que possuas uma grande e equânime sabedoria, uma Lei para instruir os bodhisattvas, guardada e mantida em mente pelos Buddhas, o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, e o pregues para o bem da grande assembleia! É tal como dizes, tal como dizes. Shakyamuni, Honrado Pelo Mundo, tudo o que expuseste é a verdade!”
Nessa altura os quatro tipos de crentes viram a grande torre suspensa no ar, e ouviram a voz que saia da torre. Todos experimentaram a alegria da Lei, maravilhando-se perante estes fenómenos que nunca antes tinham presenciado. Levantaram-se dos seus lugares, juntaram as palmas das mãos em reverência e retiraram-se para um lado.
Nessa altura, havia um bodhisattva chamado Grande Alegria da Pregação(Mahâpratibhâna) que entendia as dúvidas que iam nas mentes dos seres celestiais e humanos, asuras e outros seres do mundo. Ele disse a Buddha: “Honrado Pelo Mundo, por que razão surgiu da terra esta torre do tesouro? E porque é que esta voz se ouve do seu interior?”
Nessa altura o Buddha disse: ”Bodhisattva Grande Alegria da Pregação, na torre do tesouro está o corpo completo de um Tathagata. Há muito tempo atrás, para lá de imensuráveis milhares de dezenas de milhares de milhões de asamkhyas de mundos para o Leste, numa terra chamada Pureza do Tesouro(Ratnavisuddha), existia um Buddha chamado Muitos Tesouros(Prabhûtaratna). Quando esse Buddha estava originalmente a levar a cabo a via do bodhisattva, ele fez um grande voto, dizendo, “Se após eu ter entrado em extinção, nas terras das dez direcções existir um lugar onde o Sutra do Lótus seja pregado, então a minha torre funerária, por forma a que eu possa ouvir o sutra, aparecerá nesse local para prestar testemunho do Sutra e louvar a sua excelência.”
“Quando esse Buddha completou a via do Buddhado e estava prestes a entrar em extinção, no meio da grande comunidade de seres celestiais e humanos ele disse aos monges, “Após eu ter entrado em extinção, se alguém quiser oferecer esmolas ao meu corpo completo, deve erigir uma grande torre.” Esse Buddha, através dos seus poderes transcendentais e do poder do seu voto, assegura que, nos mundos através das dez direcções, não importa em que lugar, se existir alguém que pregue o Sutra do Lótus, esta torre do tesouro aparecerá na sua presença e o seu corpo completo estará nessa torre, falando palavras de louvor e dizendo, Excelente, excelente!”
“Grande Alegria da Pregação, agora esta torre do Tathagata Muitos Tesouros, porque ele ouviu a pregação do Sutra do Lótus, apareceu do chão e fala palavras de louvor, dizendo, Excelente, excelente!”
Nesta altura, o Bodhisattva Grande Alegria da Pregação, conhecendo os poderes transcendentais do Tathagata, falou ao Buddha, dizendo: “Honrado Pelo Mundo, nós desejamos ver o corpo desse Buddha.”
O Buddha disse ao bodhisattva e mahasattva Grande Alegria da Pregação, “Este Buddha Muitos Tesouros tomou um profundo voto, dizendo, “Quando a minha torre, de modo a que eu ouça o Sutra do Lótus, aparecer na presença de um dos Buddhas, se existir alguém que deseje mostrar o meu corpo aos quatro tipos de crentes, então que os vários Buddhas que são emanações desse Buddha e que estão a pregar a Lei em mundos pelas dez direcções retornem todos e se reunam em torno desse Buddha num único local. Apenas quando isso estiver feito é que o meu corpo se tornará visível.” Grande Alegria da Pregação, eu reunirei agora os vários Buddhas que são emanações do meu corpo e que estão a pregar a Lei nas terras das dez direcções.”
Grande Alegria da Pregação disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, nós desejamos também ver esses Buddha que são emanações do Honrado Pelo Mundo, e de lhes prestar obediência e oferecer esmolas.”
Nessa altura o Buddha emitiu um raio de luz do tufo de pêlo brando [entre as suas sobrancelhas] tornando imediatamente visíveis os Buddhas da região Leste em terras numerosas como quinhentas dezenas de milhares de milhões de nayutas de grãos de areia do Ganges. Nessas terras o solo era feito de cristal e estavam adornadas com árvores e mantos de jóias. Estava repleta de incontáveis milhares, dezenas de milhar, milhões de bodhisattvas e em toda a parte estavam penduradas cortinas de jóias, com redes de jóias cobrindo-as. Os Buddhas nessas terras pregavam as várias doutrinas da Lei com vozes potentes e maravilhosas e podiam ver-se imensuráveis milhares, dezenas de milhar, milhões de bodhisattvas enchendo essas terras e pregando a Lei para a assembleia. Igualmente nas regiões Sul, Oeste e Norte e nas quatro regiões intermédias e encima e embaixo, onde quer que o raio de luz do tufo de pelo branco, um sinal característico dos Buddhas, iluminasse, o mesmo era visível.
Nessa altura os Buddhas das dez direcções falaram cada um à multidão de bodhisattvas, dizendo, “Bons homens, agora devo ir ao mundo Saha, ao lugar onde o Buddha Shakyamuni está, e também oferecer esmolas à torre do tesouro do Tathagata Muitos Tesouros.”
O mundo Saha tornou-se imediatamente num lugar limpo e puro. O chão era de lápiz-lázuli, estava adornado com árvores de jóias e cordões de ouro marcavam os oito caminhos. Não existiam aldeias, vilas ou cidades, grandes mares ou rios, montanhas, cursos de água ou florestas; grandes jóias de incenso ardiam e flores de mandarava cobriam o chão por toda a parte. Redes e cortinas de jóias estavam penduradas com sinos de jóias, e só os membros da assembleia ai estavam reunidos, tendo todos os outros seres celestiais e humanos sido removidos para outra região.
Nessa altura os Buddhas, cada um com um grande bodhisattva como seu assistente, chegaram ao mundo Saha e prosseguiram para uma posição por baixo de uma das árvores de jóias. Cada uma dessas árvores de jóias media quinhentas yojanas de altura e estava adornada com ramos, folhas, flores e frutos de proporções adequadas. Sob todas as árvores de jóias estavam tronos de leão com cinco yojanas de altura, e também estes estavam decorados com grandes jóias. Então, cada um dos Buddhas tomou um desses lugares, sentando-se com as pernas cruzadas. Desta forma os assentos foram ocupados através do mundo, mas ainda assim não tinham fim as emanações do Buddha Shakyamuni que chegavam de uma só direcção.
Nessa altura o Buddha Shakyamuni, desejando providenciar espaço para todos os Buddhas que eram emanações do seu corpo, transformou ainda duzentas dezenas de milhares de milhões de nayutas de terras em cada uma das oito direcções, tornando-as limpas e puras e sem infernos, espíritos esfomeados, bestas ou asuras. Também deslocou todos os seus seres celestiais e humanos para outra região. O chão nessas terras por ele transformadas era de lápiz-lázuli, estava adornado com árvores de jóias, medindo cada uma dessas árvores quinhentas yojanas de altura, adornadas com ramos, folhas, flores e frutos de proporções adequadas. Existiam tronos de leão sob todas essas árvores de jóias, com cinco yojanas de altura, decorados com vários tipos de tesouros. Também estas terras eram sem grandes rios ou montanhas, ou quaisquer cordilheiras reais, tais como os Montes Muchilinda, os Montes Mahamuchilinda, os Montes Grande Círculo de Ferro ou o Monte Sumeru. A área total correspondia a uma única terra Búddhica, toda a região era nivelada e suave. Cortinas cruzadas por galões de jóias estavam espalhadas por toda a parte, estandartes e palanquins pendiam, grandes jóias de incenso ardiam e flores celestiais de jóias cobriam o chão por toda a parte.
Nessa altura, as emanações do Buddha Shakyamuni da direcção Leste, Buddhas de terras iguais em número a centenas, milhares, dezenas de milhares de milhões de nayutas de areias do Ganges, cada um pregando a lei, se tinham reunido aí. E pouco a pouco os Buddhas das dez direcções foram chegando e reuniram-se desta forma sendo acomodados nas oito direcções. Nesta altura cada uma das direcções estava repleta de Buddhas, Tathagatas, e quatrocentas dezenas de milhares de milhões de nayutas de terras.
Nessa altura os Buddhas, cada um sentado sob uma das árvores de jóias, instruíram os seus assistentes no sentido de irem saudar o Buddha Shakyamuni. Cada Buddha entregou ao seu assistente um braçado de flores de jóias e disse, “Bom homem, deves ir ao Monte Gridhrakuta ao lugar onde está o Buddha Shakyamuni e falar-lhe segundo as minhas instruções. Diz, “As tuas maleitas são poucas, e poucas as tuas preocupações? De espírito e vigor, estás bem e satisfeito? Estão os bodhisattvas e ouvintes todos bem e em paz?” Então pega nestas flores de jóias e espalha-as sobre o Buddha como uma oferta, e diz, “O Buddha ... deseja participar na abertura desta torre do tesouro.”
Todos os Buddhas instruíram os seus assistentes para falarem desta forma. Nessa altura o Buddha Shakyamuni viu os Buddhas que eram suas emanações todos reunidos, cada um sentado num trono de leão, e ouviu todos esses Buddhas dizerem que desejavam participar na abertura da torre do tesouro. Levantou-se de imediato do seu assento e suspendeu-se em pleno ar. Todos os quatro tipos de crentes se levantaram e, juntando as suas mãos de palmas unidas, fitaram o Buddha com uma só mente.
O Buddha Shakyamuni com os dedos da sua mão direita abriu então a porta da torre dos sete tesouros. Um forte som saiu dela, como o som dos fechos e trancas do portão de uma grande cidade a serem removidos, e de imediato todos os membros da assembleia puderam ver o Buddha Muitos Tesouros sentado num trono de leão dentro da torre de tesouros, o seu corpo inteiro e incorrupto, sentado como se que ocupado em meditação. E ouviram-no dizer, “Excelente, excelente, Buddha Shakyamuni! Falaste este Sutra do Lótus de forma inspirada. Eu vim até aqui por forma a poder ouvir este sutra.”
Então, os quatro tipos de crentes, vendo este Buddha que tinha entrado em extinção há imensuráveis milhares de dezenas de milhares de milhões de kalpas falar desta maneira, maravilharam-se perante o que nunca tinham conhecido antes e pegaram nos montes de flores celestiais e espalharam-nas sobre o Buddha Muitos Tesouros e sobre o Buddha Shakyamuni.
Nessa altura o Buddha Muitos Tesouros ofereceu metade do seu lugar na torre de tesouros ao Buddha Shakyamuni, dizendo, “Buddha Shakyamuni, senta-te aqui!” O Buddha Shakyamuni entrou de imediato na torre e ocupou metade do lugar, sentando-se de pernas cruzadas em posição de lótus.
Nessa altura, os membros da grande assembleia, vendo os dois Tathagatas sentados de pernas cruzadas no trono de leão da torre dos sete tesouros, pensaram, estes Buddhas estão sentados lá longe nas alturas! Se ao menos os Tathagatas empregassem os seus poderes transcendentais para nos permitir juntarmo-nos a eles no ar!
De imediato, o Buddha Shakyamuni usou os seus poderes transcendentais para elevar no ar os membros da grande assembleia. E, com uma potente voz, dirigiu-se aos quatro tipos de crentes, dizendo, “Quem é capaz de pregar cabalmente o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa neste mundo Saha? Agora é o momento de o fazer, porque antes do Tathagata entrar no nirvana, o Buddha quer confiar este Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa a alguém de modo a que possa ser preservado.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Este senhor sagrado, este Honrado Pelo Mundo, apesar de ter entrado em extinção há muito tempo atrás, senta-se ainda na torre do tesouro, vindo até aqui em prol da Lei.Porque é que então vocês não lutam igualmente pelo bem da Lei?Este Buddha passou à extinção há um interminável número de kalpas atrás, mas em muitos lugares ele vai ouvir a Lei porque essas oportunidades são raras de encontrar.O Buddha, originalmente, fez um voto, dizendo, “Após eu ter entrado em extinção, onde quer que eu vá, em qualquer lugar, o meu intuito constante será ouvir a Lei!”Além disso, estas emanações do meu corpo, Buddhas imensuráveis em número como as areias do Ganges, vieram até aqui, desejando ouvir a Lei, e poderem assim ver o Tathagata Muitos Tesouros que passou à extinção.
Cada um abandonou as suas terras maravilhosas, bem como as suas multidões de discípulos, os seres celestiais e humanos, dragões e espíritos e as ofertas que tinha recebido, e veio para este lugar com o propósito de garantir que a Lei perdurará por muito tempo.De modo a sentar estes Buddhas eu empreguei poderes transcendentais, deslocando imensuráveis multidões, tornando as terras limpas e puras, conduzindo cada um destes Buddhas até à base de uma árvore de jóias, adornada como as flores de lótus adornam um lago claro e fresco.Sob estas árvores de jóias estão tronos de leão, e os Buddhas sentam-se neles, adornando-os com o seu brilho como uma grande tocha ardente na escuridão da noite.Os seus corpos exalam um maravilhoso incenso, que penetra nas terras das dez direcções.Os seres viventes são capturados pelo aroma, incapazes de refrear a sua alegria, como se um grande vento agitasse os ramos de pequenas árvores.Através destes meios expeditos eles garantem que a lei perdurará por muito tempo.Assim, eu digo à assembleia:Após eu ter passado à extinção, quem poderá receber e guardar, ler e recitar este sutra?Agora na presença do Buddha, deixai-o aproximar-se e dizer o seu voto!Este Buddha Muitos Tesouros, ainda que se tenha extinguido há muito tempo atrás, devido ao seu grande voto, ruge o rugido do leão.
Buddha Muitos Tesouros, eu próprio, e estas Buddhas emanações que aqui se reuniram, sabemos que este é o nosso objectivo.Ó filhos de Buddha, quem poderá guardar a Lei?
Deixai-o fazer um grande voto para garantir que ela perdurará por muito tempo!Aquele que for capaz de guardar a Lei deste sutra terá desse modo oferecido esmolasa mim e ao Buddha Muitos Tesouros.Este Buddha Muitos tesouros viaja constantemente através das dez direcções pelo bem deste sutra.Aquele que guardar este sutra terá também oferecido esmolas às emanações Búddhicas que vieram até aqui adornando e tornando brilhantes todos os vários mundos.Se alguém pregar este sutra,será capaz de me ver, de ver o Buddha Muitos Tesouros e de ver estas emanações Búddhicas.Todos vós, bons homens, deveis considerar cuidadosamente!Este é um assunto difícil - é apropriado que façais um grande voto.Os outros sutras são numerosos como as areias do Ganges, mas ainda que expusésseis todos esses sutras, isso não seria comparável em dificuldade.Se fosseis a medir o Monte Sumeru e a arremessá-lo para longe, para as imensuráveis terras Búddhicas,isso também não seria difícil.Se usásseis o dedo do vosso pé para mover um universo, chutando-o para terras longínquas, isso também não seria difícil.Se permanecêsseis no paraíso Cume do Ser e pelo bem da assembleia, pregásseis incontáveis outros sutras, isso também não seria difícil.Mas se após o Buddha se ter extinguido, no tempo do mal, puderes pregar este sutra, isso será realmente difícil!Se existisse uma pessoa que pegasse no céu com a sua mão e andasse às voltas com ele, isso não seria difícil.Mas se após eu me ter extinguido alguém conseguir copiar e abraçar este sutra, isso será difícil realmente!Se alguém pegar na grande terra, a colocar na unha do seu dedo e ascender com ela ao paraíso Brahma, isso não será difícil.Mas se após o Buddha se ter extinguido, no tempo do mal, alguém, ainda que por um instante, ler este sutra, isso será realmente difícil!Se, quando vier o fogo no final do kalpa, alguém carregar erva seca às costas, e entrar no fogo sem se queimar, isso não será difícil.Mas se após eu me ter extinguido, se alguém puder abraçar este sutra e pregá-lo mesmo que para apenas uma pessoa, isso será realmente difícil!Se alguém viesse a abraçar este repositório de oitenta e quatro mil doutrinas, de doze divisões de sutras, e o expusesse a outros, fazendo os ouvintes adquirir os seis poderes transcendentais - ainda que alguém pudesse fazer isso, isso não seria difícil.Mas se após eu me ter extinguido, alguém puder aceitar este sutra e perguntar pelo seu significado,isso será realmente difícil!Se alguém expõe a Lei, possibilitando a milhares, dezenas de milhares, milhões, um imensurável número de seres viventes, igual ao das areias do Ganges, tornar-se arhats dotados dos seis poderes transcendentais - ainda que alguém possa conferir tais benefícios, isso não será difícil.Mas após eu me ter extinguido, se alguém puder honrar e promover um sutra como este, isso será realmente difícil!Em prol do caminho do Buddhado em imensuráveis números de terras desde o princípio até agora, eu preguei largamente muitos sutras, e de entre eles, este sutra é o principal.Se alguém consegue sustentá-lo, estará sustentando o corpo de Buddha.De todos vocês, bons homens, depois de eu me ter extinguido, quem pode aceitar e promover este sutra?Agora na presença do Buddha, deixai-o aproximar-se e fazer o seu voto!Este sutra é difícil de sustentar; se alguém o fizer mesmo que durante um curto período eu seguramente rejubilarei assim como os outros Buddhas.Uma pessoa capaz disto ganha a admiração dos Buddhas.É a isto que eu chamo valor, é a isto que eu chamo diligência.É a isto que eu chamo observar os preceitos e praticar dhuta.Desta forma pode ser alcançada rapidamente a via do Buddhado.E se em existências futuras alguém puder ler e sustentar este sutra, será um verdadeiro filho do Buddha, residindo numa terra imaculada e boa.Se após o Buddha ter passado à extinção alguém compreender o sentido deste sutra, ele será os olhos do mundo para os seres celestiais e humanos.Se nessa era temível alguém puder pregar este sutra ainda que por apenas um momento, ele merecerá receber esmolas de todos os seres celestiais e humanos.
Capítulo Doze: Devadatta
Nessa altura o Buddha dirigiu-se aos bodhisattvas, aos seres celestiais e humanos e aos quatro tipos de crentes, dizendo: “Há imensuráveis kalpas no passado, eu procurei o Sutra do Lótus sem nunca esmorecer. Durante esses muitos kalpas, eu apareci constantemente como o governante de um reino que fizera o voto de buscar a bodhi insuperável. A sua mente nunca vacilava ou desistia, e no seu desejo de completar os seis paramitas ele diligentemente distribuía esmolas, nunca regateando em seu coração, quer a dádiva fosse elefantes ou cavalos, os sete artigos raros, países, cidades, mulher, filhos, servos, ou a sua própria cabeça, olhos, medula, cérebro, a sua própria pele ou membros. Ele não regateava sequer a sua própria vida. Nessa altura a vida humana era imensuravelmente longa. Mas em prol da Lei este rei abandonou o seu reino e trono, delegando o governo no seu príncipe herdeiro, fazendo soar tambores e enviando proclamações, procurando a Lei nas quatro direcções e dizendo, “Quem pode expor para mim o Grande Veículo? Até ao fim dos meus dias eu seria o seu provedor e servo!”
“Nessa altura existia um vidente que foi ter com o rei e disse, “Eu tenho um texto do Grande Veículo chamado Sutra da Lei Maravilhosa. Se nunca me desobedeceres, eu expô-lo-ei para ti.” Quando o rei ouviu estas palavras do vidente dançou de alegria. De imediato ele acompanhou o vidente, providenciando tudo o que ele desejasse, apanhando fruta, buscando água, tratando do fogo, preparando as refeições, oferecendo mesmo o seu corpo como colchão ou assento, nunca se poupando em corpo ou mente. Ele serviu o vidente desta forma durante quinhentos anos, tudo em prol da Lei, trabalhando diligentemente como assistente do vidente e velando para que nada lhe faltasse.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Recordo esses idos kalpas do passadoquando por forma a procurar a grande Lei, apesar de eu ser o governante de um reino, não estava ávido de satisfazer os cinco desejos mas antes tocava o sino, anunciando pelas quatro direcções, “Quem possui a grande Lei? Se alguém a explicar e pregar para mim eu serei o seu escravo e servo!”Nessa altura existia um vidente chamado Asita que veio e anunciou a este grande Rei, “Eu tenho uma Lei subtil e maravilhosa, raramente conhecida neste mundo. Se levares a cabo práticas religiosas eu poderei expô-la para ti.”Quando o rei ouviu as palavras do vidente o seu coração estava cheio de grande alegria.Imediatamente ele acompanhou o vidente, fornecendo-lhe tudo o que ele precisasse, recolhendo lenha, frutas, arroz selvagem, apresentando-lhe tudo nas ocasiões apropriadas com respeito e reverência.Porque os seus pensamentos estavam na Lei Maravilhosa ele nunca esmorecia de corpo ou mente.Pelo bem de todos os seres viventes ele diligentemente procurava a grande Lei, sem prestar atenção a si próprio ou à gratificação dos cinco desejos.Assim o governante de um grande reino através de busca diligente foi capaz de adquirir esta Lei e eventualmente de atingir o Buddhado, tal como eu agora exporei para vocês.
O Buddha disse aos seus monges: “O rei, nessa altura, era eu, e este vidente era o homem que é agora Devadatta. Apenas porque Devadatta foi um bom amigo para mim, eu fui capaz de me dotar com os seis paramitas, piedade, compaixão, alegria e equanimidade, com os trinta e dois sinais distintivos, as oitenta características, a cor púrpura dourada, os dez poderes, os quatro tipos de destemores, os quatro métodos de conquistar as pessoas, as dezoito propriedades exclusivas, os poderes transcendentais e o poder da via. O facto de eu ter alcançado a iluminação correcta e imparcial e poder salvar seres viventes em larga escala é devido a Devadatta, que foi para mim um bom amigo.”
Então o Buddha disse aos quatro tipos de crentes: “Devadatta, depois de terem passado imensuráveis kalpas, atingirá o Buddhado. Ele será chamado Tathagata Rei Celestial(Devarâga), digno de ofertas, de conhecimento recto e universal, de perfeita conduta e claridade, bem-aventurado, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. O seu mundo será chamado via celestial, e o Buddha Rei Celestial residirá no mundo durante vinte kalpas médios, pregando largamente a Lei Maravilhosa pelo bem dos seres viventes. Seres viventes numerosos como as areias do Ganges alcançarão o fruto do estado de arhat. Imensuráveis números de seres viventes conceberão o desejo de se tornarem pratyekabuddhas, seres viventes numerosos como as areias do Ganges conceberão o desejo pela via insuperável, ganharão o fruto de não mais renascerem, e por isso não retornarão. Após o Buddha Rei Celestial entrar no parinirvana, a sua Lei Correcta perdurará no mundo durante vinte kalpas médios. As relíquias do seu corpo serão guardadas numa torre construída com os sete tesouros, com sessenta yojanas de altura e sessenta yojanas de comprimento e largura. Todos os seres celestiais e humanos escolherão flores variadas, incenso em pó ou em pasta, roupas, colares, estandartes e bandeiras, palanquins de jóias, músicas e canções de louvor para oferecerem como sinal de reverência à torre de sete tesouros. Imensuráveis números de seres viventes alcançarão os frutos do estado de arhat, numerosos seres viventes alcançarão a iluminação como pratyekabuddhas e um inimaginável número de seres viventes conceberão o desejo por bodhi e atingirão o nível de não retorno.”
O Buddha disse aos seus monges: “Em eras futuras, se existirem bons homens e boas mulheres que, ao ouvirem o capítulo Devadatta do Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa, acreditarem nele e o reverenciarem com corações puros, sem darem lugar a dúvidas ou perplexidades, eles nunca cairão no inferno ou no reino dos espíritos esfomeados ou das bestas, mas nascerão na presença de Buddhas das dez direcções, e no lugar em que nascerem ouvirão constantemente este sutra. Se eles nascerem entre seres humanos ou celestiais, gozarão maravilhosos e inexcedíveis deleites, e se nascerem na presença do Buddha, nascerão de transformação a partir de flores de lótus.”
Nessa altura existia um bodhisattva que estava entre os seguidores do Honrado Pelo Mundo Muitos Tesouros da região inferior e cujo nome era Sabedoria Acumulada(Pragñâkûta). Ele disse ao Buddha Muitos tesouros, ”Devemos voltar agora para a nossa terra natal?”
O Buddha Shakyamuni disse a Sabedoria Acumulada, “Bom homem, espera um pouco mais. Existe aqui um Bodhisattva chamado Manjushri que devias ver. Debate e discute a Lei maravilhosa com ele, e depois podes retornar à tua terra natal.”
Nessa altura Manjushri estava sentado numa flor de lótus de mil pétalas, grande como uma roda de carruagem, e os bodhisattvas que tinham vindo com ele também estavam sentados em lótus de jóias. Manjushri tinha emergido de forma natural do palácio do rei dragão Sagara no grande oceano e estava suspenso no ar. Prosseguindo para o Pico Sagrado da Águia, ele desceu da flor de lótus e, tendo chegado à presença dos Buddhas, inclinou a sua cabeça e prestou obediência aos pés dos dois Honrados Pelo Mundo. Quando ele concluiu esses gestos de respeito, dirigiu-se para onde estava Sabedoria Acumulada e trocou com ele cumprimentos, após o que se retirou, sentando-se a um lado.
O Bodhisattva Sabedoria Acumulada questionou Manjushri, dizendo, “Quando foste ao palácio do rei Dragão , quantos seres viventes convertes-te?”
Manjushri respondeu, “O número é imensurável, impossível de calcular. A boca não o consegue exprimir, a mente não consegue imaginar. Espera um momento e aparecerá a prova.”
Antes que ele acabasse de falar, incontáveis bodhisattvas sentados em flores de lótus de jóias, emergiram do oceano e prosseguiram para o Pico Sagrado da Águia, onde permaneceram suspensos no ar. Estes bodhisattvas tinham sido todos convertidos por Manjushri. Tinham levado a cabo todas as práticas do bodhisattva e discutido e exposto os seis paramitas entre si. Aqueles que originalmente tinham sido ouvintes expunham as práticas do ouvinte enquanto estavam no ar, mas agora todos estavam a praticar o princípio da vacuidade pertencente ao Grande Veículo.
Manjushri disse a Sabedoria Acumulada, “O trabalho de ensino e conversão levado a cabo no oceano foi tal como podes ver.”
Nessa altura Sabedoria Acumulada recitou estes versos de louvor:
De grande virtude e sabedoria, bravo e forte, tu convertes-te e salvas-te imensuráveis seres.Agora todos nesta grande assembleia, assim como eu próprio, vimos esses seres.Tu expões o princípio da verdadeira entidade, abres a Lei do veículo único, guiando largamente os muitos seres, fazendo-os atingir bodhi rapidamente.
Manjushri disse, “Quando eu estava no oceano expunha constantemente apenas o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa.”
Sabedoria Acumulada questionou Manjushri, dizendo, “Este sutra é profundo, subtil e maravilhoso, um tesouro entre os sutras, uma raridade no mundo. Existe porventura algum ser vivente que, praticando este sutra esforçada e diligentemente, tenha sido capaz de atingir rapidamente o Buddhado?”
Manjushri respondeu, “Existe a filha do rei dragão Sagara, que acabara de fazer oito anos. A sua sabedoria tinha raízes apuradas e ela era boa na compreensão das actividades e dos seres viventes. Ela alcançou a mestria nos dharanis e foi capaz de aceitar e abraçar todo o repositório dos profundos segredos pregados pelos Buddhas, entrou profundamente na meditação, compreendendo cabalmente as doutrinas, e no espaço de um instante concebeu o desejo por bodhi e atingiu o estado de não regressão. A sua eloquência não conhece impedimentos e ela pensa nos seres viventes com compaixão como se fossem seus filhos. Ela está completamente dotada de bênçãos, e quando se trata de conceber mentalmente e expor oralmente ela é subtil, maravilhosa, abrangente e grande. Suave, compassiva, benevolente, frutuosa, ela é gentil e refinada na intenção, capaz de alcançar bodhi.”
O Bodhisattva Sabedoria Acumulada disse, “Quando vejo o Tathagata Shakyamuni Buddha, constato que durante inumeráveis kalpas ele levou a cabo práticas duras e difíceis, acumulando mérito, erigindo a virtude, procurando a via do bodhisattva sem nunca descansar. Observo que através do vasto universo não existe um único ponto, mesmo que pequeno como uma semente de mostarda, onde este bodhisattva não tenha sacrificado o corpo e a vida em prol dos seres viventes. Apenas depois de tudo isto foi ele capaz de completar a via de bodhi. Não consigo acreditar que essa rapariga, no espaço de um instante, possa realmente atingir a correcta iluminação.”
Antes que as suas palavras chegassem ao fim, a filha do rei dragão apareceu subitamente perante o Buddha, inclinou sua cabeça em obediência e então retirou-se para um lado recitando estes versos de louvor:
Ele compreende profundamente os sinais da culpa e da boa fortuna e ilumina todos os lugares pelas dez direcções.O seu subtil e maravilhoso corpo do Dharma é dotado dos trinta e dois sinais distintivos; as oito características adornam o seu corpo do Dharma.Seres celestiais e humanos fitam-no em adoração, dragões e espíritos, todos lhe prestam honras e respeito; entre todos os seres viventes, nenhum deixa de lhe guardar reverência.Tendo ouvido os seus ensinamentos atingi bodhi - apenas o Buddha pode dar testemunho disto.Eu exponho as doutrinas do Grande Veículo para resgatar os seres viventes do sofrimento.
Nessa altura, Shariputra disse à rapariga dragão, “Tu supões que neste curto espaço de tempo foste capaz de alcançar a via insuperável. Mas isso é difícil de acreditar. Porquê? Porque um corpo de mulher é sujo e impuro, não é um vaso apropriado para a via. Como podes ter alcançado a insuperável bodhi? O caminho para o Buddhado é longo. Apenas depois de durante imensuráveis kalpas ter passado austeridades, acumulado méritos, praticado todos os tipos de paramitas, pode alguém alcançar finalmente o sucesso. Além do mais, a mulher está sujeita aos cinco obstáculos. Primeiro, ela não pode tornar-se um rei celestial Brahma. Segundo, não pode tornar-se um rei Shakra. Terceiro, ela não pode tornar-se um rei demónio. Quarto, ela não pode tornar-se um rei Sábio. Quinto, ela não pode tornar-se um Buddha. Como é então possível que uma mulher como tu tenha sido capaz de alcançar o Buddhado tão depressa?”
Nessa altura a rapariga dragão tinha uma jóia preciosa, no valor de todo um universo, que ela ofertou ao Buddha. O Buddha aceitou-a prontamente. A rapariga dragão disse ao bodhisattva Sabedoria Acumulada e ao venerável Shariputra, “Eu apresentei a preciosa jóia e o Honrado Pelo Mundo aceitou-a - isso não foi feito depressa?”
Eles responderam, “Sim, muito depressa!”
A rapariga disse então, “empreguem os vossos poderes sobrenaturais e vejam-me atingir o Buddhado. Será ainda mais rápido do que isso!”
Então, todos os membros da assembleia viram a rapariga dragão no espaço de um instante, transformar-se num homem e levar a cabo todas as práticas de um bodhisattva, prosseguir de imediato para o Mundo Impoluto(Vimala) do Sul, sentar-se num lótus de jóias e atingir a iluminação imparcial e correcta. Com as trinta e duas marcas e as dezoito características, ele expôs a maravilhosa Lei para todos os seres viventes nas dez direcções.
Nessa altura, no mundo Sacha, os bodhisattvas, ouvintes, deuses, dragões e outros dos oito tipos de guardiões, seres humanos e não humanos, viram todos à distância a rapariga dragão tornar-se um Buddha e pregar a Lei a todos os seres celestiais e humanos na assembleia. Os seus corações encheram-se de grande alegria e todos ao longe prestaram-lhe obediência reverênte. Imensuráveis seres viventes, ouvindo a Lei, compreenderam-na e foram capazes de alcançar o estado de não regressão. O Mundo Impoluto estremeceu e tremeu de seis maneiras diferentes. Três milhares de seres viventes do mundo Saha permaneceram no estado de não regressão. Três milhares de seres viventes conceberam o desejo por bodhi e receberam profecias de iluminação. O Bodhisattva Sabedoria Acumulada, Shariputra e todos os outros membros da assembleia acreditaram silenciosamente e aceitaram estas coisas.

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